Pub.
Opinião
Tendência

A posição geoestratégica de Cabo Verde

Pub.

Cabo verde está no mapa. Literal e estrategicamente. Localizado no meio do Atlântico, entre três continentes (África, América e Europa), o arquipélago é mais do que um ponto turístico: é um nó geoestratégico com potenciais a explorar e transformar em desenvolvimento real.

  1. O lugar de Cabo Verde no mundo multipolar 

Com o reposicionamento de alianças globais, o aumento da competição entre grandes potências e a valorização crescente das rotas marítimas e aéreas seguras, Cabo Verde ganha relevância.

Publicidade

Num mundo onde os EUA, China, Rússia, Europa e potências emergentes disputam influência, o país tem algo que poucos têm: confiança internacional, estabilidade política e localização privilegiada.

Mas essa vantagem tem que ser trabalhada. O arquipélago pode ser:

Publicidade

        • Um hub logístico e portuário atlântico;

        • Um centro de ligação transcontinental para telecomunicações e dados;

Publicidade

        • Uma base regional para monitorização ambiental e segurança marítima.

2. Segurança marítima, defesa e soberania

O controlo e a vigilância da vasta Zona Económica Exclusiva (ZEE) cabo-verdiana, dez vezes maior que o território terrestre, continuam frágeis. A pirataria, a pesca ilegal, o tráfico de droga e a migração irregular exigem uma presença mais ativa e tecnologias modernas.

➡ Parcerias com os EUA, União Europeia, Portugal, Brasil e países da CEDEAO devem ser reforçadas, mas com estratégia clara e salvaguarda dos interesses nacionais.

➡ O país pode servir como plataforma para cooperação em defesa atlântica, como já começa a acontecer com exercícios conjuntos e missões de observação.

3. Economia azul, logística e conetividade 

A localização privilegiada deve também ser potencializada economicamente, com investimentos em:

        • Portos modernos e interligados (ex: Porto da Praia como hub de transbordo);

        • Logística marítima inter-ilhas, para reduzir custos e integrar o mercado interno;

        • Conectividade digital internacional, com cabos submarinos, data centers e estações de aterragem para redes globais.

➡ Países como Singapura e Panamá souberam transformar a sua geografia em ativo estratégico. Cabo Verde pode e deve seguir esse caminho, adaptado à sua escala.

4. Diplomacia atlântica e voz internacional

O arquipélago tem legitimidade para desempenhar um papel diplomático relevante:

        • Como ponte entre continentes, culturas e modelos de desenvolvimento;

        • Como voz africana moderada e democrática em espaços multilaterais;

        • Como facilitador de diálogo sobre clima, migração e segurança global.

Mas, para isso, precisa de corpo diplomático técnico, preparado e representações estratégicas no exterior.

Conclusão

A posição de Cabo Verde é uma dádiva. Mas só trará frutos se for acompanhada de visão e preparação.

Não se trata apenas de receber mais navios ou cabos de dados. Trata-se de colocar Cabo Verde no centro de decisões globais, com inteligência, diplomacia e defesa dos seus interesses soberanos.

A geografia favorece. Mas é a estratégia que transforma.”

Votos de uma excelente e santa semana.

Respeitosamente, 

Christian Lopes

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo