Alunos do 11º ano de escolaridade das escolas do ensino secundário de São Vicente dizem que estão ainda sem programas em quatro disciplinas: TICs, Língua e Literatura Portuguesa, Programação e Geografia. Para além do atraso na disponibilização dos conteúdos, estes alunos temem não serem avaliados nestas disciplinas porque estão ser ministrados apenas conteúdos em que foram apreciados no 10º ano. Professores e algumas direções destas escolas confirmam esta situação, mas remetem qualquer esclarecimento para o delegado ou a tutela da Educação.
Em entrevista ao Mindelinsite, vários alunos do 11º ano de escolaridade confirmam que, desde o arranque do novo ano lectivo no dia 18 de setembro, as matérias que estão a ser ministradas nas salas de aula, em boa parte das disciplinas, são as mesmas do ano anterior, em que já foram avaliados e, inclusive, transitaram. “Temos todos os professores, mas estes não têm programas. Já fizemos a revisão de todo o conteúdo do 10º ano de escolaridade, enquanto aguardam o envio do programa da Praia, e agora não têm mais nada para fazer nas aulas. Que ensino é este?”, desabafa uma aluna.
Já uma outra estudante mostra-se revoltada porquanto, diz, estão a ser prejudicados. “Estamos a ser prejudicados porque, para além do atraso, dificilmente iremos ter notas nestas quatro disciplinas. Mas também em outras estamos a ser avaliados com matérias do 10 ano. É inadmissível porque já fomos avaliados e inclusive transitamos para o 11º ano com estes conteúdos”, acrescenta.
Para um docente, toda esta situação é porque, neste ano lectivo, o 11º ano ganhou um novo currículo e um novo programa, mas infelizmente ainda não foram enviados pelo Ministério da Educação. “Ainda não temos o programa e nem o roteiro dos conteúdos. Para colmatar esta falha, desde o início do ano lectivo temos estado a fazer a revisão do ano anterior, mas já repassamos todas as matérias do 10º ano. A partir de agora não temos mais nada para fazer dentro da sala de aula com os nossos alunos.”
Com o aproximar da primeira avaliação escrita, prossegue este docente, o caso ganha outros contornos. É que, diz, os alunos não podem ser avaliados duas vezes com o mesmo conteúdo. “Não podemos voltar a avaliar estes alunos com a matéria de revisão porque já isso foi feito no ano anterior”, explica este professor, que afirma já ter abordado a direcção da escola onde lecciona. Também diz ter feito uma exposição para a tutela. “A resposta do Ministério da Educação foi para aguardarmos. O problema é que não temos mais nada para fazer dentro das salas de aula. E não podemos fazer nada.”
Da parte da direcção de uma das escolas secundárias, a informação disponibilizada é que se trata de um problema que afecta todas as turmas do 11º ano e passa a bola para o Ministério da Educação. “De facto, o ME tem-nos pedido para aguardar. É uma situação que afecta todas as escolas secundárias. Infelizmente, já temos mais de um mês de aulas e os alunos não podem ser avaliados com matérias do ano anterior. Logo que os programas chegarem, serão imprimidos e entregues aos docentes.”
Tentamos ouvir o Delegado do ME de São Vicente, mas, não obstante a nossa insistência, não atendeu e nem retornou nenhuma das nossas ligações.
ESAO sem professores de Matemática
Já na Escola Salesiana de Artes e Ofícios o problema é a falta de professores de matemática do 5º ano. Os pais e encarregados de Educação assumiram esta luta e dizem terem já batido em todas as portas, mas não vislumbram nenhuma luz. “Hoje completa um mês e sete dias do inicio do ano lectivo e ainda os nossos alunos não têm professor da disciplina de Matemática. Tivemos um encontro com o director da ESAO e com o delegado do ME na quarta-feira da semana passada. Este último prometeu que, no dia seguinte, ou seja na quinta-feira, uma professora iria se apresentar na escola. Mas até ainda nada.”
Aliviados, estes pais e encarregados de educação foram para casa e ficaram à espera. Mas, infelizmente, até hoje o docente nunca se apresentou. “Em conversa com o director da ESAO, este nos disse que nada pode fazer porque já esteve na delegação e o problema se mantém. Não estamos a vislumbrar nenhuma luz. Não há nenhuma garantia se este docente vai ou não aparecer.”
Sem outra opção, estes responsáveis decidiram fazer uma denúncia pública na expectativa de que o problema se resolva, a bem dos alunos. “A situação tornou-se insustentável. Os nossos filhos estão há mais de um mês sem professor. O nosso receio é que, quando surgir um professor, este venha despejar a matéria em cima das turmas para poder cumprir o programa. Os estudantes vão ficar sem tempo para praticar e para fazer exercícios”, desabafa uma mãe indignada com as declarações do ministro da tutela que afirmou que o ano lectivo arrancou na normalidade em todo o país.
Por conta das dificuldades com a Matemática, os pais e encarregados de Educação temem que os seus filhos venham a sentir-se perdidos. “A Matemática é uma disciplina que exige muita atenção. Se forem despejar a matéria, os nossos filhos não vão aprender e não vão ter aproveitamento. Estamos cansados e até certo ponto desanimados porque não sabemos mais o que fazer para resolver este problema.”
Também neste caso foi impossível chegar à fala com o delegado do ME, Jorge da Luz. O mesmo aconteceu com o director da ESAO, Luís Peralta, não obstante as tentativas quer pessoalmente, quer via telemóvel.