“Mulher cabo-verdiana e seus ofícios” vão estar no CCCV em Portugal
O Centro Cultural de Cabo Verde em Portugal recebe a partir do dia 25 a exposição “Mulher cabo-verdiana e seus ofícios”, da autoria do artista plástico Steve Espírito Santo, no âmbito da celebração do Dia da Mulher Cabo-verdiana. O evento conta ainda com a presença de Nha Balila, personalidade lendária da cultura tradicional do país e convidada especial, que estará à conversa com o expositor.
Steve e Nha Balila vão discorrer sobre o papel tradicional da mulher de origem cabo-verdiana. Nha Balila, com os seus 92 anos de idade, mulher de múltiplas vivências, faz em 2022 a sua primeira viagem ao estrangeiro, sob os cuidados e patrocínio da AMCDP – Associação das Mulheres Cabo-verdianas na Diáspora em Portugal, para participar nas comemorações do Dia da Mulher Cabo-verdiana.
“A exposição apresenta uma coleção de 30 esculturas que retratam a mulher cabo-verdiana na labuta diária, desempenhando inúmeras atividades de cariz familiar, profissional ou lúdica. As várias facetas da mulher de Cabo Verde são esculpidas em materiais invulgares como a palha de milho e a fibra de bananeira seca, matérias-primas que a própria natureza oferece ao artista, permitindo-lhe materializar a sua visão da mulher cabo-verdiana ao longo do tempo”, refere o comunicado do CCCV.
Através da sua arte, prossegue, Steve faz uma projeção dos múltiplos papéis que a mulher tem desempenhado desde tempos que se perdem na memória coletiva. As figuras retratam atividades diárias, algumas já caídas em desuso e que fazem parte do imaginário do artista, que sempre foi muito atento ao papel quase subalterno que a mulher sempre desempenhou na sociedade cabo-verdiana.
São os casos de “Mudjer ta ratxa lenha ku matxado” (Mulher a partir a lenha com o machado), “Mudjer ta laba marido pé” (Mulher a lavar os pés do marido) e “Mudjer ta cusia na fogon di pedra” (Mulher a cozinhar em fogão de pedra) ou outras em ofícios ainda atuais e intemporais, como por exemplo as esculturas “Mudjer ta da minino banho” (Mulher a dar banho à criança), “Mudjer ta bendi pexi” (Mulher a vender peixe) e “Mudjer rabidante” (mulher vendedeira).
Steve Espirito Santo é autodidata. Nasceu e cresceu em Cabo Verde, na ilha de Santiago. Tem um estilo único porque quando começou a participar nas feiras de artesanato constatou que muitos dos trabalhos apresentados eram idênticos, resolveu então criar uma arte que identificasse o seu estilo e fosse diferente dos restantes trabalhos artesanais que via nas exposições. A necessidade de se diferenciar levou-o a pesquisar que materiais estavam à sua disposição para apresentar obras originais.
Vivendo numa zona agrícola, surgiu-lhe então a ideia de fazer arte em palha, principalmente palha de milho e fibra de bananeira seca, que não eram utilizados nem para o pasto. São estes os materiais que dão vida à sua imaginação. Mas a sua habilidade e criatividade vem da infância. Quando não tinha brinquedos comprados na loja e para poder brincar fazia os seus próprios brinquedos, como carros de lata, bolas de meias, etc. Mas não os fazia só para si, também vendia às outras crianças que não tinham a habilidade para fazer os seus próprios brinquedos. Também tinha jeito para desenhar.
Em 2010 foi convidado para participar em exposições na Europa, na América do Sul (Brasil) e na Ásia. O seu trabalho é muito elogiado e admirado em todos os locais onde expõe. O seu desejo é um dia cursar belas-artes e ter um ateliê para expor a sua arte e dar formação para partilhar os seus conhecimentos.