Adilson Graça nega “perseguição” do PAICV a A. Neves e afirma que edil recebeu ilegalmente 110 mil contos em “doações”
O PAICV negou hoje que alguma vez os seus eleitos municipais na autarquia de S. Vicente tenham encetado uma perseguição ao edil Augusto Neves e tão pouco chegaram a posicionar-se contra a CMSV neste mandato. Segundo Adilson da Graça, que reagiu esta manhã a uma conferência de imprensa realizada ontem por Neves, aquilo que fizeram foi votar contra os desmandos do referido presidente, pessoa que, diz esse porta-voz do referido partido, tem recorrido a um discurso populista barato, de terra-queimada e odioso quando os seus propósitos não são atendidos.
“’É tempo de ultrapassarmos este tipo de discurso para abraçarmos aquilo que de extraordinário a democracia nos oferece”, entende Adilson da Graça, para quem não se pode aceitar que se diga que há perseguição ao presidente e à CMSV e ainda ações no tribunal contra a autarquia. “As ações judiciais visaram apenas as prevaricações do presidente”, pontua.
Para esta fonte, a situação registada na CMSV, cujo Orçamento e Plano de Actividades para 2024 foram chumbados, é o corolário de uma “novela dramática””, escrita, produzida e realizada por duas entidades: o presidente Augusto Neves e o MpD, partido no qual ele milita. A “novela”, prossegue, começou com a indisposição provocada pelos resultados nas urnas em 2020, que retiraram a maioria a Augusto Neves. Por causa disso, segundo Adilson da Graça, o edil nunca teve abertura de espírito para encetar um diálogo com as outras forças políticas.
“Ele não aceitou a eleição da presidente da AMSV, não quis dar pelouros e recurso aos vereadores eleitos pelo PAICV e UCID, não se propôs a aplicar o memorando de entendimento que ele mesmo aprovou, não respeitou os acordos feitos com os vereadores recentemente e tampouco permitiu que as restantes forças políticas participassem da elaboração do Plano de Actividades e Orçamento”, explana esse representante do PAICV em S. Vicente.
Adilson da Graça afirma categoricamente que os partidos da oposição em nenhum momento encetaram uma articulação ou alinhamento para chumbarem o Orçamento. A coincidência do voto contra, diz, deriva apenas da “má qualidade” das propostas apresentadas e das imprecisões e discrepâncias nas contas da CMSV. Casos que, diz, colocam em causa a transparência da gestão na autarquia de S. Vicente.
“Era impossível o PAICV votar a favor de um Orçamento que não responde nem a metade das reais necessidades de S. Vicente e dos seus munícipes”, frisa Adilson Graça, para quem trata-se de um documento com ambição zero para uma ilha cheia de potencialidades. Aliás, diz que o orçamento traz basicamente os projectos de investimento constantes do mandato anterior e nenhum deles tem impacto na economia da ilha.
Elenca como exemplos o Polivalente da Zona Norte, o Mercado de Peixe, as reabilitações da Praça Nova e da ex-Conservatória de Registos e a construção do Centro de Saúde de Monte Sossego. Obras que, segundo Adilson Graça, são orçamentadas todos os anos, mas que não andam. No entanto, acrescenta, Augusto Neves vangloria-se de ter realizado cerca de 90 a 95% dos orçamentos. Daí perguntar onde a CMSV tem destinado o dinheiro das receitas, se as obras não foram concluídas e não há projectos novos. “A conclusão destes projectos começa a fazer lembrar o Mercado do Coco na cidade da Praia!”
Segundo esse dirigente político, o Orçamento apresentado pela CMSV, no valor de 1.140 milhões de escudos, destinava cerca 70% para o funcionamento do município e apenas 1 por cento das verbas para áreas como a Saúde, Educação e Desporto e 5% para a proteção social. Relembra que o projecto “Isdá compô bô casa” só funciona nos períodos das campanhas eleitorais, quando muitas famílias continuam a viver em casas degradadas e perigosas.
A contrastar com este cenário, diz o presidente do PAICV no Mindelo, Augusto Neves recebeu ilegalmente cerca de 110 mil contos em 2022, provenientes das “famosas doações”, mas mesmo assim, diz, o edil não teve a sensibilidade para aplicar o dinheiro na recuperação de casas e construção de novas habitações sociais. Adilson Graça explica que era competência da CMSV receber essas “doações”, e não o edil, daí afirmar que o procedimento é ilegal.
Em suma, Adilson da Graça reafirma que o PAICV não poderia aprovar um Orçamento que apresenta profundas discrepâncias com os dados recolhidos junto aos credores da CMSV.
Em resposta ao posicionamento do Secretário-geral do MpD sobre a situação na CMSV, Adilson da Graça considera que essa reação veio muito tarde. Isto porque, diz, por diversas vezes o PAICV pediu a cúpula do MpD para ajudar a solucionar os problemas instalados na autarquia, mas os responsáveis nacionais preferiram manter o foco nos ataques à Câmara da Praia, esquecendo-se que S. Vicente é também Cabo Verde.