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São Vicente: Clubes, associações e escolinhas expectantes com a Bolsa de Iniciação Desportiva 

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Os clubes, associações e escolas de futebol estão expectantes com a operacionalidade da Bolsa de Iniciativa Desportiva, programa do Governo orçado em cinco mil contos apresentado esta quarta-feira em São Vicente pelo presidente do Instituto da Juventude e Desporto José Eduardo dos Santos, numa cerimónia presidida pelo Ministro do Desporto, Carlos Monteiro. É que o principal objectivo deste programa é o de fortalecer as escolas de iniciação desportiva, proporcionando acesso à prática desportiva às crianças mais vulneráveis, ou seja, das classes A, B e C. 

Este programa foi apresentado em São Vicente para uma sala completamente lotada de dirigentes, atletas e treinadores de clubes, associações e escolas de iniciação. Para o vice-presidente da Real Sociedade de Ribeira d’Craquinha, Ivanildo Delgado, que falou em representação dos presentes, este projecto vai dar às escolas mais margem de trabalho com os jovens, sobretudo com os mais carenciados. “Nós que trabalhamos com os adolescentes e jovens nas zonas sabemos que os mais habilidosos são os com menos condições de praticar desporto porque as famílias não conseguem comprar uma bota ou sapatilha. Também os monitores trabalham em regime de voluntariado porque as escolas não conseguem dar-lhes uma retribuição. A maioria vai ministrar aulas depois de um dia de trabalho e, aos domingos, desde cedo já estão lá a trabalhar com crianças, adolescentes e jovens.”

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Neste sentido, disse ainda este dirigente, este projecto não poderia ter vindo em melhor altura, com as diversas modalidades a ganharem projeção, caso do basquetebol e do andebol que já foram para o mundial e diante da boa campanha da seleção nacional de futebol. “Esta iniciativa veio em boa hora para despertar os atletas e mostrar que qualquer jovem de 16 anos pode sonhar em ser profissional. Temos apoios e estão a ver que as seleções podem chegar a um patamar nunca antes alcançado. Os jovens que praticaram desporto lá atrás não tiveram esta oportunidade. Antes era difícil dizer que podíamos ser um jogador de futebol, basquetebol ou andebol. Hoje temos muitos praticantes a dar cartas lá fora. Este projecto veio dar um empurrão aos jovens que estão a praticar desporto.”

Ministro da Juventude e Desporto, Carlos Monteiro

Igual entendimento tem o mentor da Escola de Basquetebol Ze Baia “La Família”, que se mostrava particularmente satisfeito por conhecer este projecto, apesar da lista “elevadíssima” de exigências para concorrer. “Estamos nesta luta todos os dias. Temos mais de uma centena de inscritos na nossa escola e muitos deles não têm condições financeiras. Este programa é uma motivação para continuarmos a trabalhar e para termos mais monitores. Temos mais de uma centena de inscritos e apenas dois monitores, agora posso almejar ter mais pessoas para me ajudar. Por isso, entendo que este projecto é bom para o nosso desporto. Temos de começar tudo pela base. E é importante a alimentar para termos um bom resultado no futuro”, afirma Zé Baía, que se mostra tranquilo quanto aos aspectos legais, mas, afirma, faz questão de ir recolher mais informações junto do delegado do IDJ

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Já o presidente da Associação Ponta d’ Pom, António Fidalga, vê esta iniciativa do Governo mais como “um presente para o presente e o futuro”. “Parece-me que se trata de uma projecto bem elaborado, mas a sua operacionalização vai exigir um trabalho forte por parte das escolas e associações desportivas. De todo modo, quero parabenizar o IDJ e o Ministério do Desporto por esta iniciativa porque, para além de ser uma forma de apoiar os atletas e os clubes na implementação das várias modalidades desportivas, é também uma forma de fazer com que estas vejam o que é preciso para fazer um trabalho mais organizado”, sublinha Fidalga, para quem, da apresentação, ficou claro que as escolas, clubes e associações ainda precisam implementar alguns elementos importantes. 

No caso do Ponta d’ Pom, afirma, estão aptos em termos legais para concorrer, faltando apenas a implementação de uma direção pedagógica e a elaboração de um Plano Pedagógico. “Nunca nos pareceu importante, mas agora vi e percebi a sua relevância em uma escola de iniciação desportiva. Gostaria que as associações se ajudassem mutuamente a preparar a documentação exigida. Não estamos aqui em concorrência, mas sim para fazer um trabalho articulado. Enquanto dirigente associativo, muitas vezes deparamos com muitas dificuldades quando solicitamos documentos porque a informação nem sempre chega às instituições”, diz o presidente desta associação desportiva, recreativa, cultural, social e ambiental, que trabalha com os escalões sub-12 para baixo, seniores, escolinhas de xadrez e natação. E está ainda em processo de implementação do escalão sub-15.  

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Em situação mais difícil está a Escolinha de Futebol Nuno Rocha, da Ribeira d’Craquinha, instituição que trabalha com mais de uma centena de atletas dos 5 aos 15 anos. Segundo Marco Jorge Silva, a escola funciona numa zona com enorme carência, pelo que o trabalho que vem desenvolvendo tem grande impacto. “Estamos localizados em uma zona com muitos problemas sociais. A maior parte dos atletas mora em Portelinha ou em casas de latas circundantes. Não pagam mensalidades porque qualquer valor representaria um enorme peso para as famílias. O nosso propósito é estritamente social. Infelizmente, temos poucos monitores, o que nos impede de inscrever mais atletas”, lamenta.    

Atletas e dirigentes desportivos

Para este nosso entrevistado, é difícil conseguir cativar pessoas interessadas para trabalhar sem qualquer tipo de retribuição. Monitores qualificados então é impossível. “Eu próprio não tenho formação que me qualifica como treinador, mas tenho conhecimento e faço este trabalho por voluntariado. Temos um amigo da escola que jogou fora, inclusive na seleção nacional de futebol, que dá nome à nossa escola e que é o nosso suporte. Por isso, este projecto é importante e iria nos ajudar muito. Infelizmente, em termos legais não vamos conseguir concorrer porque não cumprimos muitas das exigências. Sequer estamos registados”, diz Marco Jorge, que ainda assim fez questão de estar presente na apresentação do BID para conhecer e, quem sabe no futuro, concorrer. 

Penso que vamos dar passos no sentido da nossa legalização. Do nosso ponto de vista, o projecto deveria contemplar esta vertente porque é complicado o processo de legalização de uma associação ou escola de futebol. Mas não temos pressa. Isto não é uma corrida, sobretudo agora que sabemos que existe esta bolsa e quais são as condições de acesso. Acredito que, no futuro, estaremos em condições de participar”, perspectiva este dirigente desportivo mindelense.

O Bolsa de Iniciação Desportiva (BID) tem como objetivo fortalecer as escolas de iniciação desportiva, proporcionando acesso à prática desportiva orientada a crianças e adolescentes. Na sua intervenção, o ministro do Desporto explicou que este programa é o mais estruturante para o desporto em Cabo Verde e a sua apresentação ocorreu numa boa altura porque o país está focado, centrado e emocionado com a performance das seleções nacionais no campeonato africano de futebol e de andebol. 

Isto veio chamar a atenção para a base ou alicerce em Cabo Verde, que são os escalões de formação e as escolas de iniciação desportiva. De forma geral, o investimento no desporto deve ser feito nos vectores crescimento e qualidade. Quando falamos das seleções federadas, estamos a referir ao vector qualidade e é o topo da pirâmide. O vector crescimento é toda esta base que temos de praticantes que deve ser alimentada para poder, no futuro, serem atletas de qualidade e abastecer os clubes e seleções”, frisou Carlos Monteiro, para quem esta bolsa acaba por ser um instrumento fundamental para alimentar o vector crescimento, esta base que vai servir de campo de recrutamento. 

O programa, financiado 100% pelo Estado em cinco mil contos, destina-se a crianças de 5 a 14 anos, clubes e associações legalmente constituídas ao abrigo do decreto-lei nº 29/2019. Cada escola poderá  conseguiu bolsas para até 20 inscritos, num montante mínimo de 500 contos e máximo de dois mil contos. No futuro, a expetativa é conseguir mais parceiros privados, a nível nacional e na diáspora, e assim aumentar o seu valor global e abrangência. O primeiro edital será lançado já na próxima semana.   

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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