Relatório do inquérito aos óbitos de bebés no HBS será divulgado na segunda-feira, segundo Ulisses C. e Silva
Na tomada de posse de Helena Rorigues como nova PCA do HBS, o Primeiro-ministro anunciou a divulgação do relatório do inquérito às mortes dos sete bebés na próxima segunda-feira.
O relatório do inquérito aos óbitos de sete recém-nascidos ocorridos no mês de maio no serviço de neonatologia do Hospital Baptista de Sousa será apresentado na próxima segunda-feira pelos especialistas enviados da Cidade da Praia pelo Ministério da Saúde para o efeito. O anúncio foi feito esta manhã pelo Primeiro-ministro no acto da tomada de posse dos novos membros do Conselho de Administração do HBS, tendo Ulisses Correia e Silva assegurado aos presentes que será despoletado logo de seguida o processo de responsabilização, tendo por base a conclusão do apuramento.
“A responsabilização não representa necessariamente a culpabilização. Mas, o sistema cresce e melhora quando as responsabilidades são assacadas”, considerou o Chefe do Governo, que quer ver assegurada de forma permanente a confiança nas relações entre o hospital e os utentes. Enfatizou, aliás, que o HBS tem de “ser” e “parecer” uma instituição de confiança. “Se já é, tem de ser mais e melhor”, reforçou.
Dirigindo-se à plateia repleta de funcionários do HBS, mas com a notada ausência da ex-administradora Ana Brito, o Primeiro-ministro afirmou que é preciso agir quando ocorrem no estabelecimento situações “menos boas”, para se apurar as causas e tomar decisões, mas sem que isso belisque a confiança da própria instituição.
Para Ulisses Correia e Silva, a missão que espera a nova administração do HBS é exigente, numa alusão indirecta à enorme expectativa da sociedade cabo-verdiana sobre o desempenho da empossada equipa liderada por Helena Rebelo Rodrigues. Mesmo assim, diz esperar que a administração consiga elevar o nível profissional do atendimento público no HBS, que seja prestado um serviço com mais qualidade e alcançada a excelência na gestão dos recursos humanos, financeiros e tecnológicos.
Nova administração promete apurar causas das mortes perinatais
Estes e outros desafios já tinham sido assumidos por Helena Rodrigues no seu discurso. Na sua mensagem, a nova responsável do HBS fez questão de garantir às mães que perderam os seus filhos que a sua gestão vai procurar obter a explicação para as mortes ocorridas na ala da maternidade. “Estejam cientes de que a direção ora empossada empenhar-se-á na procura da explicação destes óbitos perinatais, assim como das respostas que se impõem perante esta provação do passado recente do HBS”, assegurou a gestora. Helena Rodrigues reforçou que vão continuar a aperfeiçoar o processo de assistência dispensada à mulher na gestação e no parto puerpério e zelar para que as grávidas tenham uma experiência mais humanizada no HBS.
Helena Rodrigues reconheceu que os utentes/doentes são a razão da existência do HBS, pelo que, na sua perspectiva, é preciso proporcionar não só a medicina tecnicamente ajustada, mas também o conforto físico e humano para que o hospital seja referência na humanização dos cuidados. Neste sentido, informa, já estão delineadas várias ações como a criação de portais e balcão único – inseridos no modelo de proximidade com o utente –, activar o Provedor do Utente – uma entidade à qual os utentes do HBS poderão se dirigir para um atendimento personalizado com vista a resolução de problemas, esclarecimentos, expor casos, apresentar reclamações e dar sugestões/contributos para a melhoria da qualidade dos serviços do HBS.
Internamente, a administração tenciona valorizar o seu activo profissional e o pessoal reformado, ouvir o que os funcionários pensam, respeitar as suas posições e proporcionar-lhes “boas” condições de trabalho. “É fundamental que a marca HBS seja sinónimo de confiança, de qualidade, profissionalismo, humanismo, competência e transparência”, considera Helena Rodrigues, que pretende ainda repensar e rever os métodos de trabalho no HBS e apostar em metodologias “inovadoras” para satisfazer as necessidades da população. Para ela, o sucesso do trabalho que têm pela frente só pode ser um exercício colectivo.
A ministra da Saúde, Filomena Gonçalves, que deu posse ao novo conselho administrativo do HBS, assume que a equipa liderada por Helena Rodrigues está ciente do poder e da responsabilidade que tem em mãos de propiciarem um funcionamento adequado do HBS para satisfazer as necessidades da população. “Não duvidamos que estejam cientes e preparados para mais esta missão”, exclamou a governante, que espera ver o HBS continuar a ser referência nacional no domínio sanitário. Filomena Gonçalves realçou que o estabelecimento público tem conseguido reorganizar-se ao longo dos anos apesar dos desafios enfrentados, aplicando sempre os princípios da eficiência.
“Se este é um momento em que publicamente marcamos o início de uma nova era na vida deste hospital central e da comunidade hospitalar, ao mesmo tempo reconhecemos, com convicção, os progressos obtidos no sector da saúde através da actuação desta importante e incontornável estrutura hospitalar”, disse Filomena Gonçalves.
Todos os intervenientes agradeceram o trabalho feito pela administração-cessante, presidida pela médica Ana Brito. Porém, foi notória a ausência da ex-gestora na cessação das suas funções. A substituição do conselho de administração do HBS acontece numa altura bastante crítica, marcada pela morte repentina de sete bebés no serviço de neonatologia. Os casos foram denunciados pela imprensa e deram lugar a abertura de um inquérito por uma equipa técnica independente nomeada pela ministra da Saúde, cujo resultado será divulgado na próxima segunda-feira. Além disso, Ana Brito chegou também a anunciar o apuramento interno das causas do sucedido, mas sai ainda antes da conclusão dessa investigação.
O inquérito instaurado pelo MS tem por objectivo específicos apurar os factos inerentes aos cuidados médicos, de enfermagem e de atendimento prestado às mães e às crianças; descobrir as causas que estiveram na origem das mortes dos bebés nesse serviço do HBS, os procedimentos técnicos e administrativos adoptados na emissão dos atestados de óbito e como ocorreu a comunicação com os pais e familiares dos recém-nascidos. A investigação deveria também envolver as práticas aplicadas em termos de segurança e qualidade da prestação dos cuidados aos pacientes.
O Ministério da Súde nomeou uma equipa de especialistas nas áreas de Gineco-obstetrícia, Neonatologia e Enfermagem composta por profissionais do Hospital Agostinho Neto e da Direção Nacional da Saúde, que deverão apresentar o relatório final na próxima segunda-feira.