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A Poética de Jorge Humberto 

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Para Aristóteles, na sua obra “De Poetica”, a música tem um caráter racional e harmónico à semelhança das relações numéricas que reinam no universo. Não há separação entre música e poesia. Para este filósofo do século IV aC, toda a arte é imitação primordial (não imita a vida), e a música deve ser uma parte fundamental da educação dos cidadãos. 

Por: João Henrique Delgado da Cruz

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A música despoleta ou suaviza as paixões e pode moralizar a sociedade. A polis necessita da música, uma vez que a estabilidade política depende da estabilidade moral dos cidadãos. É uma forma de conhecimento, imita as paixões na sua forma natural, pois, tem uma origem acústica. Não representa as paixões, ela as reproduz. 

A palavra também tem origem acústica, portanto é música na sua essência.

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A poesia imita através da linguagem, ou seja, além dos signos musicais, considerados naturais, podem sobrepor-se outros signos através da linguagem verbal.

A propósito desta acústica harmónica da música com palavras, publico aqui um texto do poeta Jorge Humberto, do melhor que se tem escrito de poesia/música em Cabo Verde. Um poeta da identidade emocional popular.

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A poética de Jorge Humberto faz parte de um esboço de artigo sobre a poesia/música deste poeta mindelense. A simbiose entre a música e a letra é de uma harmonia brilhante.

O objetivo do trabalho é dar a conhecer a profundidade deste autor, que tarda em ser reconhecido. 

Jorge Humberto é um poeta. A sua genialidade assemelha-se aos grandes do mundo. 

Chegou a hora de reconhecer os nossos poetas/músicos como tem feito as academias com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan e o Prémio Camões a Chico Buarque, num regresso à origem, A Poética de Aristóteles.

NOVO OLHAR

Ainda bem

Se for assim, medjôr ainda

Nha graça ca ta caba

Ca ta perdê tempe

Se for assim

Ainda bem medjôr ainda

Procura tem mais manêra

D’incontra tempe

Se ternura na camin

Atê nhaurora admira

Mar ja ca ta tchorame

Nem sodade já ca ta matame

Se na mais oio

Novo olhar mais certeza

Se inspirode um confiança

Que gente ca ta lembra

Se Rbêra Bôte

Monte Sossego, meio de Morada

Se tchada além

Tchada li, tchada lá

Se ternura na camin

Atê nhaurora admira

Mar ja ca ta tchorame

Nem sodade ja ca ta matam

(transcrição de Humberto Ramos)

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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