O desfile do Carnaval de Verão vai decorrer ao ritmo e melodia de “Djôndjôn ca ta vergá”, música vencedora do concurso oficial deste ano pelo grupo Monte Sossego. Este samba-enredo da autoria de Constantino Cardoso será acompanhado por uma batucada composta por 120 percussionistas dos cinco grupos oficiais do Carnaval d´Soncente.
Por estes dias, o maestro Alyson Oliveira tem estado a trabalhar com os ritmistas das diversas baterias no pátio do Liceu Ludjero Lima para o show resultante dos diversos workshops ministrados por especialistas do Carnaval do Rio de Janeiro. O exercício, diz, visa basicamente fazer uma “limpeza” dos toques dos instrumentos, uniformizar e aperfeiçoar a batida, sem mudar a essência da música.
“Na verdade, não temos muito por onde inovar porque há um esqueleto estruturado, o pessoal daqui sabe tocar e o ritmo da batucada da música, em si, já é rica”, comenta o músico brasileiro, que já esteve em quatro edições do projecto Carnaval de Verão e conhece razoavelmente bem as características do samba cabo-verdiano. “A diferença com o samba do Brasil é que o daqui é dividido por estrofe, que chamamos no Brasil de paradinha. E cada estrofe é uma parte rítmica, que muda a nuance”, diz o instrumentista, que notou, entretanto, haver diferenças na forma como os percussionistas dos grupos executam os diferentes toques, como, por exemplo, “mandinga”. E reparou que essa diferença acontece nas caixas, tamborins…; daí estar a tentar criar uma linguagem musical única para o desfile da próxima terça-feira à noite.
Para Alyson Oliveira, a experiência está sendo “bacana”. Ele que regressa à cidade do Mindelo na qualidade de maestro após ter sido assistente dos maestros Casa Grande, Lino e Odilon noutras três edições. O percussionista reconhece que a responsabilidade é grande, mas está ciente de poder montar uma batucada a condizer com a grandeza da música Djôndjôn ca ta vergá, que catapultou a performance de “Montsu” no desfile deste ano. Todo o trabalho está a ser desenvolvido com o suporte dos maestros dos grupos oficiais de S. Vicente e um dos aspectos que ele quer aprimorar é o andamento da bateria. “Aqui, os grupos fazem um andamento rápido. Quando assim é, aumenta a dificuldade da execução”, frisa Alyson, que começou a tratar este item já no segundo dia de aula.
Outro ponto em realce tem a ver com a estruturação da própria bateria. Como explica, hoje em dia a batucada é montada como se fosse uma mesa de som para permitir uma maior uniformidade da propagação dos instrumentos. “Temos de fazer equalizações. Se tenho por exemplo x número de surdos, preciso ter y de caixas, repiniques, etc. E o número dos instrumentos deve ser igual em cada lado para evitar desequilíbrios”, elucida o músico, realçando que, quando assim acontece, se um grupo de 30 ritmistas estiver bem organizado pode parecer que são o dobro a tocar.