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Professores de S. Vicente estão à altura do desafio do ensino à distância, segundo Delegada da Educação

A experiência do ensino à distancia, que arrancou ontem, é inédita em Cabo Verde e ainda há muitas incertezas, razão para esta entrevista com a Delegada do Ministério da Educação em S. Vicente. Maria Helena Andrade garante que, até segunda-feira, 27, não haverá “tele e radio aulas”, apenas sessões informativas sobre a organização e metodologia para toda a comunidade educativa. Só então começam a ser disponibilizados os conteúdos, já trabalhados nas salas de aula, para consolidar a aprendizagem. Também não haverá avaliação. Entretanto, Helena Andrade não tem resposta para os professores que dizem estar a utilizar os seus meios para contactar os pais e encarregados de educação. Admite que é uma das questões em cima da mesa. Por agora, destaca o envolvimento dos docentes e mostra-se confiante na capacidade da classe para vencer mais este desafio.

Por Constança de Pina

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Mindel Insite: O ensino à distancia iniciou oficialmente ontem, segunda-feira. De que tipo de ensino estamos a falar, no caso concreto da ilha de Sã Vicente?

Helena Andrade: Iniciamos com sessões informativas sobre a organização das “tele e áudio-aulas” e sobre metodologia para a comunidade educativa: alunos, professores, pais e encarregados de educação. As aulas à distância propriamente ditas vão começar na segunda-feira próxima, 27. O objectivo é informar as pessoas sobre a forma como vai decorrer este processo.

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MI: Em que consistem exactamente estas sessões informativas?

HA: Nesta fase, os professores, mais precisamente os directores de turma, estão a contactar os pais e encarregados de educação para solicitar informações sobre os recursos disponíveis em casa para operacionalizar as aulas à distância. Ou seja, estão a tentar perceber os meios mais fácies para se processar esta comunicação, que pode ser através da rádio, televisão ou internet – através de aplicativos como Viber, Messenger, WhatsApp… Enfim, todas as formas que permitem ao professor ter  um contacto directo com os alunos.

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MI: Para fazer todos estes contactos, o Ministério da Educação disponibilizou megas ou pacotes aos professores?

HA: Estamos a contar com a disponibilidade dos professores que, utilizando os seus meios, estão a telefonar para os pais e encarregados de educação. Sabemos que os directores de turma têm os contactos e estão a telefonar. Para os pais que não dispõem de rádio, televisão ou internet as fichas que estão a ser preenchidas pelos docentes são disponibilizadas em formato papel. O nosso objectivo é atingir os alunos na sua totalidade. 

MI: A responsabilidade de fazer chegar as fichas em formato papel aos pais e encarregados de educado também é dos professores?

HA: Não, os professores produzem as fichas e enviam para as escolas onde leccionam. É a escola que tem a responsabilidade de fazer a sua reprodução e entrega aos destinatários, no caso, os pais e encarregados da educação dos nossos alunos.

Meios para facilitar contactos

MI: Mas, o Ministério da Educação está a disponibilizar meios para facilitar estes contactos? Estamos a falar em concreto de megas ou pacotes para os telefonemas para os contactos com os pais e encarregados de educação, tendo em conta que tem havido muita reclamação de docentes nas redes sociais.

HA: Esta é uma questão que não posso responder neste momento porque me ultrapassa. Tem de ser mais a nível dos serviços centrais, pelo que não consigo dizer como o ministério pondera resolver a questão das comunicações. O que posso adiantar é que um assunto em cima da mesa e que está a ser pensado. 

MI: Referiu que esta semana é informativa, o que em concreto vai acontecer a partir da próxima segunda-feira?

H: A partir do dia 27, o primeiro ciclo – 1° ao 4° ano – vai começar a ter aulas à distancia de três disciplinas. Assim, teremos na segunda-feira Língua Portuguesa, na terça-feira será a vez de Ciências e, na quarta-feira a disciplina de Matemática. Iremos avançar com os demais ciclos nas próximas semanas. No secundário, serão introduzidas, paulatinamente, nas disciplinas nucleares de Língua Portuguesa e Matemática.

MI: Os conteúdos serão leccionados por professores de todas as ilhas?

H: Não, as aulas na rádio e televisão serão disponibilizadas pela Direcção Nacional de Educação, através dos Serviços Centrais na cidade da Praia. A nível nacional foi solicitado o levantamento de todas aos materiais, ou seja, os conteúdos trabalhados e não trabalhados para que possa haver uma harmonização das aulas. Queremos que haja o máximo de equilíbrio possível. 

Objectivo não é avaliar o aluno

MI: Significa que neste momento há uma harmonia em termos de conteúdos programáticos…

H: Exacto, falo concretamente do ensino básico em que temos, com regularidade, reuniões concelhias e coordenações. Há um certo equilíbrio. É claro que não é possível conseguir uma harmonia total porque, muitas vezes, trabalhar os conteúdos difere dos professores e das próprias turmas. Às vezes acontecem também imprevistos. Enfim, há muitos condicionantes dentro de uma sala de aula que, como se sabe, não se resume na transmissão dos conhecimentos. Mas há um equilíbrio possível. 

MI: Como vai ser feita a avaliação dos alunos?

HA: Ainda não estamos a pensar na avaliação. Nesta fase, o objectivo das aulas é basicamente para os alunos manterem o contacto com os conteúdos e com a escola. Neste sentido, as fichas e as aulas que vão ser ministradas serão sobre os conteúdos já trabalhados no primeiro e segundo trimestre deste ano lectivo. O que estamos a fazer é uma consolidação da matéria dada e uma preparação para os conteúdos que serão ministrados assim que retomarmos as aulas presenciais.

MI: Então não serão ministradas matérias novas?

HA: De jeito nenhum. Vamos trabalhar com conteúdos que já foram leccionados dentro das salas de aula porque o objectivo não é avaliar o aluno. Isto tem que ficar muito claro e tem havido alguma confusão. Os alunos não vão ser avaliados agora. Vamos ter de aguardar a evolução da situação para ver como proceder, até porque estamos em estado de emergência até o próximo dia 02 de Maio. Só a partir daí é que iremos analisar e ver os cenários possíveis, ou seja, os próximos passos, que é algo que não podemos prever neste momento. Infelizmente, esta pandemia está a afectar o mundo inteiro e surpreendeu-nos a todos. Por isso, temos de ir trabalhando passo a passo. 

Passagem directa 

MI: O primeiro-ministro disse no Parlamento na última Sexta-feira que a avaliação do terceiro período para os alunos das ilhas com riscos epidemiológicos de propagação de Covid-19 será feita com base apenas nos dois períodos anteriores. Como é que este método vai se processar em S. Vicente?

HA: Ainda não temos quaisquer informações em relação a isso, pelo que não posso falar deste aspecto. É algo que não sabemos como vai ficar. Sabemos que os alunos do 12° normalmente por esta altura já estão a preparar para concorrer a vagas e bolsas. Neste momento estamos a trabalhar os possíveis cenários especificamente para estes alunos. É uma situação mais complicada, mas é algo que vemos em todo mundo. Mesmo os estudantes que deveriam ir para o Brasil, Alemanha ou Portugal estão impedidos neste momento. Sabemos felizmente que Portugal já alargou o prazo do concurso para entrada nas universidades. Enfim, as coisas estão ainda muito confusas. Ninguém sabe como ou quando a situação vai normalizar. 

MI: Como é que os professores de S. Vicente acolheram esta proposta de ensino à distância? 

H: A informação que tenho dos responsáveis e direcções das escolas é que os professores estão a aceitar isso muito bem. Logicamente que há sempre os mais reticentes. Tudo o que é novo e diferente suscita dúvidas e inquietações de início, o que é normal. Acredito que esta experiência vai permitir aos professores conhecerem melhor os seus alunos. Tenho também recebido mensagens de professores a disponibilizar os seus préstimos, sobretudo na área das novas tecnologias e para apoiar os colegas com menos conhecimento. É um desafio, mas acredito que vamos conseguir porque os professores de S. Vicente estão à altura e têm sido grande parceiros. 

Aproveito para agradecer o seu engajamento porque, se cada um não fizer a sua parte, não vamos conseguir avançar com este processo de ensino à distancia. Esperamos contar também com ajuda dos pais em casa no acompanhamento dos filhos para podermos ter um retorno positivo também da sua parte. 

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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2 Comentários

  1. Antão não estão ? Mulherzinha aqui nem sabe o que é ensino á distancia quanto mais para vir falar em nome dos profs. Mas para ela é normal dizer essas leviandades. Se fosse questionada diria que os professores estão a altura de ir colonizar Marte.

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