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Salário de mais de 250 milhões de euros da fundadora da bet365 considerado “pouco sensato e desproporcional”

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O salário da fundadora e diretora da empresa de apostas bet365 no último ano fiscal que terminou a 26 de março de 2023 é descrito por outros empresários como não sendo “sensato ou proporcional”. Denise Coates, a copresidente executiva e acionista maioritária da bet365, ganhou pelo menos 50% de 116 milhões de euros em dividendos, para além do salário de 221 milhões de libras (perto de 257 milhões de euros, segundo as contas da empresa publicadas esta semana.

De acordo com a CNN Portugal, o seu salário base representa um aumento de cerca de nove milhões de euros em relação ao ano anterior, apesar de a bet365 ter registado perdas (antes do cálculo de impostos) de cerca de 60 milhões de libras (70 milhões de euros). As contas da empresa atribuem as perdas a “um aumento significativo dos custos associados à entrada em novos mercados”.

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A dimensão do salário de Coates – que faz dela a britânica mais bem paga do país e um dos diretores executivos mais bem pagos do mundo, segundo a BBC – tem suscitado críticas, sobretudo à luz da crise do custo de vida no Reino Unido. “As pessoas merecem ser recompensadas pela inovação e pelo sucesso, mas há uma questão de sensatez e proporcionalidade”, afirmou à CNN Luke Hildyard, diretor executivo do High Pay Centre, um think tank britânico.

Ninguém se torna multimilionário isolado da sociedade. Neste caso, a riqueza depende do dinheiro que sai dos bolsos dos jogadores, dos esforços de milhares de funcionários e de fatores mais amplos, como o facto de as pessoas terem algum rendimento disponível, uma rede de Internet segura e fiável ou todas as infraestruturas necessárias para a realização de eventos desportivos”, apontou.

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Em última análise, a prosperidade do Reino Unido depende da forma como a riqueza gerada pela economia é partilhada. Acrescentar centenas de milhões de libras às fortunas dos milionários todos os anos não é uma boa forma de maximizar o nível de vida e sobrevaloriza a contribuição dos super-ricos.”

As contas da bet365 mostram que a empresa pagou 100 milhões de libras à Fundação Denise Coates, que distribui fundos para atividades de caridade no Reino Unido e no estrangeiro. A família Coates foi também apontada pelo Sunday Times como a segunda maior contribuinte fiscal do Reino Unido em 2023, com cerca de 460 milhões de libras (535 milhões de euros).

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Segundo a Forbes, que estima o valor de Coates em sete mil milhões de dólares (mais de 6 mil milhões de euros), a empresária de 56 anos comprou o domínio bet365.com em 2000 e lançou o site em 2001. Atualmente, a empresa tem a sua sede na cidade de Stoke-on-Trent, emprega mais de 7.500 pessoas em todo o mundo e atrai mais de 90 milhões de clientes por ano.

O Bet365 Group Limited também é proprietário do Stoke City Football Club, que está no segundo escalão do futebol inglês. No ano passado, o clube registou perdas de 12,4 milhões de libras. Para especialistas, o sucesso da empresa é uma prova do interesse do Reino Unido pelo jogo.

De acordo com a Gambling Commission, o regulador britânico das apostas, 44% dos adultos do país participaram numa atividade de jogos de azar nas últimas quatro semanas do ano até março de 2023. Este informa ainda que a indústria do jogo britânica teve um rendimento bruto total de 15,1 mil milhões de libras (17,5 mil milhões de euros) entre abril de 2022 e março de 2023.

A indústria das apostas, refira-se, é uma das que o governo destaca pelos problemas associados à dependência. Uma analise feita em 2023 pelo governo sobre os danos relacionados com o jogo concluiu que 0,5% da população adulta tem um problema de vício, 3,8% está a jogar em níveis de risco e 7% é afetada negativamente pelo jogo de terceiros.

Já uma análise económica realizada no âmbito do mesmo estudo concluiu que o custo financeiro direto anual excessivo para o governo em relação ao jogo prejudicial é equivalente a 412,9 milhões de libras.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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