Saída da “Biosfera” do Ilhéu Raso é consequência da “anarquia” no sector do ambiente, segundo biólogo Aníbal Medina
O biólogo Anibal Medina considerou esta manhã que a polémica decisão da Biosfera I de abandonar o Ilhéu Raso é consequência da anarquia instalada no sector do ambiente, alimentada pela recente publicação do diploma que permite a caça submarina de teor comercial. Medina, que ja foi director do INDP, afirma que esse diploma legal veio autorizar a pesca indiscriminada e sem controlo, algo que está a ser banido em toda a parte do mundo. Por este motivo, entende ser urgente a revisão dessa lei, “que não reúne as condições mínimas de aplicabilidade”, mas com a colaboração de todas as partes.
“Estou à vontade para falar deste assunto porque não faço parte da Biosfera, não obstante entender que se trata de uma organização incontornável no contexto da conservação ambiental em Cabo Verde, um rosto que representa o país a nível internacional. Para mim é grave a Biosfera ter que cessar o seu trabalho por causa de ameaças”, considera Anibal Medina.
Questionado se acredita que os técnicos da Biosfera foram realmente ameaçados, já que alguns mergulhadores desmentem essa informação, responde que sim. “Digo isto porque não acredito que a organização viesse inventar algo do tipo. Quando não há uma ponte de comunicação eficaz há espaço para desentendimento. Além disso, já fui também ameaçado por pescadores no exercício da minha actividade profissional”, frisa Anibal Medina, doutorado em Oceanografia.
Medina abordou este polémico assunto à margem de uma palestra sobre a problemática da proteção dos oceanos realizada hoje para assinalar o dia mundial dos oceanos. O evento, que decorreu no Centro Oceanográfico do Mindelo, envolveu especialistas do IMar, da Universidade Técnica do Atlântico (UTA) e da Biosfera I e contou ainda com a assistência de alunos do ensino secundário, empresas e investigadores. Segundo Vitú Ramos, vogal executivo do IMar, esta actividade seguiu as indicações da ONU, que escolheu como lema para este dia mundial a “vida e subsistência dos oceanos”.
A indicação é que a segurança e preservação do mar seja vista agora como uma questão de sobrevivência da própria humanidade. “Chegamos a um ponto em que passamos a falar da sobrevivência humana, se levarmos em consideração a pressão que os oceanos estão a ser submetidos”, enfatiza o Coordenador do Centro Oceanográfico do Mindelo, lembrando o quanto o mar é fundamental para o comércio mundial, o sector do turismo, o fornecimento de alimento e no combate ao aquecimento global.
Segundo Ramos, nalgumas paragens o nível da pressão da actividade humana nos oceanos é crítico, cenário que ainda não acontece em Cabo Verde. Isto porque, salienta, a industrialização é fraca, logo Cabo Verde não polui tanto como outros países. No entanto, sublinha, o arquipélago está alinhado com as indicações da ONU, pelo que realizou esta manhã a palestra “O Oceano, vida e subsistência”, na ilha de S. Vicente.