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Rede Cabo-verdiana de Direitos Humanos reforça onda de repúdio à sanção disciplinar aplicada à directora da TCV

A Rede Cabo-verdiana dos Defensores de Direitos Humanos condenou hoje a decisão do Conselho de Administração da RTC de aplicar à diretora da Televisão de Cabo Verde (TCV),  a jornalista Bernardina Ferreira, uma sanção disciplinar de suspensão por 45 dias, com perda de vencimento. Para a RECADDH , esta medida constitui um “ato de represália e uma grave violação do direito à liberdade de imprensa”, que, lembra, está garantido pela Constituição e por tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Estado cabo-verdiano.

A Rede entende que punir uma profissional por defender a legalidade e a autonomia editorial da televisão pública representa uma “ingerência política e administrativa inaceitável”, que, sublinha, ameaça a independência dos jornalistas e o pluralismo informativo, pilares essenciais de uma sociedade democrática.Igualmente, a Rede considera incompreensível o silêncio do Conselho Independente da RTC, órgão que tem o dever legal e ético de zelar pela autonomia e imparcialidade editorial do serviço público de comunicação social”, reforça o organismo. Salienta que a ausência de uma “resposta firme e transparente” por parte deste órgão e das autoridades competentes pode ser interpretada como “conivência institucional com a erosão da liberdade de imprensa” no país.

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A RECADDH recorda que o Estado tem a obrigação constitucional de garantir o livre exercício da atividade jornalística, proteger os profissionais da comunicação social de qualquer forma de perseguição ou retaliação e assegurar que os órgãos públicos de media atuem com independência face ao poder político e económico. Face ao exposto, decidiu condenar publicamente a decisão do CA da RTC, “por configurar uma forma de retaliação e intimidação contra o exercício legítimo da função jornalística”, exigir a imediata intervenção do Conselho Independente da Comunicação Social e das autoridades competentes, com vista à reposição da legalidade e ao restabelecimento da normalidade institucional.

Além disso, a Rede, que expressa total solidariedade com a jornalista Bernardina Ferreira, apela ao Governo de Cabo Verde para cumprir o seu dever constitucional de garantir a independência dos órgãos públicos de comunicação social. Assegura, por outro lado, que vai continuar a monitorar e denunciar todas as formas de violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais em Cabo Verde.

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AJOC, Parlamento e ARC

O posicionamento da RECADDH junta-se ao comunicado da Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde, que também condenou de forma veemente a decisão do Conselho de Administração da RTC. A AJOC lembrou ainda que a medida – que se segue a duas deliberações da Autoridade Reguladora para a Comunicação Social (ARC) que confirmaram “interferências ilegítimas” do CA nos conteúdos editoriais da TCV – constitui um ato de represália e de intimidação grave, incompatível com os princípios de uma imprensa livre e independente.

O assunto foi também alvo de uma intervenção no Parlamento pela deputada Carla Lima, que considerou a sanção disciplinar como uma “perseguição” à jornalista Bernardina Ferreira. A parlamentar reforçou que a directora da TCV foi punida por “defender a autonomia editorial da televisão pública e resistir a interferências externas”. Recordou ainda que duas deliberações formais da ARC confirmaram essas interferências e que deram lugar a um processo contra a TCV.

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O processo de contraordenação da ARC, noticia a Inforpress, está relacionado com a decisão do administrador Victor Varela, que exercia funções de presidente do Conselho de Administração, em substituição de Karine Miranda, de indeferir a realização de um episódio do programa “Show da Manhã” no concelho do Tarrafal de Santiago. A ARC aplicou, na sequência, uma coima de 350 mil escudos ao conselho de administração da RTC na quinta-feira, mesmo dia em que a administração da empresa decidiu suspender a directora da TCV.

Conforme a ARC, isto ocorreu porque o PCA entendeu que a direcção da TCV “não possui competências para firmar acordos, estabelecer parcerias ou gerir recursos humanos da concessionária”. De acordo com o Conselho Regulador da ARC, apesar de se reconhecer a legitimidade da preocupação manifestada pelo CA quanto à deslocação dos recursos humanos exigidos para a execução do programa e à necessidade de uma intervenção atempada da administração, tais argumentos revelam-se insuficientes para justificar o acto de indeferimento do pedido de deslocação.

Assim, conforme apurou a Inforpress, o Conselho Regulador considerou que, ao impedir a deslocação da equipa, a administração “violou a norma que garante a autonomia editorial e a liberdade de programação do órgão, comprometendo a missão de serviço público”.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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