Imagine uma jovem universitária, estudante do Curso de Enfermagem, que gere em paralelo um negócio de venda de doces, em particular gelados. Sai das aulas às 20 horas e corre direto para casa para preparar os seus doces. Assim que termina, publica as fotos dos produtos na página Doces da Jane e no dia seguinte à tarde já tem tudo vendido.
Esta é a rotina de Jane Soares, 26 anos, que iniciou a sua aventura com apenas mil escudos, na cidade do Mindelo. Dinheiro doado pela avó para comprar os ingredientes e fazer a sua primeira experiência: gelado de camoca. Decorria o período da pandemia da Covid-19 e, como toda a gente, a jovem estava submetida às restrições impostas pelo estado de contingência.
“Acabei por ver uma receita de gelado de camoca e resolvi fazer uma tigela para casa. Entretanto tive a ideia de publicar uma foto e logo de seguida uma amiga fez uma encomenda igual. Foi o início”, conta Jane, que se sentiu encorajada a continuar. Passou, assim, a vender gelados em copos e a diversificar os gostos, incluindo sabores como “bolacha Maria” e “bolacha Milénio”, morango, brigadeiro… Inicialmente, os clientes compravam mais o gelado de camoca, mas agora preferem os de bolacha. Seguindo a lei do mercado, produz mais estes gostos, que têm saída garantida.
No meio desta caminhada, Jane já fez bolos simples e coberto e bolos em copos. Produtos que vende na sua casa. “Infelizmente não tenho tempo para vender na rua porque tenho aulas na universidade. Mas estou a criar as condições para passar a colocar os meus doces nos minimercados”, revela a jovem, cujo negócio está ganhando sustentabilidade.

A grande inspiração, confessa, tem sido a sua avó, a enfermeira-reformada Bibia Soares, que lhe deu suporte financeiro para arrancar a produção e ainda lhe repassa os seus vastos conhecimentos na confeção de doces. “Houve uma altura em que fiz um doce de camoca, que ficou com um gosto muito intenso e textura como farinha. Eu fiquei desanimada e quis desistir. Ela não deixou que isso acontecesse, deu-me todo o apoio psicológico”, conta Jane, que reconhece o importante papel que a avó representa na sua vida.
Aliás, Jane está a seguir os passos da avó como quem vem colocando os pés justamente nos marcos deixados pelo chão. Confessa que ganhou interesse pela área de pastelaria vendo a sua avó trabalhando em casa e que resolveu cursar Enfermagem também inspirada pela avó. “Ela costumava levar-me quando ia medir a tensão arterial aos pacientes e fazer curativos. Eu ficava fascinada. Senti que queria mesmo seguir a enfermagem quando frequentava a 5 classe e ganhei um traje de enfermeira pelo Carnaval”, recorda a jovem.
Jane Soares já passou para o segundo ano do curso de Enfermagem. Por este motivo, o seu tempo livre vai ficar ainda mais escasso a partir deste novo ano lectivo. Mesmo assim ela está pronta para se adaptar e continuar a tocar o seu negócio. Para isso, sabe que terá de saber escolher prioridades. “Sou muitas vezes convidada para fazer paródias, mas não posso fazer isso porque o meu tempo livre é limitado. Tenho que respeitar os meus clientes e principalmente o compromisso com a minha pessoa.”
Jane acha que há trabalho disponível desde que os jovens saibam identificar o que querem fazer e se empenhar. Relembra que iniciou a sua actividade com apenas 1.000 escudos, dinheiro que aplicou na compra dos ingredientes para fazer um doce. Hoje, salienta, consegue vender toda a sua produção.
A jovem tem ainda um projecto mais ousado: abrir uma pastelaria. Sabe que será um enorme desafio conciliar a enfermagem com a gestão de um empreendimento dessa natureza. Mostra-se mesmo assim decidida a concretizar esse sonho.