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Tchida Barbosa, um colecionador que transformou sua casa num “museu” da história colonial de Cabo Verde

Transformou em “museu” a sua casa sita em Madeiralzim, onde artefactos seculares direcionam a memória para aspectos e períodos históricos de Cabo Verde do tempo colonial. Expostas como ornamentos por cada recanto, várias peças chamam atenção pelas suas peculiaridades. Uma delas é um raro fogão-primo de 4 bocas colocada numa estante logo no átrio. Novas surpresas despontam por outros aposentos da residência de dois pisos, como uma coleção de moedas antigas à mostra numa estante de vidro, um gramofone e, pasme-se, um famoso rádio do falecido comerciante Hilas Miranda.

A veia de colecionador de Alcides “Tchida” Barbosa começou a despontar na faixa dos 20 anos de idade, quando começou a colecionar garrafas de bebidas em miniatura e isqueiros. Porém, essa paixão foi detonada quando um dia regressou a São Vicente de uma curta viagem à ilha de Santo Antão e encontrou a sua casa “despida”. Alguém aproveitou a sua ausência durante esse fim-de-semana e roubou-lhe quase todo o recheio. “Deixaram-me apenas um colchão, mas que já estava enrolado, pronto para ser também levado”, conta Tchida, que decidiu parar de colecionar objectos.

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Essa paixão seria reactivada, no entanto, quando começou a namorar a actual esposa, filha do falecido comerciante Hilas Miranda. Segundo Tchida, o sogro passou a oferecer-lhe copos-reclame das marcas de whisky que vendia no seu estabelecimento, sem imaginar onde essa “nova onda” iria parar. “Hilas Miranda tinha um rádio muito famoso, aparelho em que ele e os amigos costumavam ouvir as notícias da BBC às escondidas da PIDE, no sótão da sua loja. Antes de sintonizar a estação, tinha que esperar cerca de 15 minutos para o aparelho aquecer”, revela Tchida, hoje depositário do rádio, que lhe foi oferecido pelo sogro. Porém, o mesmo já não funciona. Hoje, o colecionador tem vários outros tipos de rádios na sua lista de antiguidades, incluindo um à válvula.

Além de São Vicente, as peças foram adquiridas nas ilhas de Santo Antão e de São Nicolau, que Tchida Barbosa costuma visitar, enquanto técnico de telecomunicações da CV Telecom. Sempre que se desloca a essas paragens, diz, procura obter artefactos, que depois cataloga. “Hoje não sei ao certo quantas peças tenho, mas ultrapassam uma centena”, salienta esse amante da história destas ilhas Atlânticas, que não tem também a noção do real valor monetário de todo o seu espólio.

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No seu “museu” é ainda possível encontrar relógios-cuco, modelos diferentes de máquinas fotográficas, telefones (um deles à manivela e que tem o sistema morse), candeeiros a petróleo, ferro de engomar à bomba, moinho de pedra e até uma bicicleta penny-farthing, o histórico modelo que tem uma roda dianteira gigantesca e uma traseira minúscula.

“Algumas peças foram compradas em estado de degradação, mas eu mesmo as recuperei num atelier que tenho na garagem da minha casa. Normalmente passo os sábados e domingos mergulhado nessa oficina, limpando e reparando esses marcos históricos. É onde me sinto em paz, rodeado pela nossa história, em contacto com peças que estimulam a minha memória”, frisa esse técnico de telecomunicações, que adora mostrar a sua coleção aos amigos.

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Tchida Barbosa confessou à nossa reportagem o desejo de adquirir dois artefactos específicos: uma colher feita de chifres e um prato construído do tronco de figueira, conhecido em Santo Antão por “prote d’fguera”. Já esteve prestes a conseguir as duas raridades, mas ainda não deu sorte.

Ciente da importância histórica do seu espólio, este colecionador pretende fazer uma exposição, se possível em 2026. Adianta que já houve outras tentativas, que se frustraram, mas agora está determinado em mostrar esses marcos históricos tanto de Cabo Verde quanto de Portugal.

Como é natural, quem vê esses objectos não pode deixar de fazer uma viagem ao passado. E há elementos que sobressaem como é o caso de uma moeda de meio tostão. E quem não se lembra do célebre ditado “meio tostão ka tem troco!” No entanto, a unidade mais rara é uma nota de 1 escudo, que depois foi transformada pelo governo colonial em 5 escudos.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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