Um voo da TACV proveniente de Lisboa com 60 passageiros, dentre os quais um bebé, aterrou esta tardinha no aeroporto Cesária Évora, marcando a retoma das ligações internacionais da companhia aérea de bandeira com a ilha de S. Vicente. A aeronave tocou a pista instantes antes do tempo previsto, 17 horas e 10 minutos, para satisfação do empresário Idino Évora e de Carlos Salgueiral, administrador Executivo da transportadora.
Abordado pela reportagem do Mindelinsite, Salgueiral salientou o contentamento reinante no seio dos passageiros desse primeiro voo, que foi composto por cerca de 40% de cabo-verdianos. O momento, assegura, marca o início de viagens semanais entre Mindelo e Lisboa, com chegada prevista a S. Vicente às quintas e partida às sextas de manhã. Numa primeira fase, diz o administrador, haverá apenas uma ligação por semana, que pode aumentar consoante a procura. “Vamos iniciar com uma frequência semanal até porque nesta época do ano a procura é um pouco abaixo do ideal. Se a situação justificar, vamos aumentar o número de voos”, diz Carlos Salgueiral.
O “regresso” da TACV à pista do aeroporto Cesária Évora, reconhece Salgueiral, provocou uma nova expectativa no seio das agências de viagem e turismo. Aliás, representantes de sete dessas empresas fizeram questão de ir testemunhar a chegada do avião e demonstrar a sua disponibilidade em assegurar o sucesso dessa operação. Para o administrador executivo da TACV, esse gesto é de saudar. “Ontem estivemos com as agências para lhes demonstrar o nosso empenho em reforçar a operação em S. Vicente. Hoje vieram cá demonstrar que estão dispostas a fazer a sua parte neste processo”, comentou Salgueiral, que assegurou o compromisso da transportadora aérea em tentar cumprir a pontualidade dos voos. Como enfatiza, às vezes ocorrem atrasos, por motivos alheios à empresa, mas até o momento, diz, a CV Airlines tem cumprido.
Ver um avião da TACV voltar a aterrar em S. Vicente, após um interregno de quase cinco anos, é para Idino Évora um sinal de esperança no futuro. O actual director da agência Verde Mundo, que trabalhou na companhia nacional por anos, afirma que esse momento era há muito aguardado pelo mercado mindelense. “Vai trazer-nos novas perspectivas, provocar uma mudança para positiva em todos os aspectos. Temos a esperança de que será uma ligação para continuar e com pontualidade”, almeja esse gestor.
Idino Évora lembra que as agências têm sentido o impacto da pandemia, pelo que agora esperam melhorar o seu volume de negócio com a retoma dos voos da TACV. Este empreendedor assegura toda a disponibilidade dessas empresas em ajudar a companhia aérea a prosperar e poder assegurar a concorrência no mercado cabo-verdiano. Évora lembra que até hoje os voos eram garantidos pela TAP, pelo que conta agora com um equilíbrio nos preços das duas companhias.
TAP e TACV na pista
Por coincidência, os aviões da TAP e da TACV encontraram-se na pista do aeroporto internacional Cesária Évora. Para Salvador Mascarenhas, líder do movimento Sokols-2017, isto é um bom presságio. Significa, na sua opinião, que foi aberta a concorrência e espera que essa realidade tenha impacto nas tarifas praticadas pela transportadora portuguesa.
“A TAP aproveitou o monopólio e aplicou preços proibitivos, mas apenas nos voos para S. Vicente. Vamos ver o que virá para a frente porque temos sofrido bastante com essa situação”, comenta Salvador Mascarenhas, que fez questão de ir aguardar a chegada do voo.
Este activista lembra que o Sokols defendeu sempre a retoma das ligações aéreas com S. Vicente pela TACV e chegou a prometer que iria saudar esse dia quando chegasse. Desse modo, ele e outros membros levaram um pequeno grupo de batucada para animar a chegada dos passageiros a S. Vicente. “Esta retoma devia ter acontecido há mais tempo. A economia de S. Vicente tem sido bastante prejudicada com a ausência desse voo. Hoje podemos dizer que deixamos de estar abandonados e que agora os cabo-verdianos podem viajar a um preço mais justo. O preço de ida e volta no voo de amanhã fica por cerca de 34 contos na TACV. Se fosse na TAP nunca seria inferior aos cem contos”, compara o responsável do Sokols.
Chegado a S. Vicente no voo da TACV, Mick Delgado afirma que pagou 18 contos pelo bilhete de vinda. Para ele isto é excelente, pois pode agora comprar uma passagem por um valor mais em conta. “Se fosse na TAP esse preço seria impensável”, refere, para quem os cabo-verdianos e turistas ficaram bem servidos.
Por seu lado, Manuel Magno, emigrado na Holanda, chegou numa ligação da TAP, que aterrou minutos antes. Este não soube precisar o preço da passagem porque foi comprada pela sua empresa. Mas uma coisa é certa: garante que viajará sempre que possível na companhia de bandeira cabo-verdiana.