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Antropólogo cabo-verdiano vai denunciar MC e IPC em evento internacional por “práticas antidemocráticas” e tentativa de “silenciamento”

O antropólogo cabo-verdiano Alcides Lopes vai apresentar uma denúncia pública contra o Ministério da Cultura e o Instituto do Património Cultural na 46. conferência mundial do Conselho Internacional para a Música Tradicional (ICTM) por alegadas práticas “antidemocráticas”. O etnomusicólogo, que vai ser um dos oradores e moderador de mesa desse encontro patrocinado pela Unesco, que acontece de 21 a 27 de julho em Lisboa, acusa ainda essas duas entidades de tentativa de silenciamento da sua pessoa, mas, diz, sem saber qual o verdadeiro motivo.

“Estou a falar de um processo de silenciamento e de afastamento da minha pessoa e de práticas antidemocráticas que acontecem nas instituições ligadas à cultura e ao ensino superior em Cabo Verde. E cito os nomes de Jair Fernandes, presidente do IPC, e do ministro Abraão Vicente, as duas pessoas que mais me impedem de fazer o meu trabalho em prol da Cultura”, revela Alcides Lopes, antropólogo residente no Brasil.

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Questionado sobre as motivações que essas entidades teriam para o perseguir e bloquear o seu trabalho, Lopes afirma que não sabe ao certo. “Se tiverem alguma acusação sobre o meu desempenho profissional, ou outra coisa, que apresentem provas. Agora, é certo que, enquanto fui professor de música na cidade da Praia neguei ser conivente com uma elite que tem estado a apoderar-se do sector da cultura. Uma elite que não favorece a produção nem a educação musical”, revela esse pesquisador, que se tem mostrado crítico em relação a certos procedimentos. Um deles, exemplifica, é atribuição de bolsas de incentivo à cultura “sem planejamento e sem critérios claros”.

Tchida Afrikanu, como é conhecido, vai mais atrás para enfatizar que tem encontrado muita resistência da parte da própria UniCV em aceitar a sua reintegração como professor. Ele que, salienta, é o único quadro cabo-verdiano com o seu nível de formação superior em património, música e antropologia. Segundo Lopes, chegou a sair dessa universidade para fazer mestrado e nunca mais conseguiu regressar.

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A nível profissional, enfatiza esse doutorado, tem dado provas de competência na sua área de formação, a tal ponto que, diz, o IPC deveria mostrar interesse em aproveitar aquilo que tem produzido, nomeadamente sobre o Kolá San Jon. Pelo contrário, diz, esse instituto prefere ficar ao largo e chegou inclusive a engavetar um processo que submeteu a esse organismo.

A gota de água que terá transbordado o copo por estes dias foi um pedido de apoio financeiro parcial que Alcides Lopes endereçou ao IPC e ao Ministério da Cultura para ajudar a custear a sua deslocação a Portugal, a fim de participar na conferência mundial do ICTM. Para ele, a sua presença nesse encontro é de suma importância para Cabo Verde. Lopes argumenta que pela primeira vez um nativo cabo-verdiano vai falar da música tradicional nesse palco, com base num trabalho científico, quando até agora têm sido feito por especialistas de outras nacionalidades.

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Só que o pedido de apoio foi rejeitado. Alega o IPC que não tem condições financeiras para enquadrar a solicitação. “Fiz esse pedido porque vivo no Brasil e a passagem para Lisboa fica em torno dos 1200 euros. Além disso temos de acrescentar despesas de estadia e inscrição. Consegui por conta própria algumas ajudas na Europa e de um amigo, que dão em torno de metade do custo, mas não consegui nada em Cabo Verde porque dizem que não há dinheiro. Aqui não estamos a falar de um capricho, mas sim de um acontecimento de amplitude mundial e que deveria merecer o carinho das instituições nacionais ligadas à cultura”, adverte Alcides Lopes, que não aceitou esse argumento. Para ele trata-se de mais um episódio nos tantos ocorridos nos últimos anos e que visam o seu ostracismo no sector cultural. “Mas quero deixar claro que isso não anda a acontecer apenas comigo”, alerta.

Apesar disso, Lopes não desmorona. Este diz que tem estado activo no Brasil, onde conseguiu aprovar um projecto pos-doc orçamentado em 54 mil reais para trabalhar com várias comunidades de três municípios e com a comissão articuladora dos quilombolas. Dinheiro para pagar a sua bolsa. Para Lopes, a sua competência adquirida não está em causa, mas sim “a lisura, a falta de transparência e o nepotismo descarado” de certas instituições cabo-verdianas.

O Mindelinsite remeteu um email ao Ministério da Cultura e ao IPC para reagirem às acusações de Alcides Lopes. O jornal teve o cuidado de enfatizar na mensagem que esse pesquisador pretende apresentar uma denúncia no ICTM sobre alegadas práticas antidemocráticas cometidas por essas instituições. Este diário recebeu a resposta apenas do IPC, que confirma o pedido de apoio remetido pelo pesquisador. Adianta, entretanto, que não deu vazão ao mesmo devido a dificuldades financeiras e orçamentais. No entanto, o IPC diz que não exclui uma parceria e colaboração com o pesquisador numa outra oportunidade.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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