Esta é uma das notícias mais esperadas pelos passageiros e proprietários das carrinhas que fazem a carreira regular entre as ilhas de São Vicente e Santo Antão. O navio Mar d´Canal, baptizado agora com o nome de “Nôs Ferry Mar d’Canal”, regressa ao mar na próxima semana, segundo informações avançadas ao Mindelinsite pelo sócio maioritário da Companhia Marítima Nacional Santo Antão – São Vicente, proprietária do navio. Vlademiro “Vlu” Ferreira acredita que o processo de licenciamento para o início das operações será célere porque toda a reparação foi acompanhada pelas autoridades, mais precisamente pelo Instituto Marítimo e Portuário.
Após 11 meses de “uma reconstrução profunda” nos Estaleiros Navais da Cabnave em São Vicente, e um investimento de mais de 200 mil contos, o navio “Nôs Ferry Mar d’Canal” está prestes a voltar ao mar, para satisfação de Vlu e de Adriano Lima, que aguardam com ansiedade a retoma da actividade desta emblemática embarcação, muito acarinhada pelos cabo-verdianos. “O navio desce da doca na próxima semana, mas ainda não podemos avançar o dia certo. Logo de seguida iremos iniciar o processo de renovação da documentação para poder começar a operar”, explicou Vlu, realçando que optaram por manter boa parte da denominação original porque é uma marca registada pelos cabo-verdianos. “É um nome que as pessoas gostam, pelo que entendemos que não valia a pena mudar. Nôs Ferry continua a ser o Mar d´Canal.”
Para representar o navio, esclarece, foi criada a Companhia Marítima de Navegação Santo Antão-São Vicente, que substitui a Naviera Armas. “Pelo menos, por enquanto, a empresa é constituída por dois sócios, eu e Adriano Lima, que transita da Naviera”, refere Vlú, que destaca todo o trabalho de reconstrução da embarcação. “Fizemos um trabalho profundo, até o ´osso`. O navio foi totalmente renovado, substituímos mais de 60% da chapa original da embarcação. O navio foi quase que totalmente forrado. Por isso é que digo que tivemos de reconstruir o Mar d´Canal. Mas as alterações não foram apenas na chaparia. Fizemos renovações em quase todos os aspectos. Estou muito satisfeito porque fizemos um grande trabalho, que valorizou o navio. Demorou, mas ficou muito bem feito”, garante este empresário.
Este trabalho teve também os seus custos, avança Vlu. Este admite que foram investidos mais de 200 mil contos, sendo que para o efeito contaram com um aval do Estado, através da ProGarante. “Penso que o Governo está interessado em resolver os problemas dos transportes inter-ilhas e nós somos um parceiro neste processo. Foi neste sentido que, acredito, o Governo decidiu apoiar-nos, através do aval, que cobre ¼ do valor investido”, explica este empreendedor, que diz não temer a concorrência, até porque a linha Santo Antão – São Vicente sempre teve duas embarcações.
“Sempre teve dois navios nesta linha porque, se um sofrer avaria, não pode ficar sem opção. Por isso não prevejo problemas. Avarias podem acontecer mesmo em barcos novos. E, neste caso, surgimos como uma alternativa. É preciso lembra ainda que, anualmente, os barcos têm de ir para a Cabnave. Os utentes não podem nunca serem penalizados por causa disso. Dois navios nesta linha, a mais movimentada do país, se completa”, assevera.
Confrontado com o contrato de concessão do transporte marítimo assinado entre o Governo e a CV Inter-ilhas, Vlu alega que existe uma certa confusão nesta matéria, inclusive porque a lei não permite exclusividade em Cabo Verde. “O Governo é obrigado a garantir a linha. Neste sentido, entregou a exploração a uma empresa numa determinada altura e contexto. Mas não acho que tenha sido em regime de exclusividade, até porque a Constituição proíbe o monopólio. As oportunidades têm de ser para todos. Penso que o Governo não estará interessado no monopólio porquanto a concorrência é fundamental para o desenvolvimento. Aliás, por isso o aval do Estado”, pontua, acrescentando que, seguramente, as autoridades estão interessadas na concorrência para o desenvolvimento e a qualidade do serviço.
Nesta altura Vlu está a preparar a viagem inaugural do navio “Nôs Ferry Mar d’Canal”. Este garante que deverá acontecer no final deste mês de junho e, da programação, consta uma cerimónia de bênção da embarcação feita por uma entidade religiosa e concertos musicais ao longo da primeira viagem, de entre outras actividades.
O navio Mar d´Canal, recorda-se, suspendeu as viagens entre S. Vicente e Santo Antão a 9 de abril de 2019, segundo informações apuradas na altura, após uma vistoria mandada efectuar pelo então sócio-maioritário da Naviera Armas, António Armas. A inspeção, que surprendeu as autoridades marítimas nacionais, que desconheciam qualquer problema com o barco, terá sido feita por um especialista vindo de Espanha, que constatou uma “deterioração acentuada nos compartimentos e no casco do navio”. Feitas as reparações, a embarcação volta ao mar na próxima semana.