Tomilson Neves
No PAICV, a política é tão imprevisível quanto uma nuvem de cinzas que aparece do nada. E quem acha que a situação já está definida, bem… melhor começar a guardar o cartaz de “futuro líder” porque as cartas ainda estão todas na mesa e, sinceramente, quem sabe o que o amanhã nos reserva?
A vitória do PAICV nas autárquicas de 1 de dezembro de 2024 vem desenhando um crescimento dos autarcas da ilha do vulcão. O autarca de São Felipe, Nuías Silva, após renovar seu mandato no município, e com o atual presidente do PAICV, Rui Semedo, “lançando a toalha ao chão”, demonstrou a sua disponibilidade para avançar para a liderança do partido, onde confrontará como principal rosto, Francisco de Carvalho, atual presidente da Câmara Municipal da Praia.
A corrida está a mil por hora, e a “deselegância” reina entre aqueles que se dizem ser a solução para o país. Alguns não suportam uma opinião divergente e partem diretamente para bloqueios nas redes sociais. (Imaginem só os bloqueios se esse indivíduo chegar ao terceiro órgão da nossa soberania? É de arrepiar!). Vindo de quem chama a academia do seu partido de “Zero” não é de se estranhar. No fundo, o pior é estar em plena campanha para eleições internas e não ter noção de certos detalhes, a ponto de fazer promessas enviesadas, tais como: avião a 5 mil escudos, barco a 500 escudos, universidade pública gratuita, consultas gratuitas, e as que o público não tem o Estado paga no privado e TAC gratuito. Isso virou motivo de chacota, até dentro do próprio partido. Com “camaradas” desses, quem precisa de inimigos? A demagogia e o populismo parecem não ter limites.
Voltando à ilha do Fogo, vejamos bem: Nuías Silva aparentemente abandonou São Felipe à sua sorte desde o momento em que se declarou como candidato à presidência do PAICV. As autárquicas, por mais que tenham sido importantes, parecem ter sido uma espécie de “jogo de videogame”, onde o objetivo não é o nível atual, mas o próximo — que tem um sabor de vitória ainda distante. A sua campanha percorre todo o país, fazendo contatos e angariando apoios. Imagino que esteja usando como meio de transporte “uma gaivota”, porque em todos os palcos que sobe, o setor de transportes entre as ilhas é pintado de negro, como se fosse a única coisa que importa. Este, que viaja de um lado para o outro, tentando chegar à liderança do partido e, consequentemente, candidato a Primeiro-ministro.
Ele tem se auto proclamado como o grande “unificador”, aquele que trará a tão necessária união ao PAICV, apontando as diversas sensibilidades dentro do partido. O problema, meus amigos, é que, segundo os críticos da sua ilha, ele não consegue nem ser exemplo dentro do próprio município. Ele apresenta um semblante que parece mais o cantar da música que os cabo-verdianos querem ouvir, mas que na verdade não reflete a realidade do mundo de hoje.
A eleição para a presidência da ANMCV: Fábio Vieira e o “Cheque Mate”
No dia 21 de fevereiro aconteceu o Congresso da ANMCV, Fábio Vieira autarca dos Mosteiros deu um “cheque mate” no seu camarada de São Domingos Isaías Varela, demonstrando uma maior capacidade de movimentar as peças no tabuleiro, fazendo até uso das peças do adversário com uma maestria inesperada. E, pasmem-se, tudo isso à revelia das orientações do partido. Fábio Vieira, com esse posicionamento, provou como uma eleição deve ser feita, mostrando que a ANMCV é um órgão plural e que, graças a ele, continuará a sê-lo.
Dentro do PAICV, as acusações parecem ser um prato servido todos os dias, variando das mais graves às mais elegantes: traidor, oportunista, antissistema, golpista, entre outros epítetos. No fim, para uma eleição de um órgão que representa os municípios em geral, ficou clara a maturidade política e democrática dos homens e das mulheres desse nosso “torão”. Fábio Vieira, com sua vitória histórica, se tornou o primeiro autarca do PAICV a liderar a ANMCV. Uma vitória para ele, mas uma sensação agridoce para outros que queriam impor um candidato, levando-se pela impulsão de escrever textos que mais pareciam imposições do que sugestões. E há quem continue a se auto derrotar, tomando posições que mais tarde se tornam alvo de chacota e gozo no seio dos cabo-verdianos. O mais bizarro seria se essas mágoas se acumulassem até as internas do PAICV e, com isso, afetassem também as próximas legislativas.
A pergunta central: um novo ciclo de ascendência política para Fogo no cenário nacional?
Meus amigos, se vocês acham que estamos apenas começando, é bom se prepararem. Porque, no fundo, a ilha do Fogo pode ser o centro de tudo… ou não. O jogo ainda está no início e, como sempre, qualquer previsão é como tentar adivinhar o futuro de um vulcão — uma hora está calmo, na outra está prestes a entrar em erupção.
No PAICV, a política é tão imprevisível quanto uma nuvem de cinzas que aparece do nada. E quem acha que a situação já está definida, bem… melhor começar a guardar o cartaz de “futuro líder” porque as cartas ainda estão todas na mesa e, sinceramente, quem sabe o que o amanhã nos reserva? Um novo ciclo? Pode ser, mas não se engane: até lá, muito caldo vai ferver. E, se é para ter um novo ciclo político, que o PAICV aprenda com as lições do passado. Caso contrário, vamos continuar a ver promessas vazias e discursos de unidade como água de moringa. E, cá entre nós, ninguém aguenta mais tanta água de moringa.