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Artesão cobra pagamento de Edital de apoio ao MCIC devido a pandemia da Covid-19: “Estamos no sufoco”

Marcelo Rodrigues procurou o Mindelinsite para exigir o pagamento resultante do apoio aos artistas devido a pandemia da Covid-19, no quadro do edital “Medida Adicional à Classe Artística Nacional”, cujo montante pode chegar até os 100 mil escudos. Conta que foi um dos 30 artesãos nacionais seleccionados, mas desde 15 de fevereiro aguarda a liberação desta verba, que tiraria os artesãos do sufoco financeiro que estão a viver.

Segundo este artesão, que trabalha na recuperação de livros, encadernação de jornais e revistas, ofício que aprendeu com o pai, inscreveu e enviou todos os documentos necessários. No dia 15 de fevereiro passado, o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas divulgou na sua página os nomes dos artesãos de todo Cabo Verde que foram selecionados, inclusive o seu. Desde então, tem feito de tudo para tentar receber o apoio prometido, sem sucesso.

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“Inicialmente, fomos informados que devíamos aguardar até depois das eleições para receber o benefício. Mas já se passaram três meses e cada vez dão uma resposta diferente. Primeiro alegaram que precisavam de tempo, agora é que temos de aguardar pela disponibilidade orçamental. Da minha parte, estou cansado de esperar porque o dinheiro deixa muita falta”, desabafa Marcelo, que se mostram inconformado com tanta demora.

Este lembra que o concurso foi feito especialmente para apoiar os artesãos cabo-verdianos, que foram penalizados pela pandemia da Covid-19 porque ficaram sem poder trabalhar. Por isso mesmo, afirma, é inaceitável este atraso, quando se sabe que estes estão a enfrentar dificuldades para honrar os seus compromissos e pagar as despesas mais básicas. “No meu caso, moro na casa da minha irmã. Se vivesse de aluguer, já estava despejado. Vivo exclusivamente do meu trabalho e preciso adquirir materiais para poder trabalhar, mas também para pagar as minhas contas.”

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Entusiasmado com a possibilidade de receber este apoio do Governo, prossegue, este declara que decidiu ensinar o seu ofício a quatro jovens, a título gratuito, sendo dois de São Vicente e dois da ilha do Fogo. A formação foi concluída com êxito e chegou a entregar diplomas a dois dos formandos. Mas, por falta de recursos financeiros, teve de adiar a entrega de certificados aos dois jovens de São Vicente, isto numa altura em que o trabalho de recuperação de livros está em vias de extinção. “São dois jovens que também estão a ter os seus sonhos adiados”, lamenta.

Marcelo Rodrigues revela ainda que a sua situação financeira, já debilitante, se agravou ainda mais porque trabalhava num espaço cedido no Centro Cultural do Mindelo, mas foi convidado a devolver as chaves. “Acredito que não ficaram muito satisfeito porque decidi exigir o pagamento ao MCIC. Penso que foi uma forma de vingança. Felizmente, pretendo viajar em breve para a ilha do Fogo, para trabalhar na encadernação das folhas soltas em uma das Câmaras Municipais”, informa este artesão, que foi responsável pela encadernação dos jornais A Semana e Expresso das Ilhas.

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O Edital “Medida Adicional à Classe Artística Nacional”, recorda-se, foi lançado a 25 de janeiro pelo Governo, através do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas. O montante a ser atribuído às propostas aprovadas pode chegar até os 100 mil escudos, informava o MCIC na altura, realçando que esta era uma medida excepcional aprovada em Conselho de Ministros, através da Resolução nº 164/2020, que visava a aquisição de obras de arte e artesanato pelo Estado para a colecção permanente de arte contemporânea de Cabo Verde e acervo dos museus e centros culturais.

Este edital, acrescentava ainda, visa ainda o patrocínio prévio a eventos musicais, teatrais, performativos, gravação de música, realização de videoclips, produção de conteúdos e projectos culturais de interesse público. Tinha como público-alvo artistas ligados a artes plásticas, fotografia, artesanato, dança, design e moda, música e teatro.

“O Governo, entendendo a situação que o país está a viver neste momento, a situação que os cabo-verdianos têm enfrentado, face à estagnação ou retrocesso na economia a nível nacional, devido à pandemia da covid-19, adoptou um conjunto de medidas de apoio à classe artística”, lia-se na nota, que anunciava ainda que esta medida iria juntar-se a outras iniciativas de apoio aos artistas, agentes, produtores e criadores, no quadro dos impactos negativos que a pandemia vem causando no rendimento das famílias.

De acordo com o regulamento do Edital, apenas seriam seleccionadas propostas dos candidatos que conseguissem comprovar que a área artística, cultural, criativa era a sua única fonte de rendimento.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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