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Onésimo Silveira: Escritor, político e obreiro da transformação da cidade do Mindelo

Cabo Verde e principalmente São Vicente acabam de perder um dos seus mais diletos filhos. Livre, irreverente, de personalidade forte e espírito determinado e controverso, Onésimo Silveira fica para a história como o homem que romantizou e transformou a política numa rica aventura humana. “Cuxim”, como era tratado pelos mindelenses, cumpriu a promessa de só se retirar da política com a sua “morte biológica”.

A notícia da morte do antigo presidente da Câmara de São Vicente foi dada hoje pela presidente da Assembleia Municipal, na abertura de uma sessão extraordinária de trabalho. De imediato, o ambiente ficou “triste” e Dora Pires decidiu suspender os trabalhos e determinar um minuto de silêncio. 

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“Onésimo Silveira sempre fez a sua luta em prol da liberdade e da democracia em Cabo Verde. Esteve muito tempo fora e depois regressou ao país. Foi um presidente da Câmara da qual todos os munícipes de S. Vicente e de Cabo Verde se orgulham. Nesta hora é com dor e tristeza que recebemos a notícia do seu passamento, daí que, estando numa sessão, aproveitamos para fazer um minuto de silêncio e suspender os trabalhos em honra a este grande homem que todos nós devemos tirar o chapéu por aquilo que foi, por aquilo que fez e pelas marcas que deixa na política cabo-verdiana”, frisa Dora Pires, numa reação ainda a quente. Esta informou ainda que o corpo será encaminhado para o salão nobre da Câmara Municipal onde lhe serão prestadas as homenagens. Embora com a situação da pandemia, a presidente da AM pede ao povo para se juntar num último adeus ao “Cuxim”.

Já o edil Augusto Neves vê o falecimento de Silveira como uma grande perda para S. Vicente, Cabo Verde e o mundo, por ter trabalhado em muitos países. “Um grande político, um grande democrata, um excelente escritor…; acho que estamos a perder mais uma das grandes figuras sanvicentinas e cabo-verdianas. Sendo ele o primeiro presidente-eleito, iremos conversar agora com os familiares e ver tudo aquilo que poderá ser feito, juntamente com a AM, para podermos, neste momento difícil, homenagear dignamente esta figura incontornável e singular cabo-verdiana”, assegura Neves. 

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A informação do falecimento de Silveira chegou através de Albertino Graça, que foi uma pessoa próxima do malogrado, apanhando alguns presentes de surpresa. “Sabíamos que estava doente, mas as informações era de que estava bem. A autarquia irá honrar esta grande figura”, promete Augusto Neves.

Nascido a 16 de fevereiro de 1935, fez o seu curso liceal em São Vicente e ainda jovem partiu para São Tomé e Príncipe. Foi lá que iniciou a sua atividade poética, talvez pela nostalgia de deixar a sua terra ou então impulsionado pelo ambiente e pelas agruras da emigração. Ruma à Suécia na década de ’60, onde se licencia. Paralelamente, ganha notoriedade como poeta, intelectual e opositor à política colonial, com ligação a Amílcar Cabral e ao PAIGC. A sua projeção catapultou-o para um alto cargo na ONU. Posteriormente, como Embaixador de Cabo Verde em Portugal (2002), mostrou toda a sua capacidade diplomática e política. Em 2012, o seu percurso é reconhecido com a atribuição de Doutoramento Honoris Causa pela Universidade do Mindelo.

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Em Cabo Verde marcou definitivamente o panorama político ao se eleger presidente da CMSV (1992), cargo que exerceu por dois mandatos consecutivos. Famosos são os seus discursos de campanha eleitoral, em que prendia o público no encantamento das suas palavras, enquanto político-poeta ou vice-versa. Detentor de um faro político por excelência, encarnou o inconformismo dos mindelenses, com determinação e ar desafiador.

Fez as pessoas olharem para a política de forma mais romântica, e não apenas como um dever cívico. Como figura pública, ganhou desafectos, muito por conta da sua personalidade complexa. Mas todos lhe reconhecem o seu amor à terra. Trouxe o progresso urbano para a cidade do Mindelo no pós-independência, o que lhe valeu a alcunha de “Presidente das praças”, mas sempre preservando a verdade histórica do país. Assumiu também integralmente a defesa do património histórico-cultural de São Vicente.

Paralelamente, hasteava a bandeira da Regionalização, esta última uma luta que fica para as gerações vindouras. Esta causa levou-o ainda recentemente às ruas do Mindelo em manifestações que ficam para a história, cumprindo assim a sua promessa de só se retirar da política com a sua “morte biológica”.

Constânça de Pina

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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