Faleceu no final da tarde de ontem em São Vicente a artista plástica de primeira grandeza Isabel “Bela” Duarte, uma combatente pela causa da cultura e membro do grupo pioneiro pela promoção do artesanato em Cabo Verde, logo após a independência nacional. Tinha 83 anos e estava doente, encontrando-se inclusive acamada, segundo o filho, António “Patcha” Duarte.
Bela Duarte formou-se no Liceu e Escola Técnica do Mindelo, onde fez o curso de Formação Feminina. Seguiu depois para Portugal onde frequentou os cursos de Artes Decorativas na Escola António Arroios e de Desenho Artístico na Sociedade Nacional das Belas Artes.
De 1968 a 1974 leccionou Desenho Visual em São Vicente, tendo sido professora de varias gerações. Em 1976 integrou o grupo de que formam a Cooperativa Resistência, junto com Manuel Figueira e Luisa Queirós, iniciativa que revolucionou a forma como os mindelenses viam e tratavam a arte e os artistas.
Participou ainda na criação do Centro Nacional de Artesanato onde leccionou tecelagem, tapeçaria e batik e, na década de 1990, criou a Galeria “Azul + Azul = Verde” com Luisa Queirós em S. Vicente. Era, sem sombras de dúvidas uma das mais valorizadas e distinguidas artistas plásticas de Cabo Verde. Mas ficou mais conhecida pela representação de sua obra em tapeçaria e batik.
“A artista utiliza as cores que mais caracterizam a nossa realidade, como o azul do oceano que nos envolve e domina e do céu quase límpido que nos cobre; o vermelho da nossa temperatura e da nossa luta pela sobrevivência; o verde da nossa obstinada esperança que nunca morre; e o marrom às vezes escuro ou claro de nossa pele, resultado da diversidade física de nosso povo”, escrevia Francisco Mascarenhas sobre a sua obra em tempos idos.
O trabalho de Bela Duarte percorreu várias galerias de arte nas ilhas de Cabo Verde e no mundo, incluindo três grandes exposições nos Estados Unidos. Foi premiada por diversas vezes pelo seu trabalho e contributo para a cultura nacional, incluindo o Prémio Presidencial em julho de 2000.
Oito anos depois, em 2018, voltou a ser galardoada, junto com Luisa Queirós, a título póstumo, e Manuel Figueira, pelo Presidente da República, com a 1ª Classe da Medalha de Mérito e, mais recentemente, em 2022, por altura da inauguração do novo CNAD foi novamente homenageada com atribuição do seu nome a uma das galerias, que trouxe uma visão renovada da arte, do artesanato e design.
Bela Duarte está eternizada no “Passeio Alma das Ilha”, na Rua de Lisboa em São Vicente, um projecto do Governo que já conta com 51 nomes, dentre os quais Cesária Évora, Celina Pereira, Luís Morais, Germano Almeida, Betú, Orlando Pantera, Luisa Queirós, Alex Silva, Manuel d’Novas.
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O Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas já reagiu em comunicado, dizendo que “recebeu, com sentimento de pesar, a notícia do falecimento da Professora-artista, Bela Duarte; uma figura incontornável da tecelagem, que parte, mas eterniza-se na sua arte.”
As mais sentidas condolências à família e aos amigos.