A Federação Cabo-verdiana de Xadrez (FCX) anunciou, em conferência de imprensa, o cancelamento do Open 2023, que inicialmente estava previsto para abril e foi remarcada para setembro na Ponta do Sol, devido a falta de respostas Instituto do Desporto e da Juventude (IDJ) e do Governo. Francisco Carapinha diz que se sente envergonhado por não conseguir organizar o evento, que foi, entretanto apoiado pela Federação Internacional de Xadrez (FIDE). “É uma grande perda de credibilidade para Cabo Verde e coloca em risco novos eventos”.
Foi com o semblante carregado que, Francisco Carapinha e o secretário da mesa da Federação Cabo-verdiana de Xadrez, Manuel Medina, se apresentaram para dar a notícia do cancelamento do CV Open. “Como até a presente data o tão esperado envolvimento das autoridades nacionais primou pela ausência, a direção da FCX, por não haver mais tempo para poder organizar um evento em condições e com qualidade já demonstrada, decidiu cancelar a realização do CV Open que estava perspectivado a ser um dos grandes eventos desportivos do ano em Cabo Verde”, afirmou Manuel Medina.
Este garantiu que a decisão já foi comunicada a Federação Internacional de Xadrez, que apoiou a realização deste Open com 60% do orçamento e este respondeu dizendo que “foi uma pena o cancelamento, pois definitivamente o Open 2022 foi o melhor de África em 2022”. ParaMedina, as consequências serão nefastas. “Para além da vergonha por não conseguir organizar este evento, o que representará uma grande perda de credibilidade para o país e cuja recuperação poderá nunca vir a ser totalmente conseguida, colocando inclusive em riso a organização de futuros eventos xadrezistas em Cabo Verde,” frisou, referindo que o orçamento do Open ascendia a cinco mil contos e foi cancelado por falta de dois mil contos, um investimento que considera irrisório.
Visivelmente transtornado, Francisco Carapinha lembrou que a FIDE aumentou o apoio este ano para Cabo Verde, relativamente à 2022, o que demonstra o acreditar. “Acreditaram em nós e falhamos. Já tínhamos 60% do orçamento, suportado pela FIDE. Faltou 40%, cerca de dois mil contos, para uma atividade desta natureza, que foi largamente elogiada. Dois mil contos é uma ninharia. Foi considerado o melhor Open de África”, declarou, para acrescentar logo de seguida que se sente envergonhado porque bate na porta de muita gente – amigos e conhecidos – e tinha a garantia da participação de muitos jogadores de alto nível. “Agora vou ter de lhes dizer que não vai haver Open”.
Mas, mais do que envergonhado, Carapinha diz que se sente desmotivado e não têm vontade de realizar mais nenhum open, pelo menos em Cabo Verde. “Fizemos um projecto, que foi entregue em dezembro de 2022 à IDJ, três semanas antes de o enviar para a FIDE e, até, hoje, não tivemos nenhuma resposta. De inicio quando estava marcado para abril, em fevereiro esteve em S. Vicente o director da FIDE. Num encontro com o Ministro do Desporto, ele mostrou a importância para Cabo Verde realizar um open com data fixa, em abril ou em setembro. Era importante não só para o desenvolvimento do xadrez, como também para o turismo”, sublinha, destacando a grande publicidade para Cabo Verde que foi o primeiro CV Open 2022.
“Na altura, respondi ao Sr. Ministro que para abril já não seria possível porque estava muito em cima. Foi ele que nos pedi para ver uma outra data e marcamos para setembro. E, para o nosso espanto, nunca mais tivemos nenhuma resposta. E agora vamos ter de desconfirmar a participação de alguns campeões nacionais, caso do da Espanha e o de Portugal”, pontuou.
Percurso do Xadrez
Foi em abrilde 2016 que, de acordo com Medina, um grupo entusiastas de Xadrez, liderado por Francisco Carapinha, ousou criar a Federação Cabo-verdiana da modalidade em São Vicente. Desde o inicio, elegeram como prioridade cumprir todos os requisitos para poder pertencer a grande família do xadrez internacional, o que veio a concretizar em 2017. Desde então, a FCX já realizou 97 competições oficiais homologados pela FIDE, o que dá uma media superior a 13 competições anuais. “A nível internacional, tivemos varias participações, com destaque para as Olimpíadas em Batumi na Geórgia em 2018 e, em Chennai-India, em 2022, onde pela primeira vez apresentamos uma equipa feminina, que foi a segunda mais jovem da competição, com uma media de idade de 15 anos.
Participaram ainda no Campeonato Africano , em 2022, tendo classificado em sexto lugar, em igualdade pontual com o quarto lugar. E ainda no Campeonato Africano Zona 4.2, competição em que Cabo Verde é o atual bi-campeão. “O nosso arbitro internacional foi nomeado para chefiar a arbitragem do campeonato africano da Zona 4.2 Depois ousamos realizar o CV Open 2022, uma competição extremamente importante e que recebemos rasgados elogios tanto da FIDE e também de todos os participantes. O campeão deste open foi o xadrezista cabo-verdiano”, elenca este responsável.
A este o secretário da FCX junta ainda o facto de Cabo Verde ter sido o primeiro país visitado pelo recém-nomeado responsável da FIDE pelo desenvolvimento do xadrez a nível mundial, que ficou impressionado com o trabalho que a instituição vindo a fazer e que valeu ao arquipélago e que, em 2019, garantiu uma distinção ao arquipélago ao ser considerado um dos três países africanos em que a modalidade mais se desenvolveu nos últimos tempos.
Como consequência, foi criado um comité para o desenvolvimento do xadrez a nível mundial, constituído por oito elemento, sendo um deles a FCX. Entretanto, não obstante toda esta performance, em agosto, a quando da renovação do contrato-programa com o IDJ, diz, foram surpreendidos com a redução do apoio. “É caso para dizer que, quem trabalha e apresenta resultados é penalizado com a diminuição da verba que é, para sim, não fazer tantas atividades”, remata.