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Oliveira promete parar de atacar juízes se STJ permitir saída do emigrante Arlindo Teixeira de CV e for devolvido apartamento a idosa, no Sal

“Estou de joelhos, não por medo do STJ, mas porque acabei por destruir a vida de Arlindo Teixeira, que confiou em mim durante 5 anos e não pude resolver a sua situação na justiça, Amadeu Oliveira.

O jurista Amadeu Oliveira confessou ao Mindelinsite que está disposto a suspender os ataques e acusações que tem desferido contra o sistema judicial se o Supremo Tribunal de Justiça autorizar que o emigrante Arlindo Teixeira regresse para França e seja devolvido um apartamento à emigrante e idosa Maria de Fátima Faial, na ilha do Sal. Sengundo o mesmo advogado, esses dois processos  aguardam há muitos anos por um desfecho, sem fim à vista. Ainda segundo o mesmo, estes dois casos revelam o nível de insensibilidade, manipulação  e desumanidade reinante no sistema judicial em Cabo Verde, pelo que, para ajudar essas duas vítimas, aceitaria parar a sua luta e os consequentes ataques a magistrados. “Mas continuaria a ver o sistema com maus olhos!”, faz notar.

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Oliveira explica que Arlindo Teixeira, sendo emigrante em França, veio, em Julho de 2015, passar 45 dias férias em Cabo Verde e ver se conseguiria montar um negócio. Entretanto, foi envolvido, sem culpa, num crime que não cometeu, acabando por ser condenado em Santo Antão a 11 anos de prisão, por um suposto  homicídio. “Somente viria a ser libertado, por ordens do Tribunal Constitucional depois de ter sofrido 2 anos, 8 meses e 26 dias de uma prisão ilegal, arbitrária, inconstitucional e imoral“, qualifica o jurista.

Segundo Oliveira, só que, em vez de ser libertado de forma incondiconal, o Supremo Tribunal de Justiça, “agindo fora do quadro legal”, mandou apreender todos os seus documentos, decretou a sua interdição de saída de Cabo Verde e sujeitou-lhe ao comparecimento 3 vezes por semana na Polícia Nacional em São vicente, até a data de hoje. Isso significa, diz, que desde Junho de 2015 até a data de hoje esse emigrante continua retido no país, não tendo família, trabalho, segurança social, nem nenhum suporte aqui, pelo que, entende, seria melhor que continuasse preso. 

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“Ele acabou por ficar numa situação desumana e diabólica provocada pelo STJ, que decidiu, num claro gesto de abuso de poder, impedi-lo de sair de Cabo Verde e regressar à França, onde deixou a sua família e fez a sua vida”, justifica Oliveira, para quem o seu constituinte acabou por continuar preso, agora numa cadeia ao ar livre, e a pagar um preço muito caro. Por conta dessa medida, acrescenta, Arlindo Teixeira encontra-se bastante doente, sem dinheiro, sem trabalho e sem assistência social. E, para piorar a sua situação, a mãe faleceu hoje, 11 de Fevereiro de 2021, em França e o pai encontra-se internado em estado grave.

“Seria muito melhor se ele continuasse preso porque na cadeia tinha 3 refeições, banho e assistência médica. Cá fora ele não tem nada, sequer uma integração social. Ele não está a viver e isto é revoltante porque demonstra o nível de desumanidade do Supremo Tribunal de Justiça. Ficou sem a mãe, corre o risco de perder o pai e os filhos que deixou menores já estão pessoas feitas, sem a companhia do pai ”, reage o jurista.

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Este adianta que este caso poderia ser resolvido pelo juiz João Pinto Semedo, presidentedo Tribunal Constitucional – onde decorre um pedido de amparo para permitir a viagem de Teixeira para a Europa – ou pelo STJ actualmente presidido pelo Juiz Benfeito Mosso Ramos, que tem em mão um requerimento, pedindo autorização para Teixeira sair de Cabo Verde.

Segundo Oliveira, o emigrante foi condenado injustamente, com base em fraude processual e inserção de provas no processo, provavelmente porque o mesmo terá  negado pagar uma indemnização de 4 mil contos aos familiares do suposto ofendido. Caso aceitasse a proposta, acrescenta, provavelmente seria julgado e absolvido por ter agido em legítima defesa, e o caso seria encerrado. Ciente da sua inocência, diz, Teixeira preferiu enfrentar o tribunal, mas acabou condenado a 11 anos de cadeia pelo juiz Afonso Lima Delgado.

“Por conta disso, eu levei dois anos, oito meses e 26 dias para o retirar da prisão. Mas ele continua, na verdade, preso em Cabo Verde, obrigado a comparecer 3 vezes por semana na Polícia. Enquanto a sua situação não for resolvida vou continuar a chamar os magistrados do STJ de albrabões, manipuladores, de juizes de má-consciência, que se apoderaram do sistema judicial para cometer barbaridades porque sabem que ninguém lhes pede conta dos seus actos”, reforça o jurista que, lembre-se, será julgado no dia 23 de Fevereiro na cidade da Praia num processo-crime que lhe foi movido pelos juízes Fátima Coronel e Benfeito Ramos, ambos do STJ, por ofensa à honra. Processo associado exactamente aos ataques pessoais que desferiu contra esses magistrados.

Oliveira confessa estar neste momento de rasto, se sentindo culpado por não ter conseguido resolver o problema de Arlindo Teixeira durante estes anos. Lembra que foi ele a aconselhar o emigrante a não pagar a indemnização supostamente pedida pelos familiares da vitima mortal e admite que isso acabou por ter um efeito devastador na vida do mesmo.

O segundo motivo

O segundo motivo que levaria Oliveira a deixar de incomodar os magistrados cabo-verdianos tem a ver com a devolução de um apartamento a uma emigrante idosa, residente neste momento em Espanha. O jurista afirma que o Tribunal do Sal já proferiu sentença a favor da proprietária da casa, mas dois irmãos, um deles juiz e outro advogado, têm abusado dos seus conhecimentos jurídicos para protelar a entrega da residência a essa senhora idosa e viúva. Isto acontece porque, segundo Oliveira, acabaram por se apossar do apartamento de forma fraudulenta. “Manipularam uma procuração, praticaram fraude processual através de um contrato de arrendamento e tomaram posse da casa. A proprietária é uma emigrante idosa, viúva e cujo único filho faleceu. Ela quer voltar a Cabo Verde, mas não pode porque não consegue usufruir do seu único bem valioso que possui – a casa”, reage o jurista.

Amadeu Oliveira fez esta revelação em S. Vicente, onde veio encontrar-se com António Monteiro, Presidente da UCID, para saber qual a posição do político e testemunha sobre o seu julgamento no dia 23 de Fevereiro. No fundo, Oliveira quis ouvir de Monteiro se deve ou não comparecer na audiência agendada pelo 4. Juízo-crime do Tribunal da Comarca da Praia a fim de ser ouvido no processo intentado contra ele pelos magistrados Benfeito Ramos e Fátima Coronel, por ofensa à honra.

Monteiro defende comparência de Oliveira em julgamento

Na opinião de António Monteiro, o arguido deve comparecer e provar aquilo que tem dito e defendido publicamente. Abordado por este jornal, o líder dos democratas-cristãos lembrou que Cabo Verde é um Estado de direito democrático e que todos devem contribuir para a melhoria do sistema judicial. É neste sentido que, diz, vai depor na qualidade de testemunha, após ficar a par de casos relatados por Amadeu Oliveira e que foram suportados com provas. “Vou depor na qualidade de presidente da UCID e deputado nacional, que abordou em 2019 as denúncias feitas por Amadeu Oliveira num debate sobre o estado da Justiça. Na altura chamamos atenção para as suas acusações e dissemos que, se aquilo que ele diz é mentira, ele, Amadeu, deveria estar preso; por outro lado defendemos que, se ele fala a verdade, que o próprio poder judicial actue em conformidade”, diz Monteiro, que preferiu ir depor pessoalmente no julgamento quando poderia ter respondido as perguntas do tribunal por escrito.

Oliveira deve reunir-se amanhã com o presidente do Partido Popular na cidade da Praia, arrolado também como testemunha. A partir desta conversa vai resolver se comparece ou não no julgamento – já que considera o tribunal incompetente para julgar o seu processo.

Amadeu Oliveira ainda afirmou que dos partidos políticos actualmente existentes em Cabo Verde, só tem interesse  conversar e auscultar a UCID (União Cristã Independente e Democrática) e o PP (Partido Popular), já que resulta evidente que nem o MpD nem o PAICV têm demonstrado interesse em implementar as reformas tão necessárias no sector da justiça.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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