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“Vozes” do povo erguem-se por Amadeu Oliveira em S. Vicente

Um grupo de cidadãos, liderados pelo movimento cívico Sokols 2017, concentrou na tarde desta segunda-feira próximo ao Palácio da Justiça em S. Vicente a favor do jurista Amadeu Oliveira, detido sábado na cidade da Praia, e também por mais e melhor Justiça em Cabo Verde. Mas, antes mesmo do início do protesto, foi anunciado pela organização que Amadeu Oliveira foi libertado. Notícia que foi aplaudida pelos presentes. No entanto, este jornal tem tentado confirmar essa informação. Tentou entrar em contacto com Oliveira e conferir junto de outras fontes, mas sem sucesso, pelo que não pode garantir a sua veracidade.

Passava poucos minutos das 15h quando as pessoas começaram a chegar, dispostas a participar e mostrar o seu descontentamento para com a justiça em Cabo Verde. Traziam bandeiras dos Sokols e do Movimento Mais Soncent, e cartazes com os dizeres “Amadeu, a voz do povo”, “Democracia em CV manda calar o povo”, “Mais justiça, menos corrupção”, “Queremos juízes que cumpram a lei”, “Justiça, estabilidade da Nação”, de entre outras mensagens.

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 A organização distribuía máscaras e álcool gel e mostrava-se atenta à questão do distanciamento social, o que de início foi difícil por causa do trânsito, mas que melhorou quando a Polícia Nacional fechou a via. Em declarações à imprensa, Salvador Mascarenhas afirmou que a concentração foi uma iniciativa cidadã para demonstrar a indignação das pessoas perante o estado da Justiça em Cabo Verde.

Aproveitamos a detenção do Amadeu Oliveira e o seu julgamento. Foi uma janela de oportunidade para mostrar o nosso descontentamento com a situação da justiça. É impossível encontrar alguém satisfeito. A situação é grave e é preciso uma solução urgente”, frisou o líder dos Sokols, que chamou também para esta luta o Presidente da República, o Governo, os deputados e os próprios Tribunais.

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É que, para este activista, da forma como a justiça está não pode continuar e uma forma de isso acontecer é os nossos deputados deixarem de discussões estéreis e optarem por analisar de forma séria a questão. Mascarenhas cita o exemplo da Suécia onde, afirmou, após as eleições, a única preocupação dos deputados é discutir os assuntos presentes e não ficar a trocar acusações. “Infelizmente, em Cabo Verde teimamos em copiar Portugal e, principalmente, as mazelas da sua justiça”, desabafa. 

Pressão dos Sokols 2017

Questionado se as manifestações promovidas pelo Sokols têm tido resultado, este garante que sempre vão conseguindo alguns ganhos. Neste caso, diz, foi a (suposta) libertação de Amadeu Oliveira antes do dia do julgamento.

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Para esta concentração, Mascarenhas informa que os Sokols contaram com o apoio da sociedade civil, mas também de alguns juristas. Este admite, no entanto, desconhecer qualquer movimentação nas restantes ilhas porque faltou tempo para uma coordenação. “Foi tudo muito rápido. Não houve tempo para uma articulação, excepto uma publicação no Facebook que trouxe todas estas pessoas para a concentração. E foi bom porque o nosso interesse nunca foi juntar muitas pessoas por causa da pandemia. Mas decidimos estar aqui de forma coordenada e as pessoas estão a cumprir”, apontou Mascarenhas, que aproveitou para agradecer a PN que autorizou o protesto, apesar do pedido tardio e pela presença durante a concentração.

Sobre o julgamento, este admite não acreditar na justiça. Por isso mesmo, diz, os Sokols vão continuar a pressionar até porque, como o próprio Oliveira faz questão de frisar, só o povo o salvará. Caso este vier a ser condenado, garante que vão estar atentos aos fundamentos. “À partida, não têm fundamento para julgar Amadeu Oliveira. E se ele for condenado, vamos agir. Sair à rua todos os dias se for preciso”, assegura.

Testemunhos de não-justiça

Várias pessoas que participaram da concentração aproveitaram para deixar os seus testemunhos de não-justiça. É o caso do pai do agente da PN assassinado na capital há um ano, 3 meses e 23 dias. Joaquim Morais mostrou-se particularmente revoltado porque, afirmou, “o sistema mandou assassinar o seu filho e depois defendeu o assassínio”. É que, segundo este progenitor, inventaram um pretenso julgamento em que, ao invés do assassino do filho ser condenado, ele foi defendido.

“O MP chegou à conclusão que o agente que assassinou o meu filho tinha intensão de o matar, mas os juízes o defenderam. O assassino faltou com a verdade durante o julgamento, só os juízes não perceberam. Sou ferido pelo Estado, pela máquina. Por isso Amadeu é a minha voz. Ele está a representar-me. Quem fala a verdade em Cabo Verde é que vai preso. O Estado defende bandidos, corruptos, assassinos, enquanto o bom está debaixo do chão. Nunca mais vou ver o meu filho, enquanto que o responsável foi passar o fim-de-ano em casa”, desabafou.

Outra voz revoltada é o ex-funcionário da ASA, Armando Gonçalves, que lembrou que sofreu uma tentativa de homicídio a 28 de agosto de 2019 e não aconteceu nada. “Sofri uma represália por ter denunciado actos de corrupção na ASA, que querem esconder. Sofri na pele por os ter tornado público. Quebraram o meu carro e fui agredido, e a justiça nada fez. Foi um caso de flagrante delito, mas continuo à espera”, lamenta este jovem, que destaca ainda o facto de o processo movido contra a sua pessoa por conta das denúncias ter avançado rapidamente para manchar a sua reputação. Este adianta que quando for julgado o processo de agressão, será agora visto com o vilão.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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