MCIC assina protocolos de incentivo financeiro com Mindelact e Oiá: “Dois projectos de coração”
O Ministério da Cultura e das Industrias Criativas assinou na manhã desta sexta-feira dois protocolos de incentivo financeiro e institucional, o primeiro através do Núcleo Nacional de Cinema e Audiovisual (NuNac), e a produtora Oiá Projetos no âmbito da realização do Festival Oiá no montante de 500 contos, e o segundo com a Associação Artística e Cultura Mindelact no valor de mil contos. Abraão Vicente deixou claro, na ocasião, que estes são dos projectos do “coração”.
Tambla Almeida agradeceu os presentes, mas também todos os que têm apoiado o Festival Oiá, que nasceu para estar e trabalhar nas comunidades, sejam elas no país e também na diáspora. “Gostaria de saudar a assinatura, ou melhor a renovação deste protocolo – ano passado foi a primeira vez que o MC e o Oiá celebraram um acordo de parceria. Todos os nossos colaboradores são parceiros e, quando se assina um protocolos, assume-se um compromisso maior sobre aquilo que são os objectivos e numa área tão fundamental e estruturante dentro das industrias criativas como é o cinema”, declarou.
Relativamente ao protocolo, o promotor do Festival Oiá diz estar a pensar nos diálogos necessários como pede uma arte plural como o cinema para os sectores da educação, da cultura, da economia, do turismo, da tecnologia, das instituições do Estado como o NuNaC, que há muito se espera que se converta num instituto de cinema, dando mais dignidade ao sector. “Também estamos a espera, entre estes diálogos, intervenientes como a Presidência da Republica, autarquias, sobretudo pelo facto de trabalharmos com as comunidades, instituições privadas e internacionais ligadas ao desenvolvimento.”
Entende Tambla que há necessidade de se construir plataformas de trabalhado em rede, tendo em conta que o cinema é uma arte plural, que precisa ser feito de forma coletiva por forma a construir uma industria local. “Não queremos apenas fazer filmes porque isto não nos ajuda a construir uma industria. O desafio de fazer mais que um festival está presente na nossa missão e as respostas da população, das comunidades nos dão brio para continuar”, frisou, exemplificando com os números do Oiá 2022.
“Foram dez dias de festival, mais de 40 títulos exibidos, duas estreias, quatro mostras internacionais convidadas, uma mostra de curtas nacional para os Direitos Humanos resultante do concurso ‘Bodji’, 42 horas de capacitação audiovisual, 15 horas de workshops, três podcast com convidados, uma mesa redonda sobre os direitos humanos, uma exposição colectiva de artistas nacionais, uma instalação artísticas na praça, cinco apresentações teatrais, uma performance, plantação de árvores nas comunidades, experiências de comunicação/formação em webvisão, de entre outros”, elencou, referindo que o projecto iniciou em 2006 e que, deste então, está a construir esta marca, hoje reconhecida a nível nacional e internacional para o sector do cinema.
Foco no teatro nacional
Zenaida Alfama, em representação do Mindelact, disse sentir-se honrada e destacou a colaboração frequente entre a tutela e esta associação. Sobre a edição 2023 do Festival Mindelact, esta garantiu que a atenção é para a produção nacional, com representação em massa de grupos/espectáculos de Cabo Verde. “Todo o festival do Palco 2 está direccionado para os espetáculos nacionais. O Mindelact está a apostar na comercialização do nosso produto lá fora. Estamos a focados em fazer com que o nosso teatro tenha mais visibilidade lá fora, no sentido da venda do produto nacional”, sublinhou.
O Festival Mindelact vai decorrer de 3 a 11 de novembro, ainda sob a direcção antiga cuja mandato termina em março do próximo ano, altura em que passará por uma transformação, em parte provocada pela saída de João Branco e da morte do Daniel Monteiro, duas pedras basilares desta associação. “É um desafio imenso continuar a realizar este festival e manter esta bandeira de qualidade que já é reconhecida a nível internacional. O nosso objectivo é continuar a fazer e reforçar o seu ênfase dentro e fora de portas”, acrescentou, lembrando que esta é uma associação onde se trabalha com ‘coração’, com amor à camisola, mas que sonha conseguir remunerar todos os colaboradores.
Mais financiamento
Estes são dois projectos do coração, começou por dizer o Ministro da Cultura, lembrando que já foi voluntário no Mindelact e assistiu ao nascimento do Oiá. No que tange ao Mindelact, afirmou, houve um aumento do financiamento pelo desafio que o processo de transformação acarreta. “Lembro-me do Mindelact, quando cheguei ao país, de ser recebido, durante vários anos, convites com tudo pago, no espirito de alguém que escrevesse sobre o festival, mas também que participasse. Este espirito de cooperativismo, djunta-mon, amor à camisola e à Mindelo caracterizam o Mindelact. Conheci esta cidade pelo Mindelact, pelas peças, pela solidariedade das pessoas. E não posso ser insensível à este momento, pelo desaparecimento fisico de Nhelas e a saída do João Branco.”
Sobre este particular, lembrou A. Vicente que o Mindelact sempre tratou os convidados como especiais e esta deve continuar a ser uma marca deste festival, com uma programação de qualidade e valorização dos grupos nacionais. “Não poderíamos deixar de dar este sinal neste ano de transformação, esperando que nos próximos anos continuemos a aumentar esta parceria.”
Quando ao Oiá, o governante concorda que sempre acreditou que a aprovação da Lei do Cinema iria ser acompanhado de uma outra dinâmica. “Sempre pensei que a fundação do NuNaC viria a dar uma independência de financiamento por parte do Orçamento do Estado, de uma outra forma. Mas o que percebemos, no ano passado, é que houve um desengajamento dos membros deste Núcleo de Cinema, que perceberam que, fazendo parte do NuNaC não poderiam concorrer aos fundos. O que estamos a propor é muito mais que uma restruturação do NuNaC, embora a ideia de um instituto não seja muito benvinda por parte da Administração Pública”, constatou.
O Ministro diz, no entanto, esperar que a verba alocada seja usada de forma que motive, incentive e crie uma industria de cinema em Cabo Verde. “Falar é fácil, mas não tem sido fácil colocar à mesa todos os interlocutores”, reagiu assim as indagações de Tambla Almeida. “A Associação Audiovisual de Cabo Verde recebeu durante 4/5 anos valores superiores a 20-25 mil contos anual, através da Cópia Privada. E hoje questiona-se como foi investida esta verba, até porque a associação não conseguiu adquirir um edifício, não conseguiu fazer um plano de trabalho”, justificou assim a ausência de um protocolo entre o Ministério da Cultura e das Industrias Criativas e a Associação Audiovisual.
Para o ministro, nesta altura, é preciso aprofundar este dialogo entre as diferentes instituições e perceber como podem atuar da melhor forma, até porque não é confortável para ele, enquanto tutela, continuar a determinar o uso da verba. “Temos estado a financiar passagens internacionais e formações. Mesmo assim chegamos a este período do ano com um excedente de verba. Vamos lançar agora mais um edital para financiamento direto aos produtores e aos realizadores, cumprindo aquilo que é a lei do cinema. Mas, claramente, teremos de pensar uma instituição para fomentar e fazer as relações públicas internacionais de Cabo Verde, com uma plataforma para a rodagem do cinema. A lei existe, as condições existem, mas é preciso muito mais financiamento.”
Em suma, A. Vicente apela a um maior envolvimento do sector privado, financiando de forma mais pujante a cultura. Em Mindelo, afirma, definitivamente os intervenientes precisam reunir para pensar e perceber o que se passa com o estado da arte e da cultura.