Não era apenas os mandingas e os foliões que estavam ávidos pela retoma da normalidade, dois anos sem os tradicionais desfiles que antecedem o Carnaval em São Vicente. A volta dos mandingas gravita uma economia vibrante e diversificada de comidas, bebidas e cigarros, mas também as pequenas mercearias de bairros por onde passam a multidão arrastada pelos mandingas. São pessoas que dependem da informalidade que cerca os desfiles e para quem esta é uma oportunidade para divertir e, porque não fazer os seus negócios por conta da aglomeração.
Por Constânça de Pina
Foi uma longa tarde e princípio de noite digna dos bons tempos antes da pandemia da Covid-19. Para além dos mandingas, foliões, tocadores, participantes e das pessoas que apenas ocupam os passeios, murros, terraços e varandas das casas, um grande número de vendedores informais de comidas, bebidas e cigarros embrenhou-se no desfile, com as suas mochilas, cestas na cabeça ou grandes bolsas nos braços no primeiro domingo de mandingas para que nada faltasse a esta multidão.
E ninguém pode se queixar de sede ou fome porque, ao longo do desfile, havia toda a sorte de produtos a disposição dos foliões, desde pasteis, croquetes, pizzas sanduíches, torresmo, coxinhas de frangos, mas também bolos, donetes e doces, num surtido digno de uma grande festa. “Gosto muito de participar nos desfiles de mandingas, mas também aproveito para fazer a minha venda. Trouxe de tudo um pouco para que as pessoas tenham por onde escolher”, exclamou Tanha.
Devidamente preparada, esta vendedora trazia ainda em uma das mãos um banco para descansar o grande cesto e, sempre que havia alguma pequena pausa para os mandingas beberem uma água, suco ou um grogue, montava a sua banca. E era logo rodeada por foliões que queriam comprar pizzas, pasteis e outros salgados. Próximo de Tanha, Stiven vendia água, sumos e cervejas. “As pessoas compram os salgados e saem a procura de uma água, suco ou cervejas. Estou logo aqui”, dizia.
Mas, as pessoas mais prevenidas e cautelosas, foram devidamente preparadas. Das mochilas e longe dos olhos da polícia, que seguia atentamente o cortejo, saíam garrafas de “stompê; grogue, caipirinha e, por que não whisky. Havia também quem não estava para brincadeira e levou os seus “farnéis” bem compostos. Devido ao aperto da multidão, quando queriam tirar algo da mochila tinha de afastar-se.
Lá conseguiam sair da “botchada” e aproximar de algum canto para repor as energias e retomar, agora com mais força, o desfile dos Mandingas da Ribeira Bote, que ontem começou passava das 14 horas e terminou depois das 19 horas, com uma grande cervejada no Centro Social da Ribeira Bote.
Para o próximo domingo há mais desfiles. Ontem foi apenas o arranque do Carnaval, que é uma necessariamente uma festa de aglomeração, de encontros e de multidões, onde as pessoas se juntam, se tocam, as pessoas se beijam, tomam cervejas compartilhadas, bebem bebidas compartilhadas.
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