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Ary Gomes: “Explicadores resistem às novas tecnologias e provam importância do reforço” 

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Aristides “Ary” Fortes Gomes tem 43 anos e é explicador desde 2010, ou seja, há 12 anos. Transformou um espaço na casa dos familiares na extensão de uma sala de aula. Mas tudo começou com os trabalhos de grupo, ainda quando era estudante, em que assumia a responsabilidade de tirar as dúvidas e ajudar os colegas a acompanhar as matérias que eram ministradas na escola. Para Ary, dar aulas de reforço é uma profissão importante que resiste ao tempo, às novas tecnologias, mas que exige actualização constante, muito gratificante e prova importância do reforço.

Segundo Ary, a experiência de ajudar os colegas foi muito gratificante, mas começou mesmo como explicador após ser desafiado por uma vizinha, no caso uma professora, que o incentivou a continuar a dar explicação. “Sempre tive boas notas. Apreendia a matéria com relativa facilidade e depois ajudava os meus colegas. Infelizmente reprovei duas vezes e perdi espaço no ensino público porque faltava as aulas. Era conhecido como ‘pancador’. Mas fui para o privado e consegui concluir o 12º ano de escolaridade. Na sequência, fiz um curso de marinheiro no Isecmar”,  conta.

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Ainda ponderou continuar a estudar, mas preferiu trabalhar e ganhar o seu dinheiro. Chegou a trabalhar como marítimo em três navios, seguindo as pegadas do pai. Mas depois faltou trabalho e viu-se obrigado a procurar outras alternativas. Foi nesta altura que a sua vizinha lhe enviou o filho e uma sobrinha para ajudar nos estudos. “Esta professora percebeu que eu tinha um dom e incentivou-me a ser explicador, inclusive foi ela quem me ofereceu um quadro preto. Desde então nunca mais parei. Dou explicação de manhã e à tarde, para alunos da 1ª classe ao 12º ano.”

Ary confessa que já trabalhou com muitos estudantes e é sempre um desafio. Infelizmente, a pandemia obrigou-o a reduzir o número  de alunos para cumprir o distanciamento. “Felizmente as coisas começam a melhorar e os alunos já estão a retornar. Neste momento tenho duas turmas no período de manhã e duas à tarde, sendo uma de primária e uma de secundária. Dou aulas de matemática, tiro duvidas de português, ajudo com trabalhos de história. Enfim, preciso dedicar muito.”

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Para Ary ser explicador é uma profissão como qualquer outra. Lembra tempos idos em que em São Vicente havia grande explicadores, que eram respeitados e temidos. Casos, por exemplo, de Sr. Antonin e Sr Daniel Além. “Mas a minha grande referência é o Teacher Cook da Ribeira Bote porque frequentei a sua explicação. Foi antes de estar estar inscrito no ensino normal mas, via outros meninos na explicação e pedi para ir”, diz o entrevistado. 

“Ser explicador é uma profissão que está a cair no desuso. Hoje são poucos os explicadores ou professores de apoio em São Vicente. Na maioria são professores que leccionam em um período e, no outro, ajudam os seus alunos com aulas de reforço. Mas isso é porque é uma profissão exigente. Temos de acompanhar o sistema de ensino e estar constantemente a actualizar. Nunca podemos parar de estudar.”

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Ary sonha, um dia, seguir a carreira do pai, ou seja, ser um marinheiro. Mas, enquanto isso, vai continuar a dar explicação e garante que é muito feliz. O sucesso dos seus alunos na escola é o seu principal “cartão de visitas”. Diz que é procurado por pais e encarregados de educação para ajudar a melhorar a performance dos seus educandos, mas também é contactado através da sua página no facebook.

Foi difícil no inicio porque era algo novo e não é alguns alunos são difíceis. Mas fui conquistando o respeito e a admiração deles e hoje gosto do meu trabalho. Trabalho com alunos da Ribeira Bote, mas também de outras zonas. Ser explicador é a minha profissão. Gosto de descobrir os prontos fracos dos alunos e ajudá-los a melhorar.” 

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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