A. Vicente assume “falha grave e inexplicável” nos Certificados de Mérito Cultural com uso de selo da Primeira República
O Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas admite que houve uma “falha grave e inexplicável” no certificado de Mérito Cultural Segundo Grau atribuído aos artistas mindelenses na passada segunda-feira, 25, numa cerimónia realizada na Académia Jotamont. Abraão Vicente afirma que o uso do selo branco da 1. República foi um erro só percebido mais tarde, pelo que foi despoletada uma investigação para se apurar o que se passou. Entretanto, garantiu em entrevista ao Mindelinsite, já propôs a recolha e substituição do diploma.
As medalhas e os certificados de mérito e reconhecimento foram atribuídos a cerca de 60 figuras da cultura e da arte de todo Cabo Verde. Eram para ser entregues em 2020 mas, por causa da pandemia da Covid-19, só agora começaram a ser atribuídos aos contemplados. Em São Vicente foram escolhidos artistas, presidentes dos grupos carnavalescos e personalidades culturais, alguns a título póstumo. “Todos receberam os certificados e ficaram satisfeitos. Foi só depois, ao publicar uma fotografia do diploma nas redes sociais, que fui alertado por um jovem atento que me informou que o selo utilizado era da Primeira República, portanto, em desuso. Fiquei espantando e tentei saber se houve uma falha ou se foi proposital”, desabafa um dos artista destacados.
O Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas reconhece que se trata de uma falha inexplicável, que já está sendo investigada. “Os diplomas de mérito são atribuídos pelo Gabinete do Primeiro-ministro. Tenho estado a fazer a entrega, pessoalmente, em seu nome. É uma falha grave e inexplicável na secretaria do Governo porque o selo branco não deveria sequer estar disponível para este tipo de trabalho. Mas já está ser investigado pelo director do gabinete do PM. Entretanto, já propomos a recolha de todos os diplomas e a sua substituição”, afirma.
Este admite que só perceberam o lapso quando alguém enviou uma fotografia do diploma ao Diretor de Gabinete do Primeiro-ministro. “Mas houve falha também da minha equipa porque recebemos e não conferimos os certificados, sendo certo que jamais nos passaria pela cabeça que um selo branco dos anos 1980 iria constar de um documento em pleno 2022. É uma falha e errar é humano, pelo que vamos repor a normalidade”, acrescentou, até porque, diz, se trata do reconhecimento do Estado de Cabo Verde do contributo dos criadores, intérpretes, artesãos e fazedores da cultura.
Numa publicação na página do MCIC, na segunda-feira, 25, Abraão Vicente enfatiza que “a entrega das medalhas de mérito é o reconhecimento do valor, trabalho e do percurso aos nossos artesãos e fazedores da cultura”. Esta especifica ainda que foram entregue as Medalhas e Certificado de Mérito Cultural Segundo Grau a Alberto Alves Santos, Ana Jesus Soares, Aniceto Gomes, Anildo Silvestre, António Cruz, António Augusto Sequeira, António Tavares, Fernando Morais, Isidoro Rocha Brito (falecido), João Brito, João Evangelista do Rosário Fortes (falecido), Jailson Juff, Jorge Emanuel da Cruz Soares (falecido), José Fonseca, Mandingas de Ribeira Bôte e Marcelino Soares.
Segundo Abraão Vicente, este é o maior reconhecimento do Estado de Cabo Verde e entrega-lo a figuras ligadas os eventos, folclore, da tradição é a forma que se encontrou para legitimar o contributo, o trabalho, o labor, a dedicação e a resiliência em todos os anos em que se têm dedicado às artes e à cultura. “Estamos a recuperar o tempo que perdemos no passado sem reconhecer estas figuras. Hoje reconhecemos um processo pelo percurso, mas também reconhecemos um processo para a celebração do futuro”, declarou ainda na ocasião o Ministro da Cultura.
O acto de condecoração foi realizado na Academia de Música Jotamont, em Mindelo.