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Baixa de peso no Carnaval de São Vicente: Anísio Rodrigues e Jotacê anunciam afastamento

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Anísio “Djey” Rodrigues e João Carlos Silva (Jotacê) confirmaram ao Mindelinsite a sua despedida, ainda que parcial, do Carnaval de São Vicente, após um primeiro anúncio nas redes sociais que provocou muitas reações de descrença e também de apoio. Justificam com a necessidade de fazer uma pausa para repensar as suas músicas que, no seu entender, agradam o público mas não o júri. Mas prometem continuar a trabalhar com a Escola de Samba Tropical, grupo que desfila apenas pelo prazer do Carnaval. Trata-se da primeira baixa peso do Carnaval de São Vicente 2024 que, ao que tudo indica, marcará em definitivo um antes e um depois na festa do Rei Mono na ilha. 

Há algum tempo que eu e o Jotacê falávamos na possibilidade de fazer uma pausa. Confirmo que, pelo menos por enquanto, vamos deixar de fazer músicas para os grupos oficiais do Carnaval de São Vicente e que são submetidos à concurso. Mas vamos continuar a escrever temas para a Escola de Samba Tropical. Entendemos que este é o momento certo para dar um tempo e repensar a nossa música, pelo menos até que as regras e os regulamentos do Carnaval sejam alterados”, afirma Anísio Rodrigues, para quem a ideia é, de facto, afastar-se para repensar o trabalho que tem a dupla a fazer. 

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Este “rapazinho de Santo Antão” deixa claro que não ficou chateado e nem triste com a classificação atribuída a composição da dupla para este ano, intitulado ‘EDM Je t’aime’, que ficou em quarto lugar. “Não é uma questão de perder ou ganhar. Entendemos que, talvez, não preenchemos os requisitos exigidos para fazer um samba do carnaval. Ou então, não estamos a fazer os ritmos para os desfiles. Por isso, esta nossa decisão de suspender a nossa participação. Espero que, se algum dia regressarmos, seja em outras condições, ou então temos mudar a nossa forma de compor e interpretar os temas.”

Djey aproveitou para agradecer por tudo o que aprendeu no Carnaval de Mindelo, mas reforça dizendo que é de bom tom retirar-se. Lembra que há mais de uma década estão, repetidamente, a fazer sambas para esta festa. “A primeira vez que fizemos uma música foi por ocasião da celebração dos 25 anos de Samba Tropical, em 2013. Conheci o Jotacê através do Djony do Cavaco, que era o meu companheiro de música. Ele nos levou uma música porque sabia que tinha um pequeno estúdio em casa. Gravei a música com a minha voz, que seria interpretado por Djony, que pertencia a Banda B. A musica ficou interessante, não obstante ainda estar a aprender. Sempre fui curioso na área de produção.”

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Quando foram ouvir a música, diz, o Djony gostou muito e afirmou que ela tinha de ficar com a minha voz. “Acho que gostaram da forma como a música foi trabalhada. No ano seguinte, fizeram uma outra música para Samba, mas não participei porque estava ausente. Mas dois anos depois, em 2015, o Jotacê foi convidado para escrever uma composição para o grupo Cruzeiros do Norte. Foi a nossa primeira música em conjunto e, desde então, mantemos esta parceria. Infelizmente, na altura, não tivemos uma boa qualidade de som e a música não saiu da melhor forma. Foi no Carnaval de verão do mesmo ano que entendi, de verdade, o que era samba de carnaval porque a música foi bem tocada, com uma batucada excelente e tivemos excelente qualidade de som.”

João Carlos Silva (Jotacê)

Segundo Djey, as pessoas ficaram surpreendidas e os parabenizaram pela música. Em 2016, fizeram mais uma música para o Cruzeiros do Norte, que foi também bem aceite. “Apanhamos então o jeito e continuamos e, em 2019, ganhamos o prémio de Melhor Música com ‘Tud ê bada’. Foi uma música que marcou. São mais de doze anos a fazer músicas de forma ininterrupta. Durante este período tivemos glorias com alguns temas e com outros nem por isso. No meu caso, tentei sempre inovar para que as músicas não se repetissem. Tentamos também dar um toque mais terra-a-terra, com cara de São Vicente. Funcionou durante algum tempo, mas agora percebemos que já não funciona.”

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Este músico e compositor admite que foi desmoralizante ver a classificação divulgada pela Liga Independente dos Grupos de Carnaval de São Vicente, que os colocou em último lugar. “Entendemos que a nossa música não está mais a agradar os júris e decidimos dar um tempo para tentar perceber quais são as exigências. Isto porque, do nosso ponto de vista, a nossa música está a funcionar para o grande público. A nossa música é popular. Então é melhor parar e pensar o que temos de fazer para melhorar, ou então aguardar alguma mudança no regulamento do Carnaval”, diz este entrevistado.

É que, defende Anísio Rodrigues, a música deve ser popular e nunca uma cópia dos sambas do Carnaval do Brasil. “O nosso carnaval é único e não precisa de cópia. Temos a nossa música e o nosso ritmo. O estilo musical que mais evolui em Cabo Verde é o do Carnaval, do meu ponto de vista. Tem muitos ritmos em uma única música. Mas já que não está a funciona, então é momento de parar. Mas isso não tem nada de mais, inclusive, repito, esta paragem já vinha sendo equacionado pela dupla”

Enquanto isso, Djey explica que pretende fazer outras coisas na vida e dedicar-se mais à sua família. Por outro lado, afirma, já não reside em São Vicente e, por causa do Carnaval, era obrigado a deslocar à ilha com mais freqüência. Atualmente, diz, tem residência fixa em Santo Antão, mas passa muito tempo no exterior. “Mas o Carnaval é algo que gosto e que já me deu mais alegria na minha vida”, finaliza, deixando entender não ser um adeus definitivo da dupla mas, quiçá, um até já. 

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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