Josina Freitas (PAICV): “A principal proposta do PAICV que vai alavancar SV é a Regionalização”
Josina Freitas, cabeça-de-lista do PAICV em São Vicente, fixou como meta eleger cinco deputados ainda antes do arranque da campanha para as legislativas de 18 de abril. Seis dias depois, mantém a sua posição. Diz que a principal proposta do seu partido para alavancar a ilha é a Regionalização, no quadro de uma ampla reforma do Estado, a transferência efectiva de poderes para SV e combater o desemprego porque “os nossos jovens pedem oportunidades”.
Por Constança de Pina
Mindelinsite: Depois de um mandato na oposição, o PAICV surge em São Vicente com uma lista renovada, tendo Josina Freitas como líder. Qual a motivação para encabeçar a candidatura tambarina, sendo uma pessoa conhecida na ilha fundamentalmente através do Carnaval e do festival Kavala Fresk?
Josina Freitas: A minha principal motivação prende-se com o desejo de contribuir para o desenvolvimento de Cabo Verde e para o progresso da ilha de S. Vicente. Sinto-me feliz e honrada por ser conhecida pelo meu envolvimento e grande paixão pela maior expressão da nossa cultura popular, o Carnaval, assim como pelo Kavala Fresk Feastival, que a empresa que dirijo promoveu na ilha, e que é actualmente um dos festivais gastronómicos mais prestigiados em África, aproveitando e valorizando também algo que é muito nosso: a cavala. Trata-se de um dos peixes mais comuns no nosso mar, e dos mais nutritivos.
M – É a primeira vez que encabeça uma lista do PAICV para as legislativas na ilha. Como pretende transformar o conhecimento que tem de São Vicente com a falta de experiência política?
JF: É, aliás, a primeira vez que concorro para as eleições legislativas no meu país, e sucede ter tido este honroso convite para encabeçar a lista do PAICV em S. Vicente, convite esse que procuro dignificar todos os dias e a cada contacto que faço com um eleitor. Efectivamente, tenho-me dedicado à minha ilha ao longo dos anos: quando regressei de Portugal, onde estudei Cinema e Televisão, comecei por abraçar o movimento associativo na área da Cultura, tendo logo em seguida aceite um grande desafio: o de dirigir o Centro Cultural do Mindelo, nesta que é a ilha do país com mais criadores culturais reconhecidos a nível nacional e internacional, tanto na área da Música, como na das Artes Plásticas e da Literatura. Foi grande a confiança depositada em mim na altura e fui nomeada representante do Ministério da Cultura na ilha, um cargo administrativo-político, tendo também sido membro do Conselho Nacional de Cultura. Tive de colaborar muito estreitamente com o Governo, na altura, o que me permitiu crescer muito no que toca ao conhecimento do funcionamento do aparelho de Estado, mas também a alguns aspectos relativos à própria governação, na medida em que trabalhava directamente com o Ministro de então.
Foram 11 anos intensos, a nível de concretizações e de aprendizagem, e depois investi no sector privado, com a empresa Mariventos, que organiza, entre diversas outras actividades, o Festival da Kavala Fresk. Sou militante do PAICV há mais de uma década, tendo experiência de participação em acções partidárias e em campanhas eleitorais, sendo que assumi o cargo de mandatária pela Juventude na ilha de S. Vicente nas campanhas para as legislativas de 2006, e fui eleita Vereadora da CMSV em 2011.
MI – Quais os pontos fortes da sua mensagem para tentar mobilizar militantes do PAICV em SV, que se têm mantido afastados do partido, e também para mobilizar outros eleitores, inclusive dos demais partidos?
JF – Diálogo e colaboração conjunta. A nossa terra, assim como muitos outros países, atravessa um período crítico. Precisamos de muito diálogo e da colaboração de todos para encontrar os melhores caminhos para continuar a lutar pela nossa dignidade, liberdade e felicidade. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para promover um diálogo útil e consequente para os mindelenses e para Cabo Verde.
MI – Conseguiu unir o partido na ilha, tendo em conta a fratura inicial resultante da escolha dos integrantes para a lista? Estamos a referir concretamente à Comissão Política Regional, que alegou ter sido afastada do processo de formação desta lista. Estão a trabalhar juntos?
JF – O partido está unido e muitos simpatizantes do PAICV têm-se juntado a nós. A hora é particularmente crítica para Cabo Verde e temos todos a responsabilidade de unir esforços e competências.
MI – E no terreno está a sentir o apoio das mulheres de São Vicente, tendo em conta que é a única candidata a encabeçar uma lista partidária na ilha nestas eleições legislativas?
JF – Ainda somos poucas mulheres no país a assumir responsabilidades a este nível, mas temos sido cada vez mais. O PAICV teve um dos únicos governos do mundo maioritariamente constituído por mulheres, e desde a luta de libertação nacional, Amílcar Cabral advertia que: “Nós queremos que o nosso povo se levante, avance; e se queremos que o nosso povo se levante, não são só os homens porque as mulheres também são o nosso povo.”
Esta era a filosofia do então PAIGC, ainda antes de eu nascer! Hoje, o PAICV é liderado por uma mulher, e tal como desde a primeira hora, as mulheres cabo-verdianas estão a trabalhar ao lado dos homens pelo progresso de todos nós. Conto particularmente com o apoio inestimável da minha colaboradora directa, Liliana Fonseca, mandatária pelas mulheres.
MI – De forma sucinta, quais as propostas concretas do PAICV-SV para os sectores estratégicos de desenvolvimento e que podem elevar a ilha, nomeadamente para a Cultura, Desporto, Economia, Social?
JF – A principal proposta concreta do PAICV que vai alavancar a ilha é a da Regionalização, no quadro de uma ampla reforma do Estado. Este novo cenário vai permitir-nos, em S. Vicente, projectar de uma outra forma os sectores estratégicos para nós, como o de todos os sectores ligados à actividade marítima – a Economia do Mar, as Indústrias em geral e a Cultura, por exemplo.
O sector dos Transportes terá de sofrer uma grande transformação, mas isto a nível nacional, pois nesta área todos reconhecem que houve um enorme retrocesso – andámos muito para trás.
O PAICV irá implementar um plano de emergência para enfrentar a actual situação de crise sanitária e económica. Será necessário criar muito mais formações, formações técnicas, profissionais, a vários níveis, para dar oportunidades aos nossos jovens, combater o desemprego, e dar-lhes uma perspectiva de futuro. Os nossos jovens pedem oportunidades. Será necessário reforçar os direitos dos trabalhadores, como é o caso dos marítimos, por exemplo, onde será preciso também resolver a problemática da certificação. É indispensável capacitar o Hospital Baptista de Sousa para que todos os cabo-verdianos nessa região norte tenham direito a um atendimento digno, sem serem obrigados a recorrer as clínicas privadas em que muitas vezes não conseguem pagar.
O Desporto é também uma marca da identidade de S. Vicente, para o qual temos diversos projectos em carteira.
MI – A Regionalização é uma reivindicação do povo de São Vicente. Como pensa agilizar a concretização deste desejo/ambição dos mindelense na casa parlamentar?
JF – Um dos principais pontos da plataforma do PAICV, e pelo qual a nossa equipa vai lutar, é o da Regionalização, no quadro de uma ampla reforma do Estado. A ilha de S. Vicente precisa de ter mais autonomia para tomar certas decisões e para pô-las em prática, precisa de ter mais recursos.
MI – O Governo instalou o ministério da Economia Marítima em São Vicente. Quais foram as vantagens que esta medida trouxe para a ilha. Concorda que se deveria colocar mais ministérios em São Vicente?
JF – O que importa para nós neste momento não é transferir ministérios, mas sim poderes, portanto, a capacidade de tomar decisões e de executá-las. Se o Ministério estiver aqui e obedecer às decisões tomadas pelo Poder Central não vejo uma mudança substancial para a ilha, a não ser do ponto de vista físico. Nós queremos uma transferência efectiva de poderes e recursos, o que é diferente de uma deslocalização de serviços que obedecem aos mesmos poderes.
MI – Por altura da apresentação da sua candidatura fixou como meta eleger 5 deputados numa ilha que elege 10 representantes para a AN. Mantém ainda esta meta, ou reviu a sua posição após algum trabalho no terreno?
Reafirmo minha posição. Após o trabalho de terreno tornei-me mais optimista.
MI – Em poucas linhas, diz-nos quem é Josina Freitas?
JF -Sou uma pessoa optimista, que acredita que é possível melhorar todos os dias.