Bento XVI, o Papa Emérito, faleceu neste sábado (31), aos 95 anos, após passar por uma piora repentina de saúde nos últimos dias, conforme notícia avançada pelo Vaticano. O Papa morreu no Mater Ecclesiae, onde vivia desde que abdicou do cargo há quase dez anos. Há vários dias que o seu estado de saúde era considerado grave e irreversível, devido a um problema renal.
Relembra o Dn.pt que no início de fevereiro de 2013, Bento XVI, então com 85 anos, surpreendeu os cardeais, os fiéis e o mundo ao anunciar que, devido a sua idade avançada e saúde frágil, abdicava do cargo. Ao contrário do seu antecessor, João Paulo II, que partilhou com o público a agonia da doença até ao fim, Joseph Aloisius Ratzinger, o Papa alemão, não quis seguir o mesmo caminho. Após vários anos de recato, com poucas aparições públicas.
“Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido a idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando“, justificou na altura.
Acrescentou, todavia, que, num mundo sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito. Vigor este, que admitiu Bento XVI, foi diminuindo de tal modo que precisou reconhecer a sua incapacidade para administrar bem o ministério que lhe foi confiado. “Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro“, disse aos cardeais, em latim, numa reunião que aconteceu no Vaticano.
Embora o discurso oficial do Vaticano seja o da falta de forças para governar, até hoje muito se especula sobre os motivos que levaram à renúncia de Bento XVI. Ele mesmo afirma que a decisão foi tomada após sua viagem ao México, em março de 2012, quando levou uma queda e sentiu o peso da idade em um voo intercontinental. Foi quando percebeu que não seria capaz de ir ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2013.
O momento era difícil para a Igreja Católica: os escândalos do Vatileaks expuseram uma série de problemas na forma como o Vaticano vinha sendo conduzido, entre corrupção, desvios de dinheiro, condutas sexuais contrárias ao ensinamento da Igreja e jogos de poder. Na época, relatos na imprensa internacional mostravam um Papa isolado no Palácio Apostólico, enquanto a Igreja era comandada, na prática, pelo Secretário de Estado, o cardeal Tarciso Bertone – posteriormente envolvido numa polêmica por causa da reforma de seu apartamento de 700 m usando recursos do hospital infantil Bambino Gesù, do Vaticano.
Idoso e pouco popular, Joseph Ratzinger tinha seu poder e influência enfraquecidos. Em vida, ele mesmo reconhecia que a administração não era o seu ponto mais forte e, por isso, delegava boa parte das decisões a pessoas de confiança, como o cardeal Bertone. Em entrevista ao biógrafo Peter Seewald, autor de “O Último Testamento”, Bento XVI garantiu que jamais abandonaria a “barca de Pedro” em mar tortuoso, como pressões externas ou após a traição de alguns colaboradores. Afirmou que já havia solucionado os problemas ligados ao Vatileaks e vivia “no estado de espírito de quem pode passar o leme a quem vem depois”.
Um dos colaboradores mais próximos a ele, o mordomo Paolo Gabriele, foi condenado por ter vazado documentos pessoais do papa ao jornalista Gianluigi Nuzzi. Após prisão e julgamento, Gabriele foi perdoado por Bento XVI e continuou trabalhando no Vaticano, em outras funções. O mordomo dizia que sua intenção era expor os escândalos para ajudar o pontífice. Além dele, ninguém mais foi condenado.
Ratzinger foi sempre uma figura polémica devido as suas posições conservadoras. Nunca escondeu que não concordava com o sacerdócio da mulher e que era contra o matrimónio dos sacerdotes e a homossexualidade. Numa entrevista publicada no livro ‘Luz do Mundo: O Papa, o Mundo e os Sinais dos tempos’, Bento VXI disse ainda que a Igreja não via o uso do preservativo como “uma solução real e moral”.
O cardeal alemão foi eleito Papa a 19 de abril de 2005, quando tinha 78 anos, após a morte do seu antecessor João Paulo II. Joseph Alois Ratzinger escolheu o nome de Bento XVI em homenagem ao Pontífice Bento XV “que guiou a Igreja num período atormentado pelo primeiro conflito mundial”, justificou na época.
C/ Dn.pt, Cm.pt e Globo.com