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Navios D. Tututa e Interilhas sofrem avarias e deixam região de Sotavento sem ligações marítimas 

Os navios Dona Tututa (CV Interilhas) e Interilhas (Polaris) sofreram ontem avarias, que podem levar a paragens sem data para retoma das viagens, deixando sobretudo a zona sul do arquipélago desprovida de ligações marítimas. Foi impossível falar com a direcção da CVI para conhecer a dimensão deste enguiço que, de acordo com informações apuradas por Mindelinsite, é grave e impõe uma suspensão por tempo indeterminado. O gerente da Agência Polar, Luís Viúla, admite que foi uma coincidência as duas embarcações terem sofrido avarias quase que em simultâneo. 

Ainda é desconhecido, oficialmente, o grau da avaria do navio Dona Tututa. Aliás, sequer foi confirmada publicamente pela CV Interilhas. Mas ontem, no jornal da noite da RTC, era visível o desespero dos familiares do Segundo-Cabo Hernani José Ramos do Rosário, devido a avaria da embarcação Dona Tututa, que deveria transportar o corpo para a ilha do Sal. Do Comando da Segunda Região Militar estes receberam então a informação que a previsão para a chegada do corpo foi adiada para sábado. Os parentes desesperaram e, sem alternativa, o Governo viu-se obrigado a fretar um voo para fazer o translato, tendo o corpo do militar chegado esta madrugada à ilha do Sal.

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Relativamente ao Interilhas, o gerente Luís Viúla confirma a avaria e diz que foi uma coincidência os dois navios terem sofrido paragens forçadas quase que em simultâneo, ou seja, um num dia e outro no seguinte. No caso do barco agenciado pela Polar, afirma, este sofreu um problema no motor do bombordo. Mesmo assim conseguiu prosseguir a sua viagem até a ilha do Fogo. Posteriormente, retornou à ilha de Santiago, mas com velocidade reduzida apenas com carga, isto é, sem passageiros. “O Interilhas já estava programado para fazer uma docagem, que se atrasou devido a uma dívida acumulada da CVI com a Polar há algum tempo. Mas agora não temos opção. Vamos aproveitar esta avaria para fazer a nossa docagem.”

Questionado sobre as rotas que o Interilhas vinha operando, este responsável revela que o navio cobria quase toda as linhas de Sotavento e, pontualmente, fazia ainda Praia-Boa Vista e São Vicente, São Nicolau e Praia. “Fazíamos a rota Praia-Fogo; Praia-Fogo-Brava, Praia-Maio, S. Vicente-São Nicolau-Praia e Praia-Boa Vista. Tendo em conta que a CVI estava com apenas dois barcos a operar, no caso o Dona Tututa e o Chiquinho BL, o Interilhas vinha dando uma grande contribuição para manter a circulação entre as ilhas. Infelizmente, houve esta avaria inesperada”, disse.

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Para colmatar esta lacuna, Luís Viúla defende que o Governo poderia aproveitar para preencher este vazio com o navio Praia d’ Aguada, que se encontra imobilizado no Porto Grande em São Vicente, sem qualquer avaria. “O navio Praia d’ Aguada está parado, mas pode perfeitamente ser reativado. Esta é a minha opinião”, acrescenta, deixando claro que o Interilhas não tem uma previsão de retoma das viagens. “Como disse, vamos aproveitar para fazer a docagem e cumprir tudo o que estava em falta. Às vezes é preciso mandar trazer alguma peça do exterior e isso leva o seu tempo. Penso que esta paragem vai demorar, no mínimo, 30 dias”, enfatiza. 

Do lado do ministro do Mar, este mandou informar, através da sua assessoria, que qualquer questão sobre a avaria dos dois navios devem ser respondidas pelas empresas. Abraão Vicente alega que, mesmo enquanto tutela do sector, não pode se pronunciar, cabendo a CVI e a Polar arcar com as suas responsabilidades. “Se o ministro fizer qualquer pronunciamento agora, as empresas vão remeter-se ao silêncio e não vão procurar soluções, sobretudo no caso da concessionária.”

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Este recusou, igualmente, fazer qualquer declaração sobre o contrato de concessão das ligações interilhas, remetendo qualquer informação para breve. Lembrou que este assunto estava semana sobre à mesa na reunião do Conselho de Ministros na avaliação, que foi feita ao pormenor, inclusive ontem um dos pontos da agenda era novamente o contrato. Hoje é impossível falar sobre o assunto, tendo em conta que os ministros, inclusive o PM, estão a participar dos funerais dos militares nas ilhas. 

Entretanto, uma fonte da CVI que preferiu o anonimato garantiu que a avaria do navio Dona Tututa não constitui uma surpresa. “Imagina, pegar um idoso, pintar o cabelo e fazer algumas plásticas. De certeza que fica com uma aparência renovada mas, internamente, continua a sofrer dos problemas de velhice”, declarou. Nas redes sociais, em uma publicação dando conta da avaria dos dois navios as criticas são contundentes. Esta já tem mais de uma centena de partilhas e 125 comentários, na sua grande maioria, criticando o contrato de concessão, as promessas vazias do Governo e os lobbies portugueses, em detrimentos dos armadores nacionais que tinham condições de prestar uma melhor serviço.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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