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Covid-19: Trabalhadores da Frescomar com medo, apesar das medidas de distanciamento

Um grupo de trabalhadores da Frescomar procurou o Mindelinsite para expressar os seus receios por a empresa continuar a produzir “normalmente” perante a ameaça do Covid-19, não obstante empregar perto de dois mil pessoas. Estes reconhecem que a direcção desta unidade industrial, sita no Lazareto, já adoptou algumas medidas de distanciamento e, inclusivo, enviou para casa as pessoas consideradas de risco. Mesmo assim, sentem-se expostas e que podem estar a colocar as suas famílias em risco. 

Este medo, diz uma das funcionárias, que falou em nome dos colegas, tem razão de ser porquanto, afirma, se for notificado qualquer caso suspeito dentro da Frescomar correm o risco de ficarem “presas” na unidade, à semelhança do que está a acontecer com os funcionários dos hotéis Riu Karamboa e Riu Palace na Boa Vista. “Eu, no meu caso, tive receio de ir trabalhar hoje, apesar das medidas de distanciamento adoptadas. Por exemplo, a lotação dos autocarros que levam os trabalhadores foi reduzida para metade, ou seja, passam a transportar apenas 20 pessoas.”

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Dentro da fábrica, prossegue, estão a fazer o distanciamento nas mesas de trabalho e no refeitório. Além disso, acrescenta, a direcção da Frescomar decidiu dispensar as pessoas com mais idade, as grávidas e as com problemas de saúde. Mesmo assim, a unidade de processamento de pescado continua a laborar com um número elevado de trabalhadores.

“A empresa decidiu deixar uma mesa vazia entre cada trabalhador e, nas refeições, são permitidas apenas três pessoas numa mesa. Também foram disponibilizadas boquilhas aos funcionários. O problema é que tiramos as boquilhas para comer, colocamos as mãos nas portas para abrir e juntamos em grande número nas casas de banho para fazer a higiene. E, para qualquer uma destas acções fazemos filas, ficando muito próximos uns dos outros.”

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Ou seja, de acordo com esta fonte, não obstante as medidas adoptadas pela direcção desta unidade industrial, os riscos continuam elevados. Para evitar que os cerca de dois mil trabalhadores sejam expostos, esta acredita que o ideal seria reduzir o número para metade e alternar os turnos. “Neste momento a fábrica opera com dois turnos, cada um com cerca de mil trabalhadores. Poderiam reduzir o número de funcionários para metade e fazer um único turno, alternando os dias de trabalho. Também deveriam enviar para casa as mulheres com filhos com idade entre os zero e os três anos que, a meu ver, também constituem um grupo de risco”, sugere.

Sobre este particular, segundo a nossa fonte, algumas operárias, sobretudo as com crianças pequenas em casa, optaram por desistir dos seus postos de trabalho. Estas alegam que, com o encerramento dos jardins, não têm com quem deixar os filhos, pelo que preferem, nesta altura, perder o emprego e preservar a sua família, acrescenta a porta-voz destas funcionarias. Para ela, neste momento os trabalhadores da Frescomar estão estigmatizados em São Vicente, sobretudo após os rumores de que um familiar de um funcionário era um dos casos suspeitos na ilha.

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“Para se ter uma ideia, uma funcionária pediu licença para ir ao banco e foi humilhada dentro da instituição e chorou muito. Perguntaram-lhe onde trabalhava e, quando respondeu na Frescomar, foi de imediato isolada. Perguntou porque estava a receber tratamento diferenciado, foi informada que era por causa dos rumores de um possível caso suspeito envolvendo uma pessoa da Frescomar, informação essa infundada”, exemplifica. 

Missão

O director da Frescomar, Miguel Pinto, explica que foram implementadas todas as determinações emanadas pela Direcção Nacional da Saúde. Diz, no entanto, que este é um sacrifício que neste momento está a ser pedido a todos para manter a empresa e a ilha a funcionar. “Enviamos as grávidas e todas as pessoas com alguma patologia para casa. Hoje estamos muito menos na Frescomar, mas não podemos deixar de produzir. Compreendo que as pessoas estejam com medo e algum stress desta situação. É um risco que todos estamos sujeitos, mas a máquina tem de continuar a funcionar”.

Para este responsável, trabalhar neste momento não é de forma nenhuma uma obrigação das pessoas. É antes de tudo, a seu ver, uma missão. Mostra-se no entanto confiante nas implicações positivas das medidas adoptadas tanto na empresa como no país para prevenir o coronavirus.

 Constânça de Pina

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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2 Comentários

  1. Para mandar bocas do Governo, isso vocês servem! Mas para juntarem-se em bem comum e exigirem os vossos direitos aí enterram a cabeça na areia e ficam com a bunda de fora a espera de alguém lutar por vocês.

    Se o Governo decretou Estado de Emergência para todo o território, gostaria de saber se a FRESCOMAR É ALGUMA EMBAIXADA ??? Ou as autoridades policiais não podem lá ir e desentupir esse buraco e mandar toda a gente para casa ? Marmanjos, façam o vosso trabalho e deixem de chatear os outros nas redes sociais!!!

  2. Que parte de mensagem nacional do PR e do PM não foi entendida pela Direção da Frescomar ? Ou é preciso fazer um desenho ???

    TODOS OS FUNCIONÁRIOS DEVEM SER ENVIADOS PARA CASA !!!

    Inclusivamente foi anunciado as medidas económicas em relação aos salários

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