CPLP apoia candidatura do Campo de Concentração do Tarrafal a Património da Humanidade

Os Estados-Membros da CPLP-Comunidade de Países de Língua Portuguesa decidiram apoiar a candidatura do Campo de Concentração do Tarrafal de Santiago a Património da Humanidade. Este apoio está vinculado na Declaração final assinada durante a III Reunião Extraordinária dos Ministros Cultura da CPLP, que aconteceu em São Tomé e Príncipe de 05 a 07 de maio.
“Apoiar as novas candidaturas dos sítios dos Estado-Membros a Património Mundial da UNESCO, nomeadamente do Campo de Concentração do Tarrafal por representar um marco na a valorização da memória de resistência dos nossos povos contra a ditadura, a opressão e o aniquilamento das liberdades…”, lê-se num comunicado de imprensa do Governo, que cita a Declaração final.
Para o Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Augusto Veiga, o apoio de todos os Estados-Membros é importante para elevação de um “campo de memória dolorosa”, mas que faz parte da história de Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau e Portugal. “Este apoio é de suma importância para o trabalho que antecede aos preparativos que Cabo Verde, juntamente com Angola, Guiné-Bissau e Portugal estão a fazer para a entrega do dossier de candidatura do Campo de Concentração de Tarrafal de Santiago a Património da Humanidade, marcada para fevereiro de 2026, à UNESCO”, sublinha.
A declaração final contêm 25 compromissos assumidos pelos Ministros da Cultura da CPLP. Entre eles está ainda o ponto 18 sobre a restituição de bens-culturais. “Criar sinergias para que os Estados-Membros possam definir estratégias e apelar a um diálogo aberto e inclusivo sobre a devolução e restituição de bens culturais, de acordo com os princípios das convenções internacionais nesta matéria, encorajando os Estados-membros a ratificar e implementar estes acordos e convenções”, reforça.
Foi em junho de 2024 que o Governo assumiu o compromisso, enquanto executivo, de fazer junto da UNESCO todas as diligências para que fosse entregue, em 2025, o dossiê oficial, através de uma deliberação do Conselho de Ministros. A publicação aconteceu numa data simbólica, 25 de abril, conhecida como o dia da Revolução dos Cravos, que marcou o fim do regime Salazarista e da ditadura e precipitou o encerramento do Campo de Concentração de Tarrafal.
O Campo de Concentração foi estabelecido em 1936, visando aniquilar física e psicologicamente os opositores portugueses e africanos à ditadura Salazarista. Na primeira fase – 1936 a 1954 – com o nome de Colónia Penal de Cabo Verde, recebeu mais de 300 presos portugueses. Na segunda fase – 1962 a 1974 – já com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, recebeu militantes das lutas de libertação das colónias portuguesas – Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Entre os dois períodos, foram presos no espaço mais de 600 pessoas (340 portugueses, 206 angolanos, 100 guineenses e 20 cabo-verdianos). A 1 de maio de 2024 completou 50 anos da libertação dos últimos presos do Campo de Concentração de Tarrafal, na ilha de Santiago.