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Experiência da primeira “Village Nomad Digital” de SV está a ser muito positiva, segundo consultor

Ainda em fase de teste, a experiência da primeira “Village Nomad Digital” de São Vicente, que começou neste mês de dezembro, está a ser muito positiva, garante o consultor Gonçalo Hall, que coordena esta nova retoma do chamado Remote Working, programa promovido pelo Governo, através do Instituto do Turismo, cujo propósito é trazer um novo tipo de turistas para Cabo Verde. As expectativas são tão altas que Gonçalo Hall espera uma enchente de “nómadas digitais” nos meses de janeiro e fevereiro de 2022. Aliás, já fala em expansão e abertura de novas “vilas” na ilha do Monte Cara.

De acordo com o consultor do programa Remote Working Cabo Verde, este projecto começou há cerca de um ano, tendo como promotor o Governo, através do Ministério do Turismo. Mas foi recrutado especificamente para esta nova fase, que é diferente da anterior, muito por conta da sua experiência a trabalhar em comunidade na Ilha da Madeira. “Estamos a preparar Mindelo para receber nómadas digitais, a programar actividades e parte do alojamento, que é diferente por ser de curto termo, sendo que os nómadas ficam em média dois meses. Toda esta preparação demorou três meses, mas neste momento já temos muitos nómadas nesta reabertura oficial”, diz.

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Parte desta procura, afirma este entrevistado do Mindelinsite, deve-se ao facto de também ele ser um nómada digital e ser muito conhecido dentro da comunidade. “Sou uma das maiores vozes do nomadismo a nível mundial. Por isso, quando comecei este projecto, toda a gente veio muito rápido porque perceberam que é um nómada a criar para eles. É muito diferente de ser um Governo, que não conhece bem este mercado, a tentar atrair um nómada. Tenho a confiança da comunidade porque já estiveram comigo em outros projectos. Também usamos o passa palavra e falei sobre Cabo Verde nas minhas conferências e nas redes sociais. Estamos a crescer de uma forma comunitária.”

Para se ter uma ideia, estão neste momento em Cabo Verde 30 nómadas digitais registados, dos quais 20 estão em São Vicente. Ainda assim, Gonçalo Hall admite que tem sido um desafio trazer estas pessoas para o país por causa das companhias aéreas e dos preços das passagens. “A expectativa era ter 100 nómadas neste momento em S. Vicente. Infelizmente muitos cancelaram por causa do preço e também porque queriam passar o Natal em casa. Mas acreditamos que os meses de janeiro e fevereiro serão muito fortes”, frisa, realçando que a maior parte dos nómadas que procuram Cabo Verde são europeus, sobretudo por causa da proximidade geográfica.

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“Os alemães são a maior comunidade de nómadas que recebemos, seguido por polacos. Mas temos também do Reino Unido, Sérvia, República Checa, Portugal. Enfim, de toda a Europa. Os nómadas são sobretudo pessoas que trabalham com IT, ou seja, programadores, mas temos também marketing, coachers e vendas. Temos ainda empreendedores, ou seja, pessoas que geram os seus negócios, mas que não precisam de um espaço porque são naturalmente nómadas. Viajam com a sua mala e todo o trabalho está no computador. Precisam apenas de uma boa internet”, afirma Gonçalo Hall.

Mindelo, uma grande oportunidade  

Para este consultor, Mindelo apareceu como uma grande oportunidade, um destino ideal para começar a segunda fase deste projecto em Cabo Verde, porque tem uma boa estrutura de internet. Normalmente, diz, a estadia média dos nómadas é de dois meses e pagam um preço único por mês, que inclui alojamento, espaço co-work, ginásio, restaurantes, de entre outros. “Em São Vicente, os nómadas digitais vivem como os locais. Comem e ouvem música nos meus espaço de os locais. O objectivo é integrar porque não são como os turistas que vieram apenas para ver, vieram para experienciar, conhecer a realidade, a cultura, ouvir música… É um mercado diferente do turista normal, tanto pela estadia, que é maior, como pelo dinheiro gasto. São muito independentes, investigam e fazem a sua estadia na ilha.”

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Village Nomad Digital São Vicente

A título de exemplo, Gonçalo Hall cita a deslocação no último fim-de-semana de um grupo de 15 nómadas à ilha de Santo Antão para fazer caminhada. “Fazemos muitas actividades, mas não temos controlo onde os nómadas vão dormir ou trabalhar. Limitamo-nos a preparar os destinos para escolherem. Negociamos previamente os alojamentos, disponibilizamos espaços de trabalho, ou seja, oferecemos todas as condições para virem trabalhar aqui no Mindelo. Mas dentro do sistema co-work é tudo privado, cabendo ao Governo o papel de promotor, através do Instituto do Turismo. Mas temos também uma forte ligação com a Secretaria da Transição Digital.”

Se na primeira fase do programa Remote Working a aposta foi na promoção de Cabo Verde como destino, nesta fase este trabalho está a ser feito de forma mais estruturada e mais focada em criar comunidades porque, como diz, não dá só para promover e esperar que as pessoas venham. “Temos de criara estrutura e a nossa comunidade. Conseguimos trazer muita gente agora em dezembro, não obstante todas as dificuldades logísticas, e esperamos uma forte procura em 2022. Este primeiro grupo foi mais um teste e permitiu-nos corrigir aquilo que estava a falhar. São todos meus amigos de outras comunidades. Mas há muitos nómadas que querem vir e pretendem ficar mais tempo. Chegam com um visto de seis meses, que é um grande atrativo.”

É o caso da jovem Tatiana, uma nómada digital que esteve antes em Lisboa, mais precisamente na Costa da Caparica, mas que decidiu fugir do frio e veio para São Vicente. “Estava a trabalhar em um lugar com muitos nómadas, mas comecei a pensar no meu próximo destino. É inverno neste momento na Europa. Então decidi procurar um lugar mais quente e onde pudesse encontrar uma comunidade e fazer amigos. Foi assim que vim parar em São Vicente. E a experiência está a ser muito boa”, declara.

Tatiana admite que, de início, teve alguma dificuldade em integrar porque aqui é um bocadinho diferente dos lugares onde esteve anteriormente, sobretudo a nível cultural. Mas, depois de dez dias na ilha, começou a sentir-se muito confortável com as pessoas, inclusive já pensa em voltar no próximo inverno, até porque o trabalho corre muito bem. “Isso é muito importante para nós. A internet é boa e estou a ser produtiva. Trabalho com marketing digital e posso estar em qualquer lugar. Por isso, estou sempre a andar de um sítio para outro. Como nómada digital, sou aventureira”, acrescenta esta jovem, que não tem dúvidas de que a sede de descobrir e explorar coisas e lugares novos a trouxe a São Vicente. “Saí da minha zona de conforto e é muito provável regressar a esta ilha já no próximo ano”, pontua.

Lançado em 2020, o Remote Working e Nómadas Digitais visam atrair trabalhadores viajantes com atribuição de um visto temporário de trabalho/turismo com duração de seis meses, com possibilidade de renovação por igual período. Tem como público-alvo pessoas que trabalham por conta própria, à distância, utilizando a internet e outras ferramentas electrónicas e de comunicação, sem necessidade de um escritório fixo.  

Todas as informações sobre o programa, Cabo Verde e suas potencialidades turísticas estão no site https://www.remoteworkingcaboverde.com/. Também são disponibilizadas informações sobre o processo de aquisição de vistos para um nómada digital.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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