“Nós temos de dizer a verdade às pessoas…” – Pedro Pires
Nelson Faria
Vivemos numa era paradoxal, pois nunca tivemos tanta informação, e nunca foi tão difícil distinguir a verdade da ficção. Vivemos numa época em que a comunicação se confunde demasiadas vezes com uma maquilhagem cuidadosamente aplicada sobre realidades. Assistimos a peças de marketing político e a campanhas continuadas de atores governativos com ar de espetáculo, mas, no fundo, sem substância. É nesse contexto que é enquadrável um trecho das recentes palavras proferidas pelo Comandante /Presidente Pedro Pires que devemos ter sempre presente: “Nós temos de dizer a verdade às pessoas, é com a verdade que as convencemos. Não é com propaganda. É responsabilizando as pessoas. E só responsabilizando as pessoas que dizemos: a verdade é essa, vamos trabalhar juntos.”
Esta passagem, aparentemente simples e de fácil assimilação de todos, é uma recomendação certeira no alicerce do discurso público, quando o vemos a empobrecer. Assistimos diariamente, cada vez mais agudizada com o aproximar da época eleitoral, a um espetáculo de propaganda travestida de comunicação, ilusões do governo vendidas como conquistas, e líderes que transformam discursos vazios em monumentos de retórica. Tudo cosmética. Tudo superficial. Tudo menos responsabilidade.
A propaganda não convence pela razão, apenas seduz momentaneamente pela emoção fácil ou pelo efeito visual da cosmética. Cria narrativas edulcoradas, inimigos fabricados, recria promessas não realizadas. É o reino do parecer sobre o ser. Quando a propaganda e a mentira se tornam regras, a desesperança é a nova epidemia. Basta ver à nossa volta.
Contrariamente, a verdade, por vezes dura, por vezes incómoda, é o único alicerce capaz de gerar confiança genuína. Dizer a verdade implica partilhar dados difíceis, falar de volatilidades, reconhecer erros, expor atrasos e derrapagens em projetos, admitir fragilidades institucionais. Esse tipo de comunicação pode chocar inicialmente, mas é também o que abre portas ao envolvimento real. Quando somos informados sem filtros, sentimo-nos respeitados como cidadãos adultos, capazes de contribuir com ideias e de assumir desafios coletivos. Restaurar a verdade como alicerce é o primeiro passo para reconstruir pontes partidas, entre governantes e governados, entre o discurso e a ação, entre o presente e o futuro.
Precisamos de passar para um tempo onde as pessoas e os políticos devem ser responsabilizados além das urnas. Responsabilizar no sentido de convidar cada um a participar, assumir, definir metas claras e prestar contas dos resultados alcançados e não alcançados. Responsabilizar não é culpar, é reconhecer a nossa humanidade no ato de fazer as coisas, com acertos e erros. É assumir que os desafios são nossos e só nós os resolveremos, mesmo que não conseguindo na plenitude, muito menos a responsabilidade indica seguir o caminho da maquiagem comunicativa, a propaganda, para fugir da verdade. A propaganda infantiliza as pessoas e a verdade emancipa pelo apelo que faz a responsabilidade.
Responsabilizar, não para punir, mas para emancipar. Responsabilizar para, acima de tudo, reconhecer que só com trabalho conjunto, de todos juntos, de olhos e peito abertos para a realidade, poderemos enfrentar os monstros, os nossos desafios, que temos e criamos. Este tempo exige líderes responsáveis que não temem a maturidade do povo, e cidadãos que exijam transparência como direito inegociável.
Numa era dominada por propagandas vistosas é importante sabermos escolher o caminho mais exigente, o da verdade e da responsabilidade compartilhada. Como nos lembra Pedro Pires, não é com artifícios nem com campanhas de cosmética política que convencemos, é com a coragem de revelar a verdade, por mais dura que seja, e com o convite claro: “vamos trabalhar juntos”. Só assim as promessas podem ser transformadas em resultados concretos, só assim pode ser fortalecido o tecido social e democrático da nossa nação. A hora da coragem é agora.