Várias pessoas aguardam há dois meses por resposta do CCV, com passaportes retidos e sem informações
Parte das centenas de pessoas que entregaram documentos para pedido de visto durante a permanência consultar do Centro Comum de Visto no Mindelo, realizada nos dias 26 a 30 de junho, ainda não recebeu nenhuma resposta desse serviço. Com o passaporte retido e sem informação – quer por email ou através do telefone -, uma funcionária disse ao Mindelinsite que já não adianta o visto porque as suas férias estão prestes a terminar. Na mesma senda, alguns professores desistiram completamente de viajar devido a demora “excessiva e injustificada” na emissão dos vistos. “Falta de respeito”, dizem.
Sem passaportes, temem dar a cara para evitar represália, ou seja, uma recusa definitiva na emissão de vistos, até porque, dizem essas fontes, ninguém sabe o dia de amanhã. Por isso, sob anonimato, uma delas conta que entregou o seu processo a 30 de junho, no último dia da permanência consultar em São Vicente. “Pretendia viajar no dia 5 de agosto, mas até ainda não tenho nenhuma decisão. Já enviei muitos emails e não obtive resposta. Tenho um colega que enviou um email para o mesmo endereço e, por sorte, responderam. No seu caso, era para uma pessoa idosa, que inclusive já viajou. Eu não tive a mesma sorte.”
No seu caso, explica, comprou um lugar na enorme fila por quatro mil escudos, na esperança de conseguir entregar o seu dossiê. “Paguei para conseguir entregar o meu processo e ainda nada. Infelizmente, se a resposta for positiva, ou seja, se o meu passaporte vier com visto, já não vou conseguir viajar porque tenho um colega que inicia as suas férias em setembro. Tenho de me apresentar no serviço impreterivelmente no dia 01 do próximo mês”, desabafa esta mindelense, que pretendia gozar 15 dias de férias em Portugal.
“O meu propósito era desfrutar férias de verão junto dos meus dois filhos, que estudam em Portugal. Não sei se vale a pena viajar agora porque estudam em Bragança. Estavam à minha espera para marcar as suas férias, mas devido a imprevisibilidade do visto tiveram de iniciar sem eu viajar. Estou triste porque ficamos aqui num impasse, sem saber o que fazer, sobretudo quando temos trabalho. Neste caso, não podemos marcar férias e, a última da hora, pedir o adiamento”, sublinha.
Mais tranquilo, um reformado diz que vai aguardar “sem stress” o visto para Portugal. “Estou descontraído porque posso viajar a qualquer altura. Tenho a minha passagem marcada para 1 de setembro, então acredito que ainda tenho tempo. Mas, se até lá não enviarem o meu passaporte, posso adiar”, diz este utente, que entregou o seu documento no dia 26 de junho, no primeiro dia da permanência consultar, numa altura em que a fila circundava todo o quarteirão da Assembleia Municipal, tendo muitas pessoas pernoitadas no local para serem as primeiras atendidas.
Não “comprou” um lugar na fila, à semelhança de tantos outros porque, diz, uma pessoa fez a gentileza de ceder-lhe uma vaga. Mesmo sem pressa para viajar, confessa que telefonou por diversas vezes para o Centro Comum de Visto para se informar sobre o seu processo, mas ninguém atendeu. “Se até um de setembro não receber o meu passaporte, paciência. Espero que pelo menos nos devolvam os nossos passaportes, com ou sem visto. Sou reformado, por isso não estou tão preocupado”, acrescenta.
Crítica é, entretanto, a situação de uma mulher que, segundo uma outra fonte, fez uma cirurgia em São Vicente, mas as coisas correram mal e está à espera de um visto para, às suas expensas, ir fazer consultas em Portugal. “A minha amiga fez uma cirurgia, que não correu como esperava. Mesmo com dores, ela dormiu na fila na véspera da permanência consultar para conseguir uma das 70 vagas diárias e entregar os seus documentos. Ela está desesperada e quase todos os dias envia-me mensagens a perguntar se recebi alguma resposta do CCV porque precisa, com urgência, de tratamento.”
Professores desistem
No caso dos docentes, a situação é mais complexa tendo em conta o arranque eminente do ano lectivo. O Mindelinsite chegou à conversa com pelo menos quatro professores que confirmaram a desistência. “Sou professora e, desde 26 de junho, eu e minha família entregamos os pedidos e até ontem, 22 de agosto, ainda não obtivemos nenhuma resposta. Por isso, decidimos cancelar a viagem porque, como se sabe, as férias terminam já no início de setembro“, relata uma das docentes, que lecciona em uma das escolas secundárias de São Vicente. “Mesmo se receber o passaporte com visto hoje, por exemplo, já não tenho como viajar porque seriam apenas 15 dias e pelo preço dos bilhetes não seria viável.”
Inconformado, um outro professor deixa claro que se sente prejudicado e lesado porque, afirma, certamente o Centro não se responsabilizará. “Paguei por um serviço que não obtive resposta atempada“, enfatiza, enquanto outro mostra-se desiludido pela falta de celeridade do CCV. “Entreguei todo meu processo e, deste então, não consequi nenhuma resposta. Neste momento ficou muito tarde para viajar para quem, como eu, tem que estar no dia 8 no trabalho“, salienta.
Falta de respeito para com as pessoas é como caracteriza um outro professor esta demora e, principalmente, o silêncio do CCV, seja por email ou por telefone. “Na escola onde lecciono, fomos quatro professores que entregaram os seus documentos na esperança de conseguirmos o visto de férias. Infelizmente, nenhum de nós vai conseguir viajar porque as férias estão prestes a terminar. É frustrante. Enfrentamos filas, pagamos tudo o que era preciso, sem resultado”, sublinha.
A permanência consultar de junho, recorda-se, foi uma das mais mediáticas devido a enorme procura, após longos meses sem marcação online. Na ocasião, o CCV anunciou que iria receber um limite máximo de 350 processos. Destes, dizem as nossas fontes, poucos foram os que conseguiram o visto e já viajaram, sobretudo pessoas com alguma relevância nos serviços e em São Vicente.