PM pediu ao SG das Nações Unidas para ser “advogado” dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento
O Primeiro-ministro pediu hoje ao Secretario-Geral das Nações Unidas, que se encontra em São Vicente para participar na Cimeira do Oceano, que seja o “advogado” dos pequenos estados insulares em desenvolvimento (PEID), que merecem uma atenção muito especial. Para Ulisses Correia e Silva, que falava à imprensa no final de um encontro com António Guterres, as crises (climáticas, energéticas e alimentares) têm atingido todos os países, mas de forma muito particular e incisiva os pequenos estados insulares, como é o caso de Cabo Verde.
Cabo Verde, disse Correia e Silva, tem vivido momentos difíceis. “As crises que atingem a todos, têm afectado de uma forma muito particular os pequenos estados insulares em desenvolvimento”, reforçou, não obstante admitir que o arquipélago tem dado boas respostas, por exemplo a nível da gestão da pandemia da Covid-19 em que o país atingiu níveis elevados de vacinação. Conseguiu proteger as empresas e cuidar das famílias, mas com encargos muito elevados para a economia.
“Quanto estávamos a iniciar a recuperação – em 2020 tivemos um crescimento de 14,8% e, em 2021, de 7% -, apanhamos a guerra da Ucrânia, que fez com que o impacto inflacionista atingisse a nossa economia de forma muito forte. Mas, mesmo assim neste contexto, a nossa economia vai crescer em 2022 entre 8 a 12%”, assegurou o Chefe do Governo.
Prioridades para as Nações Unidas
Em resposta, António Guterres garantiu que os PEID são uma prioridade para as Nações Unidas. “Precisamos de justiça para aqueles que, como Cabo Verde, praticamente nada fizeram para provocar esta crise mas pagam, por causa dela, um preço muito elevado”, declarou, frisando que têm defendido com insistência que os países desenvolvidos devem cumprir o compromisso assumido em Paris de garantir 100 milhões de dólares aos em desenvolvimento. “Deveria ter começado em 2020, estamos em 2023 e até agora isso não aconteceu”, lamentou.
Mas o secretario-geral das NU acredita que é possível duplicar os fundos para a adaptação. Guterres admitiu que houve um compromisso para dobrar o financiamento, mas ainda não viu um programa de ação para ter certeza que isso vai concretizar. E as perspectivas não são boas, tendo em conta a ineficácia do Fundo Verde e as dificuldades de acesso encontradas pelas pequenas economias.
Inconformado, Guterres disse que se sente frustrado porque o mundo está a perder a luta contra as alterações climáticas e também porque os lideres mundiais não estão atentos a esta emergência, que é de vida ou de morte. “Estamos perante a luta das nossas vidas e infelizmente estamos a perdê-la”, desabafou, realçando que as emissões continuam a aumentar e as temperaturas a subir.
“Estamos prestes a ultrapassar o limite de 1,5 graus e, se nada for feito, caminho na direção, dos 2,8 graus de aquecimento global até ao final do século. Seria uma catástrofe de consequências devastadoras. Várias partes do nosso planeta seriam inabitáveis, particularmente em África. Para muitos, esta seria uma sentença de morte”, detalhou, acrescendo que o momento é de mais solidariedade, maior sentido de urgência e mais ambição.
O SG das Nações Unidas iniciou hoje uma visita de três dias a Cabo Verde, no âmbito da Ocean Race, regata faz escala em São Vicente. Hoje, depois do encontro com o PM, visitou o Ocean Village e participou no evento “Speaker Series”, com Correia e Silva, no Centro Nacional de Artesanato e Design.