Já está nas plataformas digitais o terceiro CD de Constantino Cardoso intitulado “Nha Ote Metade, que marca o regresso deste compositor e cantor à música tradicional, mais precisamente à Morna e à Coladeira. Um CD em que o artista apresenta temas próprias, mas também volta a prestar homenagem a alguns compositores nacionais da sua preferência, casos de Manuel d’ Novas, Ti Goy, Djodja e Ano Nobu.
Em um exclusivo Mindelinsite, Constantino explica que o disco tem sete temas da sua autoria, um de Manuel d’Novas, um do irmão do sogro – que infelizmente faleceu – e ainda uma rapsódia de músicas antigas que decidiu reviver para não deixar os compositores cairem no esquecimento: Camarada Pepe Lopi e Nha Mudjer de Ano Novo, Terezinha de Gregório Gonçalves, Camisa Nobo/Ratchan nha Camisa de Mimoso/Pedro Delgado e ainda Só sabe e Cadá, ambos de autores desconhecidos.
“O CD tem Morna normal e galope do estilo da Boa Vista, Coladeira e uma balada/San Jon virada para os jovens e nem tanto dançante. Já a rapsódia é dançante, assim como as coladeiras. Caso, por exemplo, de Baloi Bedje, de Manuel d’ Novas, que foi gravado há muitos anos por Bana, mas que no meu disco aparece com uma roupagem nova”, descreve o cantor e compositor, que gravou o seu primeiro CD em 2006 “Um estória d’ Mindel”, com cinco temas da sua autoria e composições de Manuel d’ Novas, Djoya, Manu Ramos, Luís Paris e Calú d’ Bazília e o segundo em 2011, apenas com temas de Carnaval.
“Nha Ote Metade” é, aliás, um regresso ao tradicional. “Depois que gravei ‘Ariá’ o meu nome passou a ser associado ao Carnaval, que ultrapassou o meu lado tradicional, tendo em conta a visibilidade desta festa e também porque escrevo muitas músicas para os grupos de São Vicente, mas também das outras ilhas. Neste momento basta anunciar o meu nome para as pessoas pensarem logo que vou cantar músicas do Carnaval. Com este disco quero, exactamente, equilibrar as coisas e mostrar que tenho uma outra metade, que é a música tradicional, mais precisamente mornas e coladeiras.”
Outro lado musical
Por isso o título, emprestado à coladeira Nha Ote Metade, da sua autoria. “Quero com este CD mostrar o meu outro lado musical, que não é apenas o Carnaval. A minha outra metade é o meu lado tradicional. Quero que as pessoas me conheçam também como compositor e cantor de Morna e Coladeira. Este é um regresso às minhas origens, quando ainda integrava o grupo Wings, quando comecei em 1986. Tocávamos nos bailes e recintos de São Vicente, Santo Antão e outras ilhas. Já tenho uma longa carreira, com algumas paragens pelo meio porque em Cabo Verde ainda é difícil viver da música.”
Aliás, prossegue, a prova disso foi o que aconteceu em 2020 com o surgimento da pandemia da Covid-19 em que a parte artística e cultural simplesmente parou. Foram dois anos de inactividade, diz, inclusive este CD era para sair em 2020, mas teve de ser adiado porque não conseguiram concluir os trabalhos. “Comecei a gravar o CD com Kim Alves em 2020 nos Estados Unidos, a quando da minha estada naquele país. Na sequência, ele deveria vir para São Vicente para ultimarmos os trabalhos mas, por causa da Covid, foi impossível viajar. Depois fui para os EUA, mas nos desencontramos. Acabamos por finalizar os trabalhos no estúdio da Harmonia em São Vicente, com introdução de voz, coros e alguns instrumentos”, revela, realçando que neste CD foi acompanhado por Yannick Almeida no sopro, Kim Alves em vários instrumentos e alguns músicos internacionais contratados em corda e sopro.
Compositor por acaso
Relativamente a sua veia de compositor, Constantino Cardoso afirma que surgiu meio que por acaso, até porque nunca gostou de escrever. Mas, quando se está na música e se convive com outros artistas, há sempre uma tendência para se tentar fazer algo. E o crioulo, por natureza, gosta de estar na música. “Enquanto estudante em Portugal convivi muito com Betú, que é um grande compositor de Morna e Coladeira. Fazíamos muitas tocatinas. Foi lá que comecei a rabiscar, mas não tinha confiança suficiente e acabei por rasgar tudo. Depois que a minha primeira filha nasceu, comecei a escrever algumas músicas infantis, que cantávamos juntos. Fiz quatro músicas, sem qualquer compromisso.”
Foi só em 2000/2002 que arriscou escrever as primeiras músicas tradicionais, no caso morna e coladeira. Nesta altura, conta, integrava o grupo Serenata e estavam a pensar gravar um disco, mas não tinham composições próprias. “Falei com os meus colegas tocadores do grupo para fazerem algumas composições, mas não se mostraram muito interessados. Acabei por arriscar e escrevi três músicas, mas, quando começamos a ensaiar, desentendemo-nos e acabei por entregar os temas ao Ildo Lobo, que os colocou no seu CD. Foram estas três músicas – Incondicional que deu nome ao CD de Ildo Lobo, Amor Financiod e Amor e Sabor, que fizeram com que eu fosse reconhecido como compositor.”
De lá para cá, os temas escritos por Constantino Constantino já foram gravados também por Mirri Lobo, Fantcha, Djila e Diva Barros, e por ele próprio, sendo que em “Nha Ote Metade” são sete composições. O trabalho foi lançado na manhã desta sexta-feira em todas as plataformas digitais porque, diz, é um disco que já esperou muito. Mas o lançamento ao vivo, no país e na diáspora, será só em 2023.