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Sociave renova certificados e prepara-se para retoma do turismo

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A Sociave – Sociedade Industrial de Produtos Avícolas SARL, maior produtora de ovos e frangos em Cabo Verde, renovou a sua certificação para referencial de Segurança Alimentar ISO 2200:2005 para ISO 22000:2018, cuja literatura ainda está toda em inglês. O sócio-gerente desta empresa afirma que se trata de um “grande salto” para a Sociave e vai coincidir com a retoma do turismo, que se espera seja em breve.

Segundo o empresário João Santos, ter esta certificação abre as portas à Sociave para um mercado cada vez mais exigente, as grandes cadeias de hotéis, por exemplo. “Ali não se entra de forma nenhuma sem certificação. Já fornecíamos os grandes hotéis, mas esta renovação nos dá mais confiança porque é uma norma nova e mais exigente. Mas também aumenta a confiança do consumidor nacional, que a cada dia torna-se mais exigente. As próprias instituições fiscalizadoras, nomeadamente a IGAE e a Eris, terão também mais confiança nas normas e procedimentos”, explica este gestor.

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É uma “luz” que se vê no final do túnel, segundo Santos, depois de cerca de um ano e meio com grande quebra na faturação. “Com o encerramento dos hotéis, sofremos uma redução na facturação à volta dos 30 por cento. Mesmo assim, não requeremos lay off e nem moratórias. Estamos a operar com dificuldades de tesouraria, o que é normal nesta fase. Por isso é que digo que esta certificação vai ser uma boa carta de visita para a retoma do turismo.”

A Sociave tem 74 trabalhadores directos, e outros tantos indirectos, na sua maioria jornaleiros. São pessoas que, de acordo com Santos, todos os dias estão à porta da empresa à procura de um dia de trabalho, para, por exemplo, descarregar um camião, um contentor ou ainda para a limpeza dos pavilhões.

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“Temos uma responsabilidade social enorme. Mas, como as demais empresas, sofremos com a pandemia. Felizmente somos uma empresa sólida económica e financeiramente, sem dívidas à banca. Mesmo com a redução de 30% na faturação aguentamos bem. Espero que, com a retoma, as coisas continuem a melhorar”, pontua o entrevistado do Mindelinsite.

Sinais de retoma

Optimista, este empreendedor fala em sinais de retoma, ainda que tímidos. Cita como exemplo a ilha do Sal, onde já há alguma afluência de turistas e destaca o acordo recente com a Emicela, depois de mais de 10 anos de negociações. “A Emicela é o maior importador de Cabo Verde. Trata-se de uma empresa que compra produtos para fornecer aos hotéis da cadeia RIU. Portanto, auguro um bom reinício para a Sociave.”

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Neste momento, a empresa ainda não está com produção em pleno. João Santos explica que estão a repovoar o aviário e espera um pico de produção no final do ano, época normalmente de maior consumo, e também em que os hotéis já estarão a ter uma retoma significativa. “Antes da pandemia, a Sociava produzia 50 mil ovos/dia. Depois tivemos de desativar alguns pavilhões porque deixamos de ter os hotéis e também de exportar, ainda que temporariamente, para Guiné Bissau. Baixamos então para 35 mil ovos/dia. Esperamos voltar aos níveis de produção anteriores até final deste ano”, detalha.

Já a produção de frango rondava as 400 toneladas/ano. Aqui a situação é mais complexa porque, diz Santos, enfrentam a concorrência desleal da importação. E a escolha do termo “ilegal” é propositado porquanto, segundo este entrevistado, é apenas subprodutos na Europa e resto do mundo, no caso pernas, que representam 90 a 95% da importação. “Na Europa, o que vale dinheiro é o peito de frango, que fica para o mercado local. Exportam apenas pernas e asas a preço de chuva. É com isso que temos de concorrer. É muitas vezes importam pernas sem qualidade: são grandes porque deixam o frango crescer demasiado para ter um bom peito; cheios de gordura e também de água para pesarem mais”, clarifica.

Fiscalização mais atenta

Por tudo isso, o empresário pede à fiscalização que actue com o mesmo rigor que dispensa ao produtor nacional, deixando claro que se esta fosse à sério, estariam a fazer um grande favor à saúde pública, mas também à indústria nacional. “Sou liberal de convicção. Defendo um mercado livre, mas com regulação. Entendo que a fiscalização promove uma sã concorrência, desde que atenta. O que não pode é pressionar o produtor nacional e descuidar-se daquilo que é importante, que no caso é a maior parte.”

A sua crítica é ainda mais contundente em relação ao ovo importado refrigerado que, afirma, não pode ser comercializado nos supermercados à temperatura ambiente. “Este ovo importado cria problemas de saúde pública graves. Já houve ovos importados durante um determinado tempo em S. Vicente e ainda há no mercado da Praia. Isso tem de ser proibido porque o ovo quando vai para o frigorífico já não pode sair porque estraga. É um produto cheio de micróporos e a humidade entra,” frisa, realçando que sempre que o ovo refrigerado é colocado em temperatura ambiente torna-se um meio de cultura de bactérias, que é utilizado nos laboratórios.

Para este empresário, as entidades fiscalizadoras terão de ter isso em conta e, se alguma empresa quiser importar ovos, terá de garantir que fiquem no frio até ao consumidor. “Os nossos ovos têm um prazo de validade para o consumidor caseiro de 28 dias e superior para os hotéis, porque temos a certeza de que vão ficar no frio até o consumo. Os que chegam de Portugal, por exemplo, quando chegam só têm 15 dias no máximo para serem comercializados. E um contentor não se vende de um dia para outro.”  

Santos acredita que as entidades fiscalizadoras sabem, através da Alfândega, quem são os importadores de ovos. Basta seguir o rasto para saber se estão a vender ovos a pessoas com frigorifico, lembrando que, se a cadeia de frio for interrompida, torna-se um atentado à saúde pública.

Indícios de fraude

Pouco habituado a fazer denúncia, João Santos pede que o mercado seja regulado, sobretudo no que tange à importação de frango em que, afirma, há claramente subfacturações, para além de produto de má qualidade e com indícios de fraude. “Penso que o consumidor sabe da fraude, mas não releva por causa do preço. Quando se injeta água para ganhar peso é fraude. Mas é no preço que está o grande problema. Já tivemos casos de subfacturações e alertamos as autoridades. Hoje não há segredos na questão dos preços porque recebemos faturas proformas e temos amigos ou empresas familiares que também recebem. Portanto, os preços não podem ser tão diferentes.”

Este garante que basta fazer as contas para se ver que algo não bate certo, realçando que muitas vezes o preço de venda nem cobre os custos.  Mas, mesmo com as denúncias, continua tudo na mesma. O caso ganha mais relevância por conta da alta do preço dos cereais – milho e soja – no mercado internacional, o principal alimento dos frangos.

João Santos fala em aumentos de até 40% na origem, o que obrigou o Estado de Cabo Verde a subsidiar o milho, por exemplo. Por isso questiona como é possível continuar a vender frangos importados a baixo preço no país. “É diferente pagar impostos de importação de 35% de 100 escudos ou 35% de 50 escudos.  Há subfacturação e outros jogos por detrás”, finaliza.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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