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Artistas criam “Núcleo de Carnavalescos de S. Vicente”: Valorizar a classe, fazer formações e parcerias para potenciar o Carnaval

Artistas plásticos com décadas de experiência na concepção do Carnaval constituíram um núcleo em S. Vicente cujo intuito é valorizar a classe dos carnavalescos, formar novas gerações de criativos e trabalhar em parceria com a Ligoc, a Câmara Municipal de S. Vicente e o Ministério da Cultura no desenvolvimento dessa manifestação cultural mindelense. Composta por Nóia, Boss, Valdir, Manú Rasta e Bitú – e presidido pelo professor de artes Jair Pinto -,  a organização foi esta manhã apresentada em conferência de imprensa e o passo seguinte será um encontro com a direção da liga carnavalesca com a presença dos presidentes dos grémios oficiais, provavelmente na próxima semana.

Segundo Jair Pinto, o propósito do Núcleo de Carnavalescos de S. Vicente é conciliar ideias e iniciativas com todos os organismos ligados ao Carnaval, estando à cabeça a Ligoc enquanto representação de todos os grupos oficiais. “Diria que já existe uma parceria entre os carnavalescos que integram a nossa organização com os grupos pelos laços profissionais que têm estabelecido ao longo dos diferentes desfiles. O que pretendemos agora é formalizar essa parceria, elaborar planos com bases mais científicas, desenvolvidos a partir da investigação, e prestar assessoria técnica aos grupos”, esclarece o presidente do NCSV, que descreve os carnavalescos como visionários contratados pontualmente pelas escolas para pensarem os enredos, projectar os carros alegóricos e supervisionar o funcionamento dos estaleiros. E enfatiza que muitas vezes esse artista projecta obras que não consegue concretizar nem 30 por cento devido a vários factores, um deles a dificuldade financeira.

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O grupo, enfatiza o presidente, quer debater ideias e apresentar soluções para os problemas que afectam o Carnaval d’Soncent, pois entende que cada ano deve superar o desfile anterior e não passar a ideia de que as coisas estão iguais. Até porque, lembra, o público gosta de exigir mais e melhor.

Sobre este aspecto, o artista plástico Nóia afirma que os carnavalescos conhecem muito bem os entraves do Carnaval d’Soncente, estão um pé à frente, e que, por isso, sabem onde intervir. Afirma que podem ajudar a combater a “imprevisibilidade” dos desfiles carnavalescos e tornar essa manifestação cultural um produto autossustentável, sem a necessidade de os grupos estarem a “mendigar” financiamento dos seus projectos todos os anos. “Os grupos não têm estaleiros próprios, locais de ensaio, ateliers e ninguém fala nisso. Mas nós temos as soluções para essas questões e estamos dispostos a apresenta-las de graça, desde que sejamos acolhidos de braços abertos”, revela esse reconhecido artista. Para ele, o Carnaval d’Soncente tem um enorme potencial que precisa ser devidamente explorado.  

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O NCSV tem planos que tenciona colocar em prática o quanto antes. Um deles é resgatar uma ideia antiga de se criar uma oficina permanente, que servirá para prestar serviço aos grupos e foliões, funcionar ao longo do ano como uma empresa normal e ser usada como atelier de formação. Aliás, a formação de artistas plásticos surge como um dos pontos de destaque nos objectivos da organização. Isto porque, dizem os integrantes, o carnavalesco é uma espécie de mágico invisível que dá corpo ao enredo dos grupos enquanto elemento fundamental da criatividade e produção de alegorias e trajes. No entanto, sentem que precisa haver uma continuidade do trabalho desenvolvido até agora, sob pena do Carnaval regredir por falta de novos artistas capacitados para esse tipo de trabalho.  

“Quando os grupos pensam em fazer um desfile, a primeira pessoa que recorrem é ao carnavalesco. Somos nós o motor do espectáculo, mas temos estado colocados à margem, como elementos invisíveis”, critica Nóia, acentuando que os elementos do NCSV não têm mais nada a provar no Carnaval. E deixa claro que alguns já começam a ficar cansados, pelo que querem repassar os seus conhecimentos para a nova geração.

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Boss Brito reforça que esse trabalho formativo tem estado a acontecer durante a preparação dos desfiles, com o pessoal que frequenta os estaleiros. Agora o pretendido é que os workshops aconteçam de forma planejada, nomeadamente fora da época do Carnaval. “Vamos começar a implementar planos e mostrar aquilo que podemos fazer. Acredito que o núcleo pode ser um instrumento importante nas áreas da formação, do intercâmbio artístico e da pesquisa”, reforça Boss, para quem os carnavalescos dão ao Carnaval mais do que aquilo que recebem de retorno.

Para Valdir Brito, o NCSV constitui um núcleo de pensadores que querem fazer parte do processo de desenvolvimento do Carnaval de S. Vicente. E deixa claro que um dos papéis fundamentais da organização é dar a conhecer a função e o trabalho do carnavalesco porque muita gente ignora o que fazem. “E queremos também ser uma voz para criar pontes.”

Os elementos do NCSV pretendem também valorizar os carnavalescos antigos, que estiveram nos estaleiros antes deles e contribuíram para que o evento cultural tenha atingido o patamar onde se encontra. Pessoas que, conforme Nóia, acabaram por ser colocadas na ala dos esquecidos.

Na próxima semana, o Núcleo quer fazer um encontro com a Ligoc para logo de seguida reunir-se com a Câmara de S. Vicente e o Ministério da Cultura.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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