Suspeita de “sabotagem” nos navios da CVI: Marítimos acusam vice-presidente do Grupo ETE de falta de respeito
Os marítimos nacionais denunciam aquilo que consideram ser falta de respeito e dizem-se preocupados e desapontados com as afirmações feitas pelo vice-presidente do Grupo ETE numa notícia da Inforpress – republicada pelo Mindelinsite – que considerou anormal a sequência de avarias e incidentes que se verificam nos últimos tempos nos navios operados pela empresa CV Interilhas. Do ponto de vista de Jorge Maurício, relembre-se, essas ocorrências já ultrapassam o limite do razoável. Mais chateados estão ainda com as suspeitas de sabotagem aventadas por Jorge Maurício, sem apresentar qualquer prova.
A discussão, que se espalhou pelo Facebook, foi provocada por uma publicação feita pelo antigo capitão dos Portos de Barlavento, Comandante Manuel Claudino Monteiro. Este começou por dizer que os tripulantes têm necessidades e responsabilidades maiores que infringem o receio de perderem os seus postos de trabalho marítimo. Criticou ainda o nato-morto AMARCV – Associação de Marítimos de Cabo Verde que, lembra, tem de entre outras funções a defesa dos interesses da classe, mas não funciona.
“Passar um ‘certificado de incompetência’ aos marítimos cabo-verdianos que asseguraram e asseguram a operação de navios de comércio nacionais ainda antes da existência desta empresa – e sem se realizar previamente qualquer averiguação técnica (empresarial ou independente) ou conhecer o seu resultado – só poderá partir de alguém que desconhece com a profundidade técnica requerida e desvaloriza a profissão marítima e dos seus recursos humanos empresariais”, criticou.
Para Monteiro, que é quadro superior do Instituto Marítimo e Portuário (IMP), aventar “sabotagem” entre as principais causas prováveis de avarias técnicas a bordo de navios que operam em viagens Inter-Ilhas no país mostra que se está perante uma “inovação tecnológica” do sector dos transportes marítimo e portuário.
Ás acusações de respeito para com os tripulantes e má gestão da manutenção dos navios, Manuel Claudino respondeu, dizendo que este é mais um caso e exemplo da urgência, necessidade e importância de implementação do sistema de gestão de segurança operacional a bordo dos navios mercantes (ISM Code) como impõe o regulamento nacional em vigor.
Ao que João Nicolau Monteiro reforçou que a aplicação do Internacional Safety Management em Cabo Verde depende dos interesses dos políticos, que, na sua opinião, não deixam as autoridades marítimas trabalharem com isenção. Manuel Rosa questiona ainda a função do IMP que, na sua perspectiva, tem-se limitado ultimamente a receber a percentagem dos bilhetes cobrados e a contabilizar, no final dos anos, alguns bons milhões de contos.
Quem se mostra descontente e descrente com a situação é também Américo Faria Medina. “Num ambiente, num mercado, num ecossistema empresarial e de negócios onde os utentes, trabalhadores e sindicatos, as empresas e autoridades fossem mais maduras, essa capciosa, irresponsável, cavilosa especulação ditava a demissão do rosto, do dono de tão infame e estapafúrdia, fantasioso recurso!”, assegura, sustentando que já há sinais fortíssimos nos episódios da “Novela CVI” de que os valores e princípios, “que devem ser pilares de uma empresa responsável e sustentável”, são francamente frágeis.
“Hoje, mais do que nunca, gerir, empreender, agir com ética significa tomar decisões dignas, pautando-se pelo respeito e compromisso com o bem, a integridade, a dignidade, a lealdade, o pudor, a responsabilidade, a justiça, a isenção, a solidariedade e a equidade! Esse rosto público inominável da CVI é um autêntico desastre, carente de skills e ferramentas para o exercício do cargo e missão!”, diz, acrescentando que o rosto público da CVI mais parece um administrador “renascido dos tempos do tráfico negreiro”, saído de uma “estação de recauchutagem chinesa”, para se adaptar aos novos tempos.
Muitos outros marinheiros concordaram com a publicação do Comandante Manuel Claudino Monteiro, caso de Bernardino Barros, António Reis, que se dizem ofendidos e estupefactos com tamanha ofensa aos tripulantes que, dizem, muitas vezes trabalham e se sacrificam 24 horas consecutivas para os navios poderem navegar. No caso de Reis, este vai ainda mais longe e afirma que, da sua experiência como marítimo nos últimos três anos em um navio de uma companhia turca, nunca houve uma única avaria e tem um sistema de gestão de qualidade. “O mais provável na CVI é a incompetência da companhia e seus gestores medíocres. Técnicos e engenheiros mal qualificados,” concluiu.