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Cuba autoriza manifestação por fim de crueldade contra animais

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Mais de 400 defensores dos animais marcharam mais de 1,5 quilômetro por Havana no domingo, gritando palavras de ordem e pedindo o fim da crueldade contra os animais em Cuba. A marcha escreveu uma linha na história do país. Foi a primeira vez que o governo permitiu uma marcha pública não associada a qualquer parte do abrangente Estado comunista, um movimento que os participantes e historiadores chamam de inusitado e talvez sem precedentes desde os primeiros anos da revolução cubana.

“Eu acho muito inteligente que eles aprovaram a manifestação, ou melhor, marcha”, disse o cantor Sílvio Rodriguez, que critica a rigidez cultural oficial. “Isso faz a gente se sentir otimista. Agora temos que ver se a mesma coisa acontecerá com outras causas.”

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Não há indícios de que Cuba esteja caminhando em direção à liberdade de manifestação irrestrita: o Estado ainda reprime o discurso político contrário com mobilizações policiais rápidas e massivas, prisões e detenções temporárias. Assim, uma marcha de grupos independentes da sociedade civil que buscavam a ação do governo foi um acontecimento notável em um país onde, por quase 60 anos, praticamente todos os aspectos da vida faziam parte de uma única cadeia de comando que terminava em um líder supremo da família Castro.

“É sem precedentes”, disse Alberto Gonzalez, organizador da marcha e editor da The Ark, uma revista on-line cubana de amantes de animais. “Isso vai marcar um antes e um depois.”

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A marcha pelos direitos dos animais foi monitorada por pelo menos duas dúzias de agentes de segurança do Estado, que observavam os participantes de perto, mas não interferiam. Gonzalez disse que autoridades de segurança pediram que ele mantivesse a marcha longe de ruas principais para evitar trânsito.

Com algumas dezenas de participantes passeando com cachorros e até em carrinhos de bebê, a marcha terminou no túmulo de Jeannette Ryder, uma americana que lutou pelos direitos dos animais em Cuba no início do século XX.

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Em um sinal de tensões remanescentes entre o plano oficial e o não-oficial em Cuba, voluntários de grupo de animais apoiados pelo governo boicotaram a marcha de domingo e realizarão seu próprio evento na próxima semana.

Desde a sua fundação, o governo cubano só permitiu a existência do que chama de “sociedade civil legítima” – grupos supervisionados, patrocinados e administrados pelo Estado e pelo Partido. Esses estão sempre presentes nas marchas e manifestações organizadas pelo Estado em feriados públicos.

No outro extremo do espectro estão os dissidentes, muitas vezes conectados a movimentos anti-Castro em Miami, que querem derrubar o governo socialista e reinstalar um sistema capitalista com laços estreitos com Washington. As tentativas de protestos de rua e outras formas de organização desses grupos são quase instantaneamente banidas pelas forças de segurança.

No entanto, desde que Raul Castro entregou a presidência ao tecnocrata Miguel Díaz-Canel, em abril de 2018, igrejas, grupos da sociedade civil e associações de amigos de mentalidade similar têm usado a crescente disponibilidade de Internet em Cuba para organizar várias causas e o governo tem cedido a esses grupos alguma liberdade para operar.

Por exemplo, os artistas reagiram contra uma nova lei que regulava a expressão artística. As igrejas evangélicas incitaram o governo a rescindir uma proposta para legalizar o casamento gay. Milhares de pessoas se organizaram online para obter ajuda às vítimas de um tornado em Havana. O biólogo Ariel Ruiz Urquiola foi libertado da prisão depois de uma campanha online contra sua sentença por “desrespeitar um guarda florestal” durante um movimento mais amplo contra a extração ilegal de madeira e outras violações ambientais no oeste de Cuba.

Também o activismo pelos direitos dos animais se tornou um campo fértil para se organizar em Cuba. Quase todos os bairros têm um ou dois residentes dedicando horas a alimentar, tratar e esterilizar cães e gatos de rua, às vezes com a ajuda de estrangeiros doando suprimentos e fundos.

C/Globo

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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