O Samba Tropical entregou à jovem Karine Rocha a responsabilidade de executar o enredo “A humanidade e o Tempo – Oli futur ta bem panhob” no desfile do próximo ano, tema da autoria desta que, segundo David Leite, é a primeira carnavalesca do Carnaval d´Soncent. Karine e a sua equipa, segundo o presidente da escola de samba, vão assumir todos os desafios próprios da preparação do espectáculo, como a criação das fantasias, trajes, carro alegórico e o próprio plano do desfile da noite de 12 de fevereiro.
“Ela é uma verdadeira carnavalesca. Costumamos confundir esta designação, mas um carnavalesco é quem idealiza o enredo, planeia e materializa o projecto. Karine será a responsável pelo desenho dos trajes, fantasias, carro alegórico, enfim tudo vai estar sob o seu comando”, especifica Daia Leite. No entanto, a carnavalesca, acrescenta, vai poder contar com todo o apoio da direção do Samba Tropical, principalmente a nível financeiro.
O grupo decidiu apostar nesta jovem porque, diz Daia Leite, sempre deu espaço aos novos talentos. E Karine Rocha, na sua opinião, começa a destacar-se na nova geração de artistas da festa do Rei Momo. “Tomamos esta decisão porque ela apresentou-nos uma proposta muito bem estruturada, que nos deu segurança”, revela o responsável do Samba, para quem o tema é interessante pois aborda o que de mais precioso existe na vida: o tempo.
Esta é uma ideia que “persegue” Karine Rocha havia um certo tempo. Como explicou ao público presente ontem no lançamento do enredo oficial do Samba Tropical, finalmente chegou o momento de colocar no asfalto do Mindelo o fruto do trabalho que vem desenvolvendo há alguns anos no Carnaval d’Soncent. “É para mim um desafio enorme e vou dar tudo de mim para o Samba Tropical”, disse aos presentes, fazendo questão de frisar que não está a trabalhar “para” o Samba, mas junto com o grupo.
Esta é a primeira vez que a jovem assume a liderança de um projecto carnavalesco, mas confessa que tem agregado experiências ao longo dos anos com o grupo Cruzeiros do Norte – o primeiro grémio que lhe abriu as portas – e com o Vindos do Oriente. Segundo a jovem, se não tivesse trabalhado com o VO não teria alcançado a capacidade que tem hoje. Por isso fez questão de homenagear Dona Lily e Cely Freitas, mãe e filha já falecidas, cujos nomes ficaram encravados na história do Carnaval do Mindelo.
Sobre o enredo, que foi apresentado em jeito de peça de teatro, Karine diz que nada melhor que abordar o tempo para levar as pessoas a pensar sobre o tempo que dispomos. “O tempo da nossa vida, as nossas recordações, enfim, um tempo real que vemos passando todos os dias à nossa frente, sem parar. Um tempo às vezes cruel porque chega ao fim. E um tempo espiritual, que nos permite existir onde quisermos”, salientou.
Para simplificar as coisas, o enredo vai centrar na realidade mindelense e começar a abordar o tema a partir do “Tempe d’Caniquinha”, quando “gôte d’Manê Jôn tava ingordá na gemada”. Um tempo que, segundo Karine, serve para chamar a atenção para uma forma de convivência social que havia em S. Vicente, onde não era preciso ligar a net para se estar a par das novidades. “Era só ir para a Praça Nova e sabíamos onde tinha a melhor festa e onde tudo acontecia. Lá era a nossa rede social”, diz a carnavalesca.
Hoje as coisas mudaram muito por conta da tecnologia, mas nem por isso, segundo a jovem, não é de todo negativo. Para ela, é preciso saber usar as vantagens dos avanços tecnológicos. E é isso que promete fazer na Rua d’Lisboa no dia 12 de fevereiro – abordar o tema A humanidade e o tempo, uma história do tempo contada por “gôte d’Manê Jôn”.
O show do Samba vai envolver 1.100 figurantes no máximo, estruturados em 17 alas. O grupo volta a apostar na passista Jéssica Lopes como Rainha de Bateria e na Porta-bandeira Leila Leite, que este ano irá desfilar com o primo Rafael Leite como Mestre-sala. A batucada continuará a ser comandada pelo maestro Cabol. Os ensaios começam no dia 13 de janeiro, um mês antes do desfile.