Montsu aposta no enredo “Genética.cv” para revalidar título no Carnaval 2024
Monstu lança a si o enorme desafio de retratar a história e identidade do povo cabo-verdiano e responder à pergunta "ma casta d'raça ê esse, ahm?"
O grupo Monte Sossego acabou com o mistério sobre o tema do desfile que irá levar para o asfalto do Mindelo no próximo ano, com o objectivo de revalidar o título e se sagrar tricampeão do Carnaval de S. Vicente. Ontem à noite, a praticamente dois meses e meio de distância da festa do Entrudo, Montsu satisfez a curiosidade de centenas de pessoas que estiveram na Avenida d’Holanda numa noite carnavalesca. Após momentos de música, coreografia dos passistas, show da Porta-bandeira/Mestre-sala e da Rainha da bateria, o grupo revelou finalmente o segredo: “Genética.cv” – um mergulho na história e identidade do povo cabo-verdiano.
Este tema, segundo António “Patcha” Duarte, ficou definido há cerca de 6 meses, mas o enredo em si já era pacífico para a Direção de Carnaval e os Carnavalescos do grémio. “Quando termina um desfile, normalmente somos agraciados com alguma clarividência sobre o enredo do ano seguinte. A escolha de Genética.cv não fugiu à regra. Temos a sorte de trabalhar com os criativos Boss e Valdir, que são duas mentes privilegiadas, dois excelentes artistas com uma capacidade peculiar de pensar e executar”, diz o presidente do “grupo Montsu”.
Patcha reconhece que o desafio é gigantesco. Afinal, o grémio vai explanar, nada menos, a história de Cabo Verde e do povo cabo-verdiano, numa viagem pelo tempo. E, segundo este dirigente carnavalesco, o objectivo é apresentar esse conto de forma transparente para que qualquer pessoa possa ver e descortinar a genética made in Cabo Verde.
“Estamos a falar da nossa identidade enquanto povo e nação, a resgatar os contributos dados por várias figuras ao longo da nossa história. Isto é uma enorme responsabilidade, estamos cientes disso”, assume.
António Duarte lembra que Cabo Verde é um Estado com poucos anos de independência, mas um arquipélago descoberto há centenas de anos. E, no decurso deste tempo, o povo cabo-verdiano tem construído a sua identidade, mostrando a sua resiliência – a capacidade de luta.
Monte Sossego tem apostado em temas enraizados na cultura cabo-verdiana, como comprovam os enredos “O povo das ilhas ainda quer um poema (diferente) para o povo das ilhas” e “Um one na Soncent”. A ideia, diz Patcha, é continuar a engrandecer a história das ilhas, em particular a de S. Vicente. “No enredo de 2023 fizemos a releitura do poema de Onésimo Silveira ‘O povo das ilhas quer um poema (diferente) para o povo das ilhas’, mas Onésimo não era a figura central. Inspiramo-nos na sua obra para relatarmos o estado das coisas no país, trazer à tona situações ligadas à Justiça, Segurança, Emprego, etc., mas que afectam todo o povo das ilhas”, faz questão de esclarecer.
Com este enredo, Montsu conquistou este ano o título de bicampeão do Carnaval d’Soncente. O objectivo é alcançar o terceiro título consecutivo em 2024. “Monte Sossego não tem a obsessão de ganhar o Carnaval 2024, mas é nossa obrigação defender o título, sempre com o total respeito e a admiração por todas as agremiações do Carnaval de S. Vicente”, diz Patcha. No entanto, deixa claro que Montsu desfila sempre com os olhos postos na taça de campeão e 2024 não será diferente.
O concurso cai no dia 13 de fevereiro, muito próximo do final do ano. Questionado se o grupo pretende iniciar os ensaios assim que deixar de soar o “pite na Baía”, Patcha responde que isso é praticamente impossível. Pelo simples facto, diz, de Mindelo ser uma sociedade com o seu calendário sazonal, tema, aliás, apresentado no enredo “Um one na Soncent”. “Temos balizas sazonais que formatam a nossa mente. Isto significa que, enquanto as pessoas não se libertarem do espírito natalício e de S. Silvestre, não se envolvem de corpo e alma na festa do Carnaval”, explica.
Deste modo, Montsu marcou o início dos ensaios para o dia 11 de janeiro, praticamente a um mês do desfile oficial. Entretanto, vai fazer alguns ensaios esporádicos em dezembro.
Embora sem dados definitivos ainda, Patcha acha que Monte Sossego vai desfilar com 1.500 a 1.600 foliões e manter os 140 ritmistas na bateria “Batucada dos Índios”. A música vai estar, mais uma vez, sob o manto criativo do compositor Constantino Cardoso, vencedor de vários prémios individuais. Patcha acredita que vai sair mais uma obra majestosa da mente genial deste artista que, diz, tem uma empatia especial com o grupo Monte Sossego. “Quase que nos sentimos, tal é a nossa empatia. Juntos conseguimos colocar em evidência o que queremos”, comenta o presidente de Montsu, para quem Constantino tem uma mente talhada para criar obras de arte no Carnaval e em outros géneros musicais cabo-verdianos. E aposta que irá criar mais um hino emblemático do Carnaval d’Soncent.