Surpreso com nível de aumento salarial no BCV, presidente de plataforma sindical defende ajuste nunca inferior a 8% para “restantes” trabalhadores
O aumento salarial aplicado ao governador e administradores do BCV pode ter um custo sociopolítico pesado para o Governo liderado por Ulisses Correia e Silva. De todos os quadrantes surgem críticas à medida, despontando da sociedade civil, dos sindicatos e dos partidos políticos com assento parlamentar. Até agora, a decisão foi contestada pelo MpD-Praia, a UCID e o PAICV, enquanto a UNTC-CS, central sindical, também manifestou o seu desagrado a esse aumento “colossal” dos vencimentos dos gestores do Banco de Cabo Verde, decretado pelo Conselho de Ministros, em contraposição com o atribuído aos funcionários públicos.
Agora foi a vez da Plataforma dos Sindicatos, cujo presidente Eliseu Tavares manifestou ao Mindelinsite a sua estranheza com o aumento salarial atribuído a esse grupo de gestores do banco central. Eliseu Tavares especifica que a questão não se prende propriamente com a subida em si porque, enquanto sindicalista, quer ver uma melhoria do vencimento dos trabalhadores. “O problema tem a ver com a discriminação, a injustiça e a segregação dos restantes trabalhadores das instituições públicas”, comenta o responsável da plataforma sindical Unir e Resgatar a UNTC-CS.
Tavares argumenta que o Orçamento do Estado para 2023 levou em consideração trabalhadores que ganham até 69 contos por mês, pelo que estranha o aumento atribuído ao governador e administradores do BCV, cujos salários são superiores. Mais especificamente, revela que o Orçamento foi preparado para comportar uma subida máxima de 3,5% para funcionários que auferem salários até 33 mil escudos, o que, diz, representa um acréscimo efectivo de cerca de mil escudos. Para quem ganha até 51 contos, o aumento foi de 2%, ou seja, igualmente mil escudos na conta. “Por esta razão ficamos escandalizados com a medida aplicada ao pessoal do BCV. Gostaríamos de entender porque foi dado um aumento tão exorbitante em termos percentuais apenas para uma pequena classe”, exclama.
Apesar disso, o sindicalista considera que essa situação pode agora constituir uma oportunidade para o Governo apadrinhar um aumento significativo também para os funcionários públicos, uma forma de mostrar que, realmente, respeita a classe trabalhadora. Um aumento em 2024 que, profetiza, seja suficiente para dar cobertura a inflação registada em 2023, que se situa nos oito por cento.
Este número parece ser consensual entre as duas centrais sindicais, o que, para Eliseu Tavares, é uma oportunidade para todos os sindicatos pressionarem o Executivo em prol dos interesses dos trabalhadores. Este deixa claro que não se deve aceitar uma subida inferior aos 8 por cento. E, caso o Governo, venha a mostrar resistência, defende a realização de um forte protesto em todas as ilhas.