O Samba Tropical vai trazer à tona este ano o nascimento e a trajetória da festa da folia mindelense, num desfile inspirado no enredo “A apoteose do Carnaval do Mindelo. Sete Ruas, uma História”, que foi apresentado ontem à noite na Ribeira Bote, o bairro mais emblemático dos “Mandingas d’Soncent”, terra do “índio” Cacói e do criativo Manu Rasta. A forte e histórica relação da “Zona Libertada” com o Entrudo foi, aliás, o motivo que levou a direção da escola de samba a escolher a localidade como palco para revelar o “filme” arquitectado para a noite de 3 de março, no sambódromo do Mindelo.
“O resgate histórico do Carnaval, que vamos trazer a público, não poderia começar noutro local. (…) Era obrigatório darmos o pontapé de saída na Zona Libertada. Bairro nenhum da cidade vive e respira o Carnaval como aqui”, reforçou David “Daia” Leite, presidente a EST, ele próprio um dos autores do enredo, desenvolvido em parceria com o jovem carnavalesco Ailton Duarte e a colaboração artística de Karine Rocha, Anísia Silva e do compositor Jotacê, coautor da sinopse.
O show está estruturado em 4 momentos: o primeiro bloco temático, denominado “A corte da alegria desembarca na ilha da folia”, retrata pictoricamente o desembarque em S. Vicente de uma corte vinda de um reino imaginário, o “Reino da Folia”; o segundo, intitulado “Um périplo pelo túnel do tempo”, versará sobre a empatia e a ligação umbilical do Mindelo com o Carnaval; o terceiro sector, “Sejam bem-vindos aos bastidores da festa”, vai revelar o que ocorre por detrás dos panos, ou seja, o trabalho desenvolvido pelos escultores, costureiras, carpinteiros, etc.; no bloco final, “A grande festa: A folia mindelense na rua de Lisboa”, o Samba vai recriar um autêntico desfile dentro do próprio show, convidando o povo a reviver a tradição do carnaval genuíno mindelense, que era marcado, por exemplo, pelos desfiles dos “mascrinhas” e “zorros” e as festas no Centro Nacional de Artesanato.
Ciente da importância dos grupos do desfile oficial de terça-feira, o Samba vai representar em alas os cinco grémios em disputa este ano, cada um com um tema escolhido com base nos desfiles mais marcantes levados para a Rua de Lisboa: Vindos do Oriente, com o tema “Dragões de 3 cabeças”, Cruzeiros do Norte (“Tude e bada”), Monte Sossego (Nha bolo tem nata), Flores do Mindelo (“Flores pa Mindel”) e Estrela do Mar (“Riqueza de nôs mar”).
Este ano, o Samba Tropical decidiu entregar o seu standard a das figuras mais amadas e carismáticas do Carnaval do Mindelo: a Porta-bandeira Alcione Rocha. Vencedora de vários prémios, Alcione será acompanhada pelo Mestre-sala Diego Leite, que fez dupla com Leila Leite no desfile anterior da EST.
Em entrevista ao Mindelinsite, Alcione Rocha revela que recebeu um convite irrecusável do Samba para o desfile deste ano e que se enquadra no sonho dela de desfilar como Porta-bandeira da “majestosa escola de samba”. “É uma enorme emoção e responsabilidade carregar a bandeira do Samba Tropical. Espero estar à altura deste majestoso grupo, mas tudo o que é feito com amor sai de forma leve e espontânea”, declarou a dentista de profissão.
Quanto a rainha da bateria, o grémio volta a apostar na experiente e escultural passista Jéssica Lopes, que ontem a noite fez a sua apresentação para o público ao ritmo da batucada. Uma entrada muito aguardada e que ocorreu logo após a actuação do grupo das passistas.
Dois momentos marcaram o show de apresentação do enredo do Samba Tropical: o espectáculo dos mandingas da Ribeira Bote e uma homenagem ao criativo Manu Rasta, um dos filhos da Ribeira Bote e artista responsável por algumas das páginas mais bonitas do Samba Tropical. Manu, que se encontra em tratamento médico em Portugal, acompanhou o momento por videochamada e foi efusivamente ovacionado pelo público.
