A edição 2023 do festival de cinema Oiá, que acontece nos dias 27 a 29 do corrente, regressa às comunidades de Salamansa, S. Pedro e Calhau, os primeiros palcos onde fez o ensaio de uma TV Comunitária e formações, mas também alcançar outras ilhas e concelhos do país e a diáspora. O programa do festival contempla exibição de mais de 20 curtas e formações na área das artes.
De acordo com Ednilson “Tambla” Almeida, nesta nona edição, o festival de cinema Oiá vai arrancar em Salamansa no dia 27, passa por Calhau no dia 28 e por S. Pedro no dia 29. “Estamos com uma grande expetativa porque, além dessas comunidades terem sido os primeiros lugares onde fizemos um ensaio de TV Comunitária e de uma formação de video em S. Pedro, zona onde iremos encerrar o evento. Esta comunidade é também a única em S. Vicente que já ganhou um trofeu Oiá”, explicou, justificando a escolha com as carências e necessidade de dar mais visibilidade aos seus problemas e desafios.
“Vamos descobrir as potencialidades destas comunidades . O nosso programa tem a ver com exibição de filmes, mas também com formação na área das artes, cujo objectivo é potenciar os talentos existentes. É uma oportunidade para experimentar várias linguagens seja dança, musica e tradições porque são zonas ligadas a pesca, mas que cada vez mais empurrados para o sector do turismo. Há muita expetativa porque, do nosso ponto de vista, estas não preparados para a demanda do turismo.”
A nível da programação, durante os três dias serão exibidos apenas curtas-metragem nacional. Mas a grande novidade, segundo Tambla Almeira, é a realização do concurso de filmes de um minuto. Trata-se de um concurso nacional, que será antecedido de uma formação nas comunidades por forma a que os filmes sejam um retrato da realidades e carências destas zonas. “Vamos ter mais de 20 títulos de curtas que passaram pelo Oia e tiveram algum impacto. Optamos por não escolher as longas porque a exibição dos filmes vão ser na rua e estas exigem uma maior concentração.”
Todos os filmes a serem exibidos, refere este responsável, resultam de uma seleção que equilibra as gerações, o gênero, estilos, ilhas e diáspora. “Neste momento, em termos de produção, Cabo Verde está melhor que há 10 ou 20 anos. É um dos sectores que mais desenvolveu no país a nível das artes. Mas, em termos do cinema em geral, o panorama é outro. Não se faz o cinema apenas da produção. Temos de ter escolas, investimentos em equipamentos, profissionais com capacidade para responder à demanda do público que neste momento tem outras referências.”
Um exemplo da qualidade da produção do cinema cabo-verdiano, no entender do director do Oiá foi o feito de conseguir, em março deste ano, a distinção de Melhor Filme- Documentário Africano com “Omi Nobu” e as muitas conquistas de Samira Vera-Cruz com Sumara Maré, sendo o mais recente, agora em outubro, onde venceu o prémio de Melhor Curta Documentário no Festival Pan Africano de Londres. “São produções que acontecem através de iniciativas individuais, mas há necessidade de construir outros elementos para acompanhar tudo o que acontece à volta da produção de um filme.”
Ainda no que se refere a programação do Oiá, existe a possibilidade de levar o festival para outros concelhos, designadamente para Santo Antão, Santiago, Sal e Boa Vista. Tambla destacou ainda em um festival itinerante, que deverá acontecer nos próximos meses até junho de 2024. “O Oiá 2023 deverá servir de antecâmara para a edição 2024, que vai homenagear Amílcar Cabral.”
O festival Oiá, para além de Cabo Verde, é hoje uma referência no continente africano, para a diáspora e para outros cineastas que recorrem à organização para solicitar apoio na seleção de filmes nacionais para participar de festivais ou indicação para premiação. A prova disso foi a presença, na edição 2022, de um jornalista da Africiné. O desafio agora é fazer uma formação para jornalistas na área de cinema.