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CVOW: Director das Pescas contraria ideia de que havia muitos recursos marinhos em CV na década de ’80

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O Director Nacional das Pescas e Aquacultura contrariou hoje a ideia de que Cabo Verde dispunha de muitos recursos marinhos na década de oitenta, em comparação com o quadro actual. Segundo Carlos Monteiro, o esforço de pesca é diferente entre estes dois marcos, mas é preciso levar em consideração que a população era menor nos anos oitenta, pelo que havia menos necessidade de consumo.

“Há essa ilusão de que dispúnhamos de muitos recursos, mas, na verdade, isso não ocorre. Além do factor populacional, temos de levar em conta que o nível do turismo era muito menor do que é hoje, tal como a nossa taxa de exportação de pescado”, enfatiza o DNP. Outro factor a ter em conta, acrescenta, é a própria capacidade de captura das embarcações, que hoje usam tecnologias mais modernas e têm um maior raio de ação.

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O momento actual, diz Monteiro, apela, no entanto, a uma redução urgente do esforço de pesca, principalmente das espécies mais exploradas comercialmente, que já estão dando sinais de escassez em Cabo Verde. A seu ver, é preciso mudar o foco, passar a explorar novas áreas de pesca e outras espécies, nomeadamente as que vivem a uma grande profundidade. “Temos um mar imenso e muitos recursos de profundidade por descobrir e explorar. Precisamos, no entanto, fazer estudos e levar a cabo trabalhos com a cooperação de países com mais conhecimento e mais experiência nesse domínio. Há ainda muita coisa que o nosso mar pode oferecer-nos”, considera o director das pescas, que, entretanto, chama atenção para os impactos que as mudanças climáticas estão a ter no mar, logo no comportamento dos peixes. Estes, diz, estão preferindo águas mais profundas, mais ricas em oxigénio, o que aumenta os esforços de pesca.

Em jeito de complemento, Albertino Martins, presidente do Instituto do Mar, realçou no painel “Gestão Sustentável da Pesca” que Cabo Verde está neste momento a enfrentar um sério problema que é a perda da sua biodiversidade marinha devido a sobrexploração e as ameaças associadas às alterações climáticas. Lembrou que o país é 99% água do mar, mas deixou claro que, apesar desse mundo imenso, o potencial pesqueiro é modesto – entre 36 a 46 mil toneladas.

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“Estamos a falar de tunídeos, nosso principal recurso, que vai das 25/30 mil toneladas; da nossa emblemática cavala preta, que alcança 3.000 toneladas, o chicharro, que tem stock de cerca de mil toneladas; o dobrado, que se situa em torno das 300 toneladas…”, ilustrou o responsável do IMar. Já no tocante à garoupa, uma das espécies mais consumidas em Cabo Verde, diz que faltam dados para se saber ao certo qual é a situação. No caso das lagostas verde e rosa, deixou claro que já se chegou no limite.

Corroborando a deixa de Carlos Monteiro, o presidente do IMar enfatizou que há recursos disponíveis que ainda não suscitaram o interesse dos armadores nacionais. Um deles é o camarão-soldado. Martins reconhece que a captura exige um investimento inicial avultado, mas acha que falta, neste aspecto, uma mudança de mentalidade dos empresários do sector das pescas. Acentuou que o foco tem estado principalmente na captura do melva, por se tratar de um produto que interessa às fábricas e que tem, por isso, venda garantida.

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O sector da pesca, segundo Martins, movimenta em Cabo Vede à volta de 1.400 botes artesanais, 127 barcos industriais, cerca de 1.500 armadores (95% dos quais do sexo masculino) e é feito sobretudo por pessoas com baixa escolaridade e já com alguma idade. Dados que, na sua perspectiva, precisam ser revertidos. Acentuou, entretanto, que tem havido um esforço para se travar esta tendência, com a Escola do Mar dando formação para marinheiros e motoristas e incentivando os jovens a entrarem para o sector das pescas.

O painel Gestão Sustentável da Pesca contou ainda com as intervenções de João Pereira, chefe de divisão de modelação e gestão dos recursos da pesca em Portugal, de Bruno Morin, funcionário da Agência Europeia e especialista no combate à pesca ilegal e Corine Fernandes, docente da UniCV.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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