Green Book foi o vencedor da 91ª edição dos Óscares, que galardoou ainda Bohemian Rhapsody com quatro estatuetas, entre os quais para Rami Malek como melhor actor. Roma levou o prémio como Melhor Filme Estrangeiro, enquanto Olívia Colman ganhou o trófeu de Melhor Actriz a veterana Glenn Close e Spike Lee recebeu o seu primeiro Óscar competitivo, numa cerimónia que em parte falou espanhol, mas também falou de raça e de imigrantes e que dispersou entre o passado e o futuro.
O filme de Peter Farrelly, Green Book, conta a história de Tony Vallelonga, ou Tony Lip. É uma história, co-escrita pelo filho de Tony, Nick Vallelonga, sobre um homem italiano que ultrapassa o seu racismo depois do contacto com um homem negro excepcional, uma tendência frequentemente premiada em Hollywood. “É uma história sobre amor”, disse Farrelly.
Mas já era expectável a vitória de Green Book, que recebeu o prémio da Guilda dos Produtores, que normalmente antecipa a escolha da Academia no mais importante prémio do ano. Roma, filme da Netflix muito elogiado pela crítica, ganhou a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro.
Numa temporada em que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood teve vários problemas na definição da sua noite maior, ela foi rápida e económica. Sem anfitrião, arrancou com uma mini-medley dos Queen com Adam Lambert na voz, que pôs a plateia a cantar rock 80s da banda. Um indício de que a noite podia dar vitória numérica ao filme que foi um sucesso de bilheteira: dois prémios de som, um de montagem e o melhor actor Rami Malek pela sua interpretação de Freddie Mercury.
Malek foi, aliás, o único rosto de Bohemian Rhapsody, depois de o realizador Bryan Singer ter sido despedido e acusado de abuso sexual. O seu nome nunca foi referido na cerimónia, que fez também de Malek símbolo de uma das narrativas da noite: “Fizemos um filme sobre um homem gay, um imigrante, que viveu a sua vida sem desculpas. (…) Sou filho de imigrantes do Egipto e um americano de primeira geração. A minha história está a ser escrita agora”.
Nas últimas semanas, a Academia esforçou-se para tentar passar a ideia de que os Óscares seriam uma celebração de várias culturas e um abraço de Hollywood ao cinema de outros países. Encheu a cerimónia da língua espanhola, pôs-lhe legendas e teve um número recorde de mulheres e negros a subir ao palco dos Óscares para receber prémios.
Primeiro Óscar de Spike Lee
2019 foi o ano em que Spike Lee finalmente venceu um Óscar. O realizador já tinha um Óscar honorário, mas desde 1990 que aguardava por isto. “Já devia ter acontecido antes”, dissera na passadeira vermelha.
Candidato nas categorias de realização e filme, recebeu o prémio que normalmente é entregue a realizadores/autores mais arrojados, o de Argumento, neste caso Argumento Adaptado. Aproveitou o palco para falar de como os negros foram “roubados a África e trazidos para a Virgínia, e escravizados”, para louvar os seus antepassados e para fazer o único apelo político da noite: “A eleição presidencial de 2020 está ao virar da esquina. Vamos todos mobilizar-nos e ficar do lado certo da história. Façam a escolha moral entre amor versus ódio. Do the right thing! Sabem que eu tinha de meter isto”, riu-se.
C/Público.pt